11 de setembro chileno: entenda o que aconteceu em 1973

Além dos atentados nos Estados Unidos, o 11 de setembro também marca o golpe militar de Augusto Pinochet no Chile. Na data, Salvador Allende foi retirado do poder e teve início uma ditadura

12:56 | Set. 11, 2023

Por: Mariana Fernandes
Chile – 50 anos do Golpe - População comemora a vitória do NO para permanência da ditadura – Foto: Biblioteca Nacional de Chile (foto: Biblioteca Nacional de Chile)

A data 11 de setembro é bastante lembrada pelo atentado às Torres Gêmeas, em Nova York, nos Estados Unidos. Entretanto, na América Latina, a data também tem sua importância histórica e marca o Golpe Militar no Chile, em 1973.

Há exatos 50 anos, o general Augusto Pinochet tomou o poder e instalou um regime militar que executou 3.200 pessoas em 17 anos. Nessa época, o Brasil já vivia há nove anos em uma ditadura.

Em agosto de 2023, o atual presidente do Chile, Gabriel Boric, apresentou o Plano Nacional de Busca da Verdade e Justiça para esclarecer as circunstâncias de desaparecimento ou morte das vítimas da ditadura. 

11 de setembro: o que aconteceu no Chile em 1973?

O Exército chileno iniciou o golpe militar com a aprovação de Pinochet. Às 7h30min o então presidente, Salvador Allende, foi ao Palácio de La Moneda assim que soube do levante. Cerca de 45 minutos depois, iniciou-se o ataque terrestre.

Ao meio-dia, aviões da Força Aérea Chilena bombardearam o palácio, que foi destruído em minutos. Allende foi encontrado morto nos destroços, junto com a arma com a qual se suicidou.

A ditadura militar chilena durou até 1990. Nesse ano, Patricio Aylwin venceu as primeiras eleições democráticas no país desde a vitória de Allende e recebeu a faixa presidencial do próprio Pinochet.

Causas do golpe de 11 de setembro no Chile

O governo socialista de Salvador Allende foi eleito democraticamente em 1970 e três anos depois o país passava por uma profunda crise política e econômica.

Allende realizou nacionalizações generalizadas e reformas consideradas radicais que não agradaram a muitos chilenos e observadores internacionais. Um ano antes do golpe, já havia rumores circulando e faltavam bens de primeira necessidade para a população.

“Em meio a um contexto em que ainda prevalecia a política da Guerra Fria, o governo norte-americano decidiu usar todas as armas necessárias com o objetivo final de derrubar o governo chileno”, afirma o Memoria Chilena, centro de recursos digitais do Chile.

Em junho de 1973, ocorreu a primeira tentativa de golpe de Estado no Chile. A ação foi reprimida com a ajuda do próprio general Augusto Pinochet, que ocupava o cargo de comandante-chefe interino do Exército.

Em 23 de agosto de 1973, Pinochet foi promovido ao cargo de comandante-chefe por recomendação que ele mesmo fez ao presidente Allende.

O que os chilenos pensam sobre o 11 de setembro?

O Chile passa por um momento em que a memória de Augusto Pinochet tem um legado complicado. Pesquisas feitas no país revelam que cada vez mais pessoas defendem um governo menos preocupado com os direitos humanos.

Uma pesquisa da Universidad de Los Lagos, publicada em janeiro deste ano, indicou que 36% dos chilenos acreditam que os militares "libertaram" o Chile do marxismo quando depuseram o presidente Salvador Allende.

Na mesma pesquisa, 42% dos chilenos disseram que o golpe destruiu a democracia, o menor índice desde 1995.

11 de setembro do Chile: o que resta 50 anos depois

O Chile viveu um clima tenso nos dias que antecederam o marco dos 50 anos do golpe militar. No Congresso, em uma sessão realizada em agosto, a direita e a ultradireita saíram em apoio à declaração parlamentar de cinco décadas atrás, que acusou Allende de romper a ordem constitucional – poucos dias antes da sua deposição e morte.

“Isso explica por que demoramos tanto no Chile a acertar nossas contas com o passado”, afirma Hugo Rojas, doutor em sociologia da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e professor de Direitos Humanos da Universidade Alberto Hurtado, em Santiago do Chile.

Na ocasião dos 40 anos do golpe, em 2013, Rojas explica que surgiu muito material e investigações sobre o assunto. Mas, para ele, a tendência não é a mesma em 2023: “Agora, estamos congelados. Estamos caminhando na ponta dos pés.”