São Francisco de Assis: conheça a história do santo protetor dos animais

O filho de comerciantes vivia como os jovens ricos de fins do século 12. Com o passar da vida, o fundador da ordem dos franciscanos se voltou à vida humilde e ao cuidado dos animais

10:55 | Out. 04, 2023

Por: Marcela Tosi
São Francisco de Assis, santo que é lembrado pela Igreja Católica no dia 4 de outubro (foto: Reprodução/ Wikimedia Commons)

Reconhecido hoje pela imagem de um frade em roupa marrom, uma corda amarrada na cintura, sandálias simples de couro e corte de cabelo com o topo da cabeça à mostra, as origens de São Francisco de Assis o mostram bem diferente do símbolo de humildade, benevolência e caridade.

Francisco de Assis foi responsável pela fundação da Ordem dos Franciscanos e é conhecido por sua devoção à natureza, amor pelos animais e compromisso com a humildade e a compaixão

Conheça um pouco mais sobre a história do santo celebrado em 4 de outubro, o dia seguinte à sua morte.

De Giovanni para Francisco

Nascido em 1181 ou 1182 na cidade de Assis, atual Itália, ele foi batizado como Giovanni di Pietro di Bernardone e era filho de uma família relativamente bem-sucedida.

Seu pai, Pietro di Bernardone dei Moriconi, era um comerciante têxtil que tinha bom tráfego entre a burguesia estabelecida na época. Sua mãe, Pica Bourlemont, era uma mulher de raízes francesas.

Não há consenso sobre o seu apelido Francisco. Provavelmente, era uma referência à França. Para alguns biógrafos, porque desde pequeno o menino tinha encantamento pelo idioma e pela cultura francesa. Para outros, seria uma homenagem da família aos parentes franceses.

O que parece não haver dúvidas é que se trata de um nome que foi assumido antes da vida religiosa — ou seja, desde a tenra juventude Giovanni já era chamado de Francesco, em português Francisco, pelos seus amigos.

Francisco de Assis: do luxo à pobreza

A Itália, como toda a Europa daquela época, vivia uma fase bastante conflitiva de sua história, marcada pela passagem do sistema feudal (baseado na servidão e nas relações desiguais entre vassalos e suseranos) para o sistema burguês, com o surgimento das comunas livres (pequenas cidades). Batalhas entre os senhores feudais e as emergentes comunas eram frequentes.

Também havia choques entre o Imperador, como a força civil do Sacro Império, e o Papa, como chefe espiritual. A cidade de Assis, por sua posição geográfica no entroncamento Alemanha-Roma e por sua importância comercial, trocava constantemente de “dono”.

Como um jovem ambicioso de sua época, Francisco desejava conquistar fortuna, fama e um título de nobreza. Para tal, fazia-se necessário tornar-se herói em uma dessas batalhas. No ano de 1201, incentivado por seu pai, Francisco partiu.

Durante os combates, ele caiu prisioneiro, sendo levado para a prisão de Perúgia, onde ficou por um ano. O sofrimento da prisão, somado ao enfraquecimento causado pela doença, provocou mudanças no jovem Francisco. No livro “Francisco”, o autor Gianmaria Polidoro (Editora Vozes) lembra que entre 1202 e 1205 encontramos um Francisco inquieto.

Ele queria combater em Espoleto, entre Assis e Roma, mas adoeceu. Durante a enfermidade, Francisco ouviu uma voz sobrenatural, pedindo para ele “servir ao amor e ao Servo”.

São Francisco de Assis e a renúncia aos bens materiais

Em um momento em que rezava sozinho na Igreja de São Damião, em Assis, Francisco sentiu que o crucifixo "falava" com ele, repetindo por três vezes a frase que ficou famosa: “Francisco, repara minha casa, pois olhas que está em ruínas”.

O santo então vendeu tudo o que tinha e levou o dinheiro ao padre da Igreja de São Damião, e pediu permissão para viver com ele. Francisco tinha 25 anos.

Pedro Bernardone, ao saber o que o filho tinha feito, foi buscá-lo indignado e acorrentou-o pelos pés. Na ausência do marido, Pica libertou o filho e o jovem retornou a São Damião.

O pai foi de novo buscá-lo. Mandou que ele voltasse para casa ou que renunciasse à herança. Francisco então abriu mão: “As roupas que levo pertencem também a meu pai, tenho que devolvê-las”, teria dito. Em seguida, tirou as roupas que vestia e entregou ao pai — dando lugar às suas típicas vestes marrons. 

Morte e canonização de Francisco de Assis

Francisco viveu pouco, cerca de 44 anos. Ele morreu em 1226. Em 1228, pouco menos de dois anos após a morte, foi canonizado.

A morte de São Francisco de Assis também é lembrada todos os anos. Transitus, que significa “passagem” em latim, é uma celebração noturna de 3 de outubro em que os franciscanos marcam o falecimento do fundador de sua ordem.

Padroeiro dos animais e da natureza

Em carta apostólica publicada em novembro de 1999, o papa João Paulo 2º. (1920-2005) proclamou São Francisco como "o celestre padroeiro dos cultores da ecologia".

"São Francisco faz um movimento muito forte de integração. Ele abre a ideia de sermos irmãos de toda a criação", explica Guimarães. "Um caminho intenso de ser fraterno. Por isso ele é o santo das relações saudáveis e integradas, convidando-nos a um reajuste nas diversas relações com a sociedade, buscando uma vida com o próximo, com Deus e com toda a criação."

Os escritos do protetor dos animais

Francisco de Assis deixou escritos de punho próprio. Sua obra mais conhecida é o "Cântico das Criaturas". O texto foi composto originalmente no dialeto da região da Úmbria e é apontado como um dos primeiros registros escritos no idioma italiano.

Com isso. Francisco é considerado por muito teóricos como o primeiro poeta italiano. O reconhecimento vem também do maior poeta da língua italiana, Dante Alighieri (1265-1321). O escritor dedicou a São Francisco todo o cântico 11 reservado ao paraíso de sua obra-prima, "A Divina Comédia".

Confira a oração de São Francisco de Assis

Senhor,

Fazei de mim um instrumento de vossa Paz.

Onde houver Ódio, que eu leve o Amor.

Onde houver Ofensa, que eu leve o Perdão.

Onde houver Discórdia, que eu leve a União.

Onde houver Dúvida, que eu leve a Fé.

Onde houver Erro, que eu leve a Verdade.

Onde houver Desespero, que eu leve a Esperança.

Onde houver Tristeza, que eu leve a Alegria.

Onde houver Trevas, que eu leve a Luz!

 

Ó Mestre, fazei que eu procure mais:

consolar, que ser consolado;

compreender, que ser compreendido;

amar, que ser amado.

Pois é dando, que se recebe.

Perdoando, que se é perdoado e é morrendo, que se vive para a vida eterna!

 

Amém!