Veneno de aranha brasileira vira esperança contra câncer; entenda
O veneno de uma aranha brasileira foi usado como inspiração para pesquisa sobre métodos para tratar o câncer. Estudo é apontado como promissor
07:00 | Fev. 24, 2024
O veneno da aranha brasileira Vitalius wacketi, que habita o litoral paulista, foi usado como inspiração para uma pesquisa que busca formas de tratar o câncer. Assim, o bicho se tornou uma esperança no meio científico.
O estudo do veneno da aranha já acontece há mais de duas décadas e é feito por cientistas do Hospital Israelita Albert Einstein e do Instituto Butantan, em São Paulo.
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Veneno de aranha contra o câncer: estudo promissor
As possíveis formas de tratar o câncer não são derivadas diretamente do veneno do animal. As moléculas foram isoladas, purificadas e sintetizadas em laboratório.
As partículas foram usadas em testes e se mostraram favoráveis contra a leucemia — e melhores em diversos pontos, se comparadas com outros tratamentos oncológicos.
No entanto, a pesquisa ainda necessita de muitos experimentos para observar a eficiência, principalmente em seres humanos. Os pesquisadores já conversam com empresas farmacêuticas para receber o incentivo financeiro e seguir com o estudo.
Veneno de aranha contra o câncer: o início das pesquisas
A BBC News Brasil entrevistou os pesquisadores responsáveis pela pesquisa do veneno da aranha.
O bioquímico Thomaz Rocha e Silva conta que, quando estava terminando sua faculdade, no início dos anos 2000, resolveu averiguar as possíveis atividades farmacológicas encontradas no veneno das aranha do gênero Vitalius.
"Encontramos no veneno uma atividade neuromuscular. Fomos atrás da toxina responsável por esse efeito, que era uma poliamina grande e instável", disse à BBC.
O estudo foi publicado, mas, como a molécula do veneno não despertou o interesse comercial imediato, foi deixado de lado.
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Anos depois, os cientistas decidiram estudar as toxinas encontradas nas aranhas Vitalius e observaram uma “poliamina pequena e com uma atividade bastante interessante” na espécie Vitalius wacketi, segundo o bioquímico.
Rocha e Silva isolou e purificou a molécula. Já o biólogo Pedro Ismael da Silva Junior fez uma versão química idêntica à molécula, sem necessariamente precisar extrair direto da aranha.
Com isso, a substância começou a passar por testes. Foi observado que, quando colocada com células cancerosas, ela causou a morte delas por um processo chamado apoptose — diferente da necrose, que acontece nos tratamentos tradicionais oncológicos.
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"Quando ocorre a necrose, a célula sofre um colapso, o que gera uma reação inflamatória com efeitos no organismo. Já a apoptose, ou a morte programada das células, é um processo muito mais limpo. É como se as células implodissem de forma controlada", afirma Rocha e Silva.
Na apoptose, não há tantos impactos no sistema imunológico, nos órgãos e nos tecidos.
A mólecula feita a partir do veneno da aranha também é sintética, o que facilita a produção. “Ela possui algumas características físico-químicas que facilitam a permanência no sangue e, depois, a excreção com facilidade pelos rins", explica o bioquímico.
Veneno de aranha contra o câncer: busca de parceria
Cristiano Gonçalves, gerente de Inovação do Butantan, diz que estão em busca de parceiros para licenciar e seguir frente com as pesquisas.
"Nem o Einstein, nem o Butantan, têm capacidade de produção da molécula, mesmo que seja para gerar o material necessário para os testes clínicos de fase 1. Estamos em contato com parceiros para desenvolvermos juntos essa tecnologia", afirma Gonçalves.
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