Salvador celebra Senhor do Bonfim; entenda tradição das fitinhas

Um dos costumes da celebração na capital baiana é a Fita do Bonfim , que é utilizada para realizar desejos. Confira mais sobre o adereço

16:00 | Jan. 11, 2024

Por: Évila Silveira
Inicialmente confeccionadas em seda, algodão e acetato, as fitinhas do Bonfim passaram por uma evolução ao longo de mais de 200 anos (foto: Pexels/Michelle Guimarães)

No aniversário de 270 anos de fundação da Basílica de Nosso Senhor do Bonfim que acontece no decorrer desta semana, muitos fiéis vão às ruas rezar e festejar.

O principal dia do festejo é nesta quinta, 11, e é conhecida como “Lavagem do Bonfim". A comemoração é considerada a festa de maior participação popular em Salvador, depois do Carnaval.

Um dos costumes da celebração é a tradicional “Fita do Bonfim”, que é utilizada para realizar desejos. Símbolo da capital baiana, as fitinhas coloridas do Senhor do Bonfim decoram os braços de grande parte dos turistas que passam por lá.

Segundo a tradição, a fita deve ser colocada no braço esquerdo e amarrada com três nós, sendo feito um pedido a cada nó. Acredita-se que os desejos se realizarão se a fita se romper naturalmente com o uso.

Além de ser usada no corpo, as fitas são colocadas em diversas outras áreas, como nas grades da Igreja do Bonfim, no carro e em diferentes cômodos da casa.

Senhor do Bonfim: história das fitinhas

A fita do Senhor do Bonfim teve sua origem na Bahia em 1809, sendo atribuída a Manuel Antônio da Silva Serva, com o objetivo de arrecadar dinheiro para a igreja. No entanto, peças semelhantes já circulavam na Europa na Idade Média e eram usadas como objeto de cura por rezadores.

Inicialmente denominada "medida do Senhor do Bonfim", ela possuía 47 cm de comprimento. A medida se dava por conta do tamanho do braço direito da imagem de Jesus Cristo na Igreja.

Ela era utilizada como colar para pendurar medalhas e santinhos, sendo especialmente popular entre as pessoas de alto poder aquisitivo na sociedade baiana da época, segundo o livro "A Devoção do Senhor Jesus do Bon-fim e sua História" (1923).

Ao longo dos anos, especialmente a partir da década de 1950, a produção e distribuição da fita passaram por modificações, tornando-se mais acessíveis e populares. A fita do Senhor tornou-se então um símbolo significativo da identidade da cidade.

Fitinhas do Bonfim: tradição em outras regiões

As fitinhas do Bonfim representam uma das características distintivas da Bahia. Seja adornando pulsos ou amarradas nos gradis das igrejas, essas fitas carregam consigo a tradição de conceder três desejos quando são rompidas, e podem ser encontradas por toda a cidade e até mesmo em outras regiões.

Em Juazeiro do Norte, por exemplo, fiéis de toda parte amarram as fitinhas realizando desejos e fazendo promessas em memória ao Padre Cícero.

Fitinhas incineradas em 2023

Buscando abrir espaço para novas fitinhas, a celebração em Salvador incinerou fitinhas e pedidos escritos em 2023 durante uma cerimônia religiosa.

A missa contou com a presença dos fiéis do Santuário de Santa Dulce dos Pobres, marcando o encerramento das celebrações do dia.

Senhor do Bonfim

A devoção ao Senhor do Bonfim foi introduzida no Brasil no século XVIII por um capitão português que tinha realizado uma promessa caso sobrevivesse a uma tempestade no mar.

Após a introdução do culto ao Senhor do Bonfim no Brasil, a devoção a ele ganhou considerável popularidade em Salvador. Ao longo do tempo, essa devoção foi enriquecida por novas tradições.

Embora o padroeiro oficial de Salvador seja São Francisco Xavier, o Senhor do Bonfim é reconhecido como o padroeiro não oficial da cidade.

A disseminação da devoção ao Senhor do Bonfim é resultado também de seu sincretismo com Oxalá. A fusão do santo católico com o orixá atraiu seguidores tanto da Igreja Católica quanto do candomblé, que passaram a celebrá-lo de maneira festiva.