Skiplagging: conheça truque polêmico que barateia passagens aéreas
Na prática, a escala do bilhete se transforma no destino e os passageiros aproveitam para pagar menos; saiba como isso acontece
23:52 | Ago. 25, 2023
Um jovem da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, foi banido por três anos pela companhia aérea American Airlines em julho de 2023. O motivo? “Skiplagging”, uma prática conhecida por escolher voos com escalas ou conexões, mas desembarcar antes do destino final.
No caso do estadunidense, de 17 anos, a detenção aconteceu antes que ele embarcasse. Os funcionários do aeroporto questionaram o seu voo para Nova York, com escala em Charlotte, Carolina do Norte, onde o jovem realmente planejava o seu desembarque.
Aos praticantes, não completar a viagem inteira, mas ainda chegar ao destino desejado e pagar menos pela passagem, é um dos pontos que torna o skiplagging desejável. Essa opinião, por outro lado, não é compartilhada pelas companhias aéreas.
Saiba o que é skiplagging, os seus dilemas éticos e as repercussões legais da prática.
O que é skiplagging?
O termo skiplagging não possui uma tradução direta ao português, mas pode ser conhecido também como “destino omitido” ou “passagem para cidade oculta”. Na prática, o passageiro paga por um bilhete mais barato para um lugar, só que o verdadeiro destino fica na escala.
Os voos com conexões podem apresentar menos demandas do que uma passagem direta, o que influencia na diminuição de seu preço. Mas a escolha é censurada pelas companhias aéreas e aparece como proibida em alguns contratos nos Estados Unidos.
Skiplagging é crime?
Não existe uma legislação específica que condene o skiplagging ou proíba que o passageiro desça durante a conexão. Contudo, a “brecha” não é aprovada pelas companhias aéreas e pode prejudicar outros passageiros.
“Os praticantes de skiplagging geralmente optam por embarcar somente com a bagagem de mão”, indica a consultora Sônia Maia, da agência de viagens Terratur.
“Mas ao abandonar o voo numa primeira parada (escala), não vai bater a contagem numa eventual segunda parada, alterando assim a operação de terra”, completa.
A profissional afirma que quando as portas são fechadas no trecho de origem existe um procedimento de segurança, onde se concilia pax com bagagem. No caso dos passageiros que optam pelo skiplagging, isso é evitado por meio da bagagem de mão.
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Skiplagging: quais os riscos?
“Com relação aos riscos para o próprio passageiro, é subjetivo”, começa Sônia. A consultora aponta que a função da companhia aérea é emitir o cartão de embarque até o destino final.
“Ao emitir a compra de uma passagem, todos os termos de segurança, direitos e deveres do passageiro estão especificados. Inclusive, a primeira informação é o horário e local de decolagem e pouso”, explica.
O passageiro também precisa ficar alerta para gastos inesperados, caso a sua relação com o skiplagging fique explicitamente comprovada. No exemplo do adolescente norte-americano, o pai do jovem ficou responsável por ressarcir o valor do destino original.
Skiplagging: O que a empresa aérea pode fazer caso descubra?
Nos Estados Unidos, os impactos da prática foram destacados no portal do programa Good Morning America. O entrevistado, o analista do setor aéreo Henry Harteveldt, afirma que se as companhias capturarem viajantes envolvidos, é possível “eliminar contas de passageiros frequentes, cancelar reservas de regresso ou cobrar-lhes mais dinheiro”.
A companhia aérea Delta, por exemplo, declara abertamente em seu Contrato de Transporte que proíbe a execução de “destinos escondidos” (Hidden City/Point Beyond Ticketing, no original).
Skiplagging: viajantes comentam sobre o assunto
O casal Luís Antônio Caetano e Carolina Taketomi, viajantes conhecidos por apresentarem dicas de viagens e afins no perfil @setufor.euvou (Instagram), experienciou o skiplagging pela primeira vez durante um voo de Manaus para Fortaleza.
“Acabou alterando e o novo voo ficou Manaus para Fortaleza com conexão em Campinas. O nosso roteiro de viagem mudou e precisaríamos estar em SP (São Paulo) nessa data, então acabou que casou perfeitamente descer em Campinas”, explicam.
Sobre as preocupações com a prática, os dois elencam a possibilidade do passageiro ser processado ou banido de uma companhia aérea, mas frisam que o skiplagging não é ilegal.
“Eu estou pagando o trecho completo, se eu resolvo descer no meio do caminho, qual será o prejuízo da companhia, uma vez que aquele assento já está pago até o destino final?”, argumentam Caetano e Taketomi.
A justificativa principal entre os viajantes conhecidos pelo casal é a economia do passageiro. “Nós não estamos burlando nenhum sistema ou fazendo algo ilegal, pois o trecho completo foi pago integralmente”, reforçam.
Skiplagged x United Airlines: processo contra site
Ao acessar a agência de viagens online Skiplagged, o potencial passageiro nota uma mensagem no início do site — “os nossos voos são tão baratos, que a United nos processou... mas ganhamos”.
O espaço virtual se autodescreve como “um mecanismo de busca de passagens aéreas para voos baratos, mostrando viagens com passagens em cidades escondidas”. Em 2014, a empresa foi processada pela companhia aérea United Airlines.
O juiz John Robert Blakey, do Tribunal Distrital do Norte de Illinois, declarou não ter jurisdição sobre o caso, pois o fundador do site, Aktarer Zaman, na época com 22 anos, não morava ou trabalhava na área.