Conheça o peixe que provoca efeitos alucinógenos por até três dias em quem o consome
O peixe, assim como a alga que ele come, são comumente encontrados nas águas do Mar Mediterrâneo e na costa atlântica da ÁfricaO peixe conhecido como salema, de nome científico Sarpa salpa é, de acordo com o Aquário de Barcelona, o único animal que se alimenta da popularmente conhecida “alga assassina” (Caulerpa taxifolia), que possui uma substância tóxica chamada caulerpina, e provoca efeitos alucinógenos por até três dias.
Nas diferentes fases da vida, o peixe salema varia os próprios hábitos alimentares. Quando filhote, alimenta-se principalmente de plâncton e, somente na fase adulta, passa a incluir a Caulerpa Caulerpa''' é um género de algas marinhas da família Caulerpaceae da divisão Chlorophyta (algas verdes). Como consistem em uma única célula com vários núcleos, acredita-se que se trate das maiores células do mundo. , que tem a substância tóxica na dieta.
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Essa alga é comum na região mediterrânea e na costa atlântica da África, e outros animais não toleram a toxina contida nela. Por isso, ainda não há registros da presença dela na dieta de qualquer outro animal senão no peixe salema.
Por que salema tem essa toxina no organismo
Ao O POVO, a bióloga marinha e doutora em ciências pesqueiras Sandra Beltran-Pedreros, diz que quando o peixe ingere essa alga, o componente é digerido pelo animal e, a partir daí, as substâncias são absorvidas pelo organismo e se fixam nos tecidos do salema, como órgãos e músculos, sendo esse um processo chamado de Bioacumulação Bioacumulação é um conceito que está relacionado com a ingestão e (in)capacidade de eliminação de substâncias químicas em seres vivos, o que leva à sua acumulação gradual ao longo do tempo .
Dessa maneira, os animais que tentam consumir o peixe, se não tiverem um sistema digestório resistente, são infectados com a substância tóxica presente no animal.
Quais os efeitos que a toxina pode causa no ser humano
Beltran-Pedreros explica também o que pode ocorrer quando uma pessoa ingere salema. Segundo a bióloga marinha, o peixe “come a alga, tem tolerância à toxina, bioacumula essa substância no organismo e, quando é consumido pelo ser humano, traz um risco alto à saúde”.
Ela destaca que os efeitos provocados pela toxina podem variar de acordo com o indivíduo que a consome.
A maioria dos relatos descreve delírios e alucinações, porém, em casos mais graves, podem surgir sintomas como náuseas, vômitos, febre e fraqueza. Segundo ela, a duração dos sintomas pode variar de minutos a horas, e até mesmo persistir por até três dias, dependendo da gravidade do quadro.
“Cada indivíduo tem níveis diferentes de tolerância a qualquer tipo de substância”, afirma a bióloga. Ela exemplifica ainda que “uma pessoa que faz uso de entorpecentes pode não sentir nada, enquanto alguém que tem sensibilidade maior à caulerpina pode ter um quadro grave, que vai além das alucinações”.
Crianças, grávidas, idosos e pessoas com doenças que afetam o sistema imunológico, segundo Beltran-Pedreros, são mais suscetíveis ao desenvolvimento de quadros mais graves a partir da ingestão da Sarpa salpa.
O modo de preparo do peixe altera os efeitos após o consumo?
O modo como a salema é preparada, de acordo com a especialista, não interfere na manifestação dos efeitos da caulerpina presente no peixe, deixando00-os atenuados por exemplo. “Ainda que se ferva ou asse o peixe, submetendo a altas temperaturas, a toxina continuará nos tecidos da Sarpa salpa”, explica.
O que pode diminuir a quantidade de toxina no prato preparado com salema, conforme observa a bióloga, é a remoção das vísceras do animal, já que o esperado é que haja maior concentração da substância nos tecidos dos órgãos do sistema digestivo do peixe, como estômago, intestino e fígado.
Ela lembra ainda que o tamanho do peixe também é um fator que implica nos níveis de toxina presente no organismo do animal. Quanto maior for a salema, maior será a quantidade de caulerpina bioacumulada.
A bioacumulação de outras substâncias em peixes
A especialista estabelece um paralelo entre o caso da salema, que acumula a caulerpina ao longo de sua vida, e a situação de outros peixes, que podem acumular outras substâncias, como metais pesados.
Por exemplo, o mercúrio, de acordo com Beltran-Pedreros, "tem a característica de facilmente passar da forma inorgânica para a orgânica”. Dessa forma, os peixes contaminados por esse metal acabam acumulando-o em seus tecidos, representando um risco à saúde humana quando consumidos.
Ela ressalta que “antes da distribuição e da venda desses alimentos ser iniciada, eles devem passar por baterias de análises profundas, para saber em que condições eles se encontram, e não somente ver se estão frescos ou não”.