Irmãos fogem de casa, se perdem e conseguem voltar 13 anos depois
As crianças, com 11 e 7 anos de idade, fugiram de casa na Índia após a mãe ter batido em um deles e queriam ir para a casa da avó. Reencontro aconteceu com ajuda de ativista
11:41 | Mar. 06, 2024
Dois irmãos fugiram de casa na Índia, em 2010, após a mãe bater em um deles. Os dois, a menina Rakhi, de 11 anos, e o menino Bablu, de sete, tinham o plano de ir para a casa dos avós maternos, que moravam perto, mas se perderam no caminho.
Os dois cresceram em orfanatos diferentes e só vieram reencontrar a família após 13 anos, com a ajuda de um ativista dos direitos da criança.
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Irmãos fogem de casa e voltam depois de 13 anos: o desencontro
Bablu e Rakhi moravam na cidade de Agra, no norte do país, com os pais Neetu Kumari e Santosh.
Um dia, Neetu chegou frustrada em casa e descontou na filha Rakhi, batendo na menina. A criança chateada chamou seu irmão e propôs que eles fugissem para casa dos avós maternos depois que a mãe saísse para resolver algo.
“Meu pai também me batia, às vezes, se eu não estudasse direito. Então, quando Rakhi veio até mim e disse: 'Vamos morar com a vovó, eu concordei'”, disse o irmão à BBC.
As crianças se perderam no caminho, foram parar em uma estação ferroviária e embarcaram em um trem. Uma mulher os encontrou e quando eles chegaram em Meerut, cidade a cerca de 250 quilômetros de onde moravam, os entregou para a polícia.
“Dissemos a eles que queríamos ir para casa, tentamos contar a eles sobre os nossos pais, mas nem a polícia, nem os responsáveis do orfanato procuraram nossa família”, contou Bablu.
Após um ano juntos, os irmãos foram separados e mandados para orfanatos diferentes.
Irmãos só voltaram a se falar depois de 6 anos
Bablu nunca desistiu de tentar se conectar novamente com a irmã. Toda vez que alguma autoridade ia no orfanato em que estava, ele falava sobre Rakhi e pedia ajuda.
Foi só em 2017, seis anos após terem sidos separados, que deu certo. Uma das novas cuidadoras ajudou a localizar a irmã mais velha com as poucas informações que o garoto lembrava.
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“Ela ligou para todos os orfanatos em Noida e Grande Noida (subúrbios de Déli), perguntando se havia alguém chamado Rakhi. Depois de muito esforço, ela a encontrou”, lembrou Bablu. “Quero dizer ao governo que é muito cruel separar irmãos. Irmãos e irmãs deveriam ser colocados em centros próximos uns dos outros. Não é justo separá-los”, protestou.
Os irmãos conseguiram se falar pelo telefone, mas não tiveram logo o reencontro pessoalmente.
Irmãos fogem e voltam 13 anos depois: vidas de cada um longe de casa
Bablu morou em mais de um orfanato e recorda que, em um deles, sofreu agressão física dos garotos mais velhos. O jovem tentou fugir duas vezes, mas sempre voltava por medo.
Já a Rakhi disse que foi bem tratada no local onde morou. “Acredito que tudo o que acontece é sempre para o bem, e talvez eu tenha tido uma vida melhor longe de casa”, refletiu.
"Eu não pertencia a eles, mas ainda assim eles cuidavam de mim muito bem. Ninguém nunca me bateu, e fui bem tratada. Frequentei uma boa escola, tive acesso a bons serviços de saúde e a todos os outros recursos que vêm com a proximidade de uma cidade grande", concluiu.
Reencontro com a mãe ocorreu devido a ativista
Bablu, depois de reencontrar a irmã, manteve as esperanças de encontrar a mãe. Já Rakhi não tinha tanta certeza. “Treze anos não é pouco tempo, e eu tinha poucas esperanças de que conseguiríamos encontrar a mamãe”, explicou a mais velha.
Em dezembro de 2023, Bablu ligou para o ativista dos direitos da criança Naresh Paras e pediu ajuda para reencontrar a família.
O processo foi difícil, pois os irmãos não se lembravam do nome do pai e os registros deles tinham nomes diferentes. Além disso, não recordavam de qual estado eram.
O ativista só começou a ter progressos quando Bablu disse que viu uma réplica de locomotiva do lado externo da estação que haviam embarcado em 2010.
Paras sabia que se tratava da estação de Agro Cantonment e começou a investigar na região de Jadish Pura, em que o pai dos irmãos tinha feito queixa do desaparecimento na delegacia do lugar.
Bablu também lembrou que o nome da mãe era Neetu e que tinha uma queimadura no pescoço. Porém, quando o ativista teve acesso a casa dos pais dos jovens, descobriu que os dois tinham se mudado.
Foi em um ponto de trabalhadores informais em Agra que Naresh teve acesso a informações de Neetu por meio de pessoas do local que a conheciam. A mãe foi contatada e logo foi atrás da polícia para falar com Paras e reencontrar os filhos.
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O reencontro foi emocionante e todos se reconheceram. Neetu compartilhou com Paras as várias tentativas falhas de encontrar os filhos e disse que se arrependeu de ter batido na filha.
“Peguei dinheiro emprestado e viajei para Patna [capital do Estado de Bihar] depois de ouvir que meus filhos haviam sido vistos pedindo dinheiro nas ruas de lá. Visitei templos, mesquitas, gurdwaras (templos sikh) e igrejas para rezar por seu retorno seguro”, disse a mãe para Naresh.
Ela também compartilhou que havia nascido de novo com o reencontro. Já o filho mais novo apresentava um sentimento de alegria e, ao mesmo tempo, frustração.
"É incrível que Paras tenha levado apenas uma semana para encontrar minha família. Fiquei com raiva da polícia e dos funcionários da ONG que não me ajudaram, apesar dos repetidos pedidos, mas fiquei muito feliz em conversar com a minha mãe", relatou. "Ela estava chorando, perguntando 'por que você me deixou?'. Eu disse a ela: 'Nunca teria deixado você. Eu me perdi'."
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