Dia do Folclore: quais as histórias das figuras que marcam a cultura brasileira?

Já ouviu falar do Boto, do Curupira e da Cuca? E então do Fogo-Fátuo, do Isquelê, do Mapinguari e dos Zaoris? Todos eles são parte do folclore brasileiro; conheça suas histórias

Falar de folclore brasileiro é trazer à mente figuras como Saci Pererê, Iara, Lobisomem, Boto Cor-de-rosa, Cuca, Curupira. Além das personagens mais conhecidas e lembradas em quase todo o País, existem inúmeras figuras que representam as formas brasileiras de lidar com o cotidiano e com o desconhecido.

O resgate desse conhecimento popular e majoritariamente oral é encontrado no livro "Abecedário de Personagens do Folclore Brasileiro", escrito por Januária Cristina Alves e publicado pelas Edições Sesc São Paulo em 2017. A enciclopédia traz 141 personagens que povoam o imaginário popular do brasileiro.

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De acordo com a escritora, muitos deles tinham apenas o registro descritivo. No livro, cada personagem é apresentada em forma de verbete ilustrado. O artista Cezar Berje assina as ilustrações.

 

Dia do Folclore: a riqueza da cultura popular brasileira

"Nossas tradições foram, aos poucos, relegadas a segundo plano. São tradições que se sustentavam muito na oralidade, passavam de pai para filho, de avô para neto. Com a cultura digital, acabam passando batido as histórias que eram contadas em volta da fogueira, em família nos domingos. Essas coisas foram se perdendo", comenta Januária em entrevista à Rádio USP no ano do lançamento do livro.

A escritora aponta que "a gente acaba vendo esses personagens na escola e, mesmo assim, meia dúzia deles". "Compilei 141 (personagens) nesse livro, mas teria pelo menos o dobro disso para compilar tamanha a riqueza que a gente tem", diz.

Em quase três anos de pesquisa, Januária reuniu características físicas e psicológicas das personagens do folclore brasileiro, bem como sua origem e as narrativas em que aparece. "A gente está conversando de sentimentos básicos humanos. A gente fala de coisas que estão no inconsciente coletivo. Os mitos do folclore brasileiro falam dos brasileiros, do nosso jeito de ser, sentir, acolher", continua a escritura.

A seguir, O POVO reuniu alguma dessas histórias a partir do "Abecedário", confira:

Dia do Folclore: as histórias de personagens que você já ouviu falar

Boto

Característico da região Norte, o boto é um homem bonito e sedutor que, durante a noite, está sempre vestido de branco e com um chapéu na cabeça, pronto para seduzir as moças da região. Quando o dia amanhece, ele se transforma no boto cor-de-rosa.

Cuca

É uma bruxa que aparece de noite para levar consigo as crianças inquietas e insones. Como é uma bruxa, pode assumir várias formas: uma borboleta, uma coruja, aranha ou cobra.

A forma mais conhecida, que se popularizou aqui no Brasil por meio do "Sítio do Pica-pau Amarelo", obra de Monteiro Lobato, tem corpo assemelhado a um jacaré.

Curupira

Figura inconfundível do folclore no Brasil, o Curupira é um menino que tem os pés virados para trás. É o protetor das matas e das caças. É um grande regulador da natureza, pois não perdoa quem desrespeita as forças da natureza.

Chupa-Cabra

Tudo começou em Porto Rico, em março de 1995, quando apareceram em uma fazenda oito cabras mortas com diversas perfurações no tórax e esvaídas em sangue. Depois delas, o fenômeno se repetiu na Flórida (Estados Unidos), na Nicarágua, no Chile, no México e aqui no Brasil, envolvendo também a morte de bois e de vacas.

Em comum, todos os bichos tinham várias marcas no pescoço e seu sangue era inteiramente drenado (chupado). Não demorou muito e apareceram várias “testemunhas” que juravam ter visto o responsável pelas mortes, o tal Chupa-Cabra.

Para os mais céticos, a ciência tem uma explicação bem mais prosaica dos fenômenos que teriam matado os animais daquelas regiões: podem ter sido ataques de animais selvagens, como a onça-pintada e o puma, ou ainda cães ferozes. O aumento da temperatura e o prolongamento das secas sazonais também poderiam ter causado a migração desses bichos, que, em busca de mantimentos, atacavam os animais de curral, como cabras e bois.

Saci Pererê

A figura mais conhecida do Saci é a de um rapaz negro de uma perna só, que tem um gorro vermelho na cabeça e um cachimbo na boca. É o responsável pelas grandes traquinagens que conhecemos: desde azedar o leite, até amarrar as crinas dos cavalos com nós que não se desfazem.

Dia do Folclore: você conhece esses personagens do Brasil?

Fogo-Fátuo

Difícil encontrar alguém que nunca tenha ouvido falar do “fogo que se move”, corre daqui, corre de lá, voando como relâmpago, flutuando no céu de noite, parecendo morcego em forma de labaredas.

O Fogo-Fátuo só aparece à noite e seu local preferido são os cemitérios ou pântanos desertos e escuros. Dizem que vê-lo dá azar. E que ele também não gosta que as pessoas invadam seus territórios, por isso assustam os pescadores noturnos.

Algumas pessoas preferem acreditar que essa lenda possui um fundamento científico: trata-se de um fenômeno causado pela combustão espontânea do gás metano e da fosfina, presentes na decomposição de seres vivos (plantas e bichos) nos locais pantanosos.

Isquelê

É aquela assombração que todo mundo viu ou, pelo menos, acha que viu uma vez na vida: um monstro com forma humana que é só osso! Lá em Minas Gerais, na região do rio São Francisco, o povo o chama de Isquelê provavelmente para abreviar o seu nome verdadeiro: “esqueleto”.

Os habitantes dessa região dizem que ele só aparece mesmo, de verdade, nas encruzilhadas ou nos chamados “pontos de força”, onde há muita energia concentrada.

Outros ainda dizem que já viram o Isquelê com uma tocha acesa na cabeça de osso — até ouvem o ruído de seus ossos balançando e do fogo aumentando. Atribui-se ao suposto fenômeno a mesma explicação científica que se dá para o Fogo-Fátuo.

Mapinguari

Os seringueiros da Amazônia ajudaram a popularizar a lenda desse bicho imenso, parecido com o homem, coberto de pelos grossos (o que o torna imune a qualquer bala) e que tem uma armadura feita do casco da tartaruga. Há quem diga que sua pele é semelhante ao couro do jacaré.

A lenda do Mapinguari impressionou tanta gente que os cientistas tentaram descobrir se ele realmente existia. O paleontólogo argentino Florentino Ameghino (1854-1911) no final do século XIX levantou uma hipótese a respeito: os Mapinguaris seriam algumas preguiças gigantes que teriam sobrevivido no interior da floresta amazônica.

Já o ornitólogo estadunidense David Conway Oren, ex-coordenador de pesquisa no Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém, faz expedições em busca de provas da existência do Mapinguari, por mais de vinte anos, mas não conseguiu nenhum resultado conclusivo.

Papa-Figo

Terror das crianças pernambucanas, o Papa-Figo (de Papa-Fígado) é um homem velho que mata criancinhas para comer-lhes o fígado. É um velho, muito velho, que cheira a carne podre (pois dizem que ele tem lepra e que suas chagam fedem) e anda com um saco nas costas em busca de crianças malcriadas para raptar.

Dizem que gosta de agir no final da tarde, horário em que a criançada sai da escola, atraindo-as com brinquedos ou promessas de levá-las a um lugar bonito.

Zaoris

Todos os homens que nascem na sexta-feira da paixão são zaoris, aqueles que se parecem com homens comuns e têm olhos mágicos. Eles veem através dos corpos, terras ou montanhas.

Os zaoris conseguem localizar grandes tesouros escondidos, porém não podem ficar com as riquezas, tendo que fazer a boa ação de entregá-las a alguém.

Original da mitologia árabe, a história chegou ao Brasil pelos espanhóis, ganhando popularidade no Rio Grande do Sul.

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