Sem CGI? Como Nolan recriou a explosão da bomba atômica em Oppenheimer
No filme lançado semana passada, foi mostrado o primeiro teste da bomba atômica, que dias depois foi lançada no Japão. Saiba como foi feita a explosão no filme
11:10 | Jul. 27, 2023
O filme Oppenheimer foi lançado nos cinemas e conta a história do criador da bomba atômica, J. Robert Oppenheimer, e o Projeto Manhattan. Um dos momentos mais impactantes é o teste Trinity, o primeiro teste da bomba, que ocorreu no Novo México, Estados Unidos. Mas como a explosão da bomba atômica foi recriada no filme?
Em entrevista para a Entertainment Weekly, o diretor Christopher Nolan explica como recriou a primeira explosão da bomba atômica.
Nolan conta que, assim que o roteiro estava pronto, procurou o supervisor de efeitos visuais, Andrew Jackson, para saber se metodologias reais poderiam ser usadas para produzir o efeito da primeira explosão atômica.
Além da explosão ter sido criada sem CGI (imagem de computação gráfica, do inglês Computer-Generated Imagery), a designer de produção, Ruth De Jong, e o supervisor de efeitos especiais, Scott Fisher, construíram uma bomba física, uma completa recriação da bomba de 1945.
“Conseguimos construir a tensão até a detonação, mostrando esse processo pelo qual eles passaram”, completa Nolan.
As filmagens ocorreram também no Novo México, na cidade de Belen, a noroeste do local do teste real.
Oppenheimer: Nolan explica porque não usou CGI na explosão da bomba
Christopher Nolan explicou ao Collider a lógica por trás da decisão de não usar CGI em Oppenheimer e como eles conseguiram alcançar alguns dos impressionantes recursos técnicos e visuais do filme.
"Uma das primeiras pessoas a quem mostrei o roteiro foi meu supervisor de efeitos visuais, Andrew Jackson. Ele é muito versado em CGI, mas também é muito versado em efeitos práticos e entende o valor disso", disse.
A maneira como as imagens geradas por computador podem ser usadas na produção de filmes parece ter sido o foco principal do planejamento de Nolan para Oppenheimer. O diretor destaca os prós e contras da ferramenta: "Acho que os gráficos de computador são muito versáteis, podem fazer todo tipo de coisa, mas tendem a parecer um pouco seguros. É por isso que são difíceis de usar em filmes de terror. A animação tende a parecer um pouco segura para o público. O Trinity Test, em última análise, mas também as primeiras imaginações de Oppenheimer visualizando o reino quântico, eles tinham que ser ameaçadores de alguma forma".
Para o diretor, as imagens da explosão da bomba atômica "tinham que ter algo real". "O Trinity Test, para aqueles que estavam lá, foi a coisa mais linda e assustadora ao mesmo tempo, e é para onde estávamos indo com este filme", analisa.
Oppenheimer: jogo de câmeras para evitar o CGI
Nolan passou a discutir o processo pelo qual Jackson e o supervisor de efeitos especiais, Scott Fisher, passaram para acertar Oppenheimer: "Então [Jackson] passou muitos meses trabalhando em coisas extremamente pequenas e coisas extremamente grandes em combinação com Scott Fisher, nosso supervisor de efeitos especiais, que é incomparável no mundo de explodir coisas em grande escala".
"Portanto, foi realmente uma combinação de escalas e, em última análise, isso falou sobre todo o filme, porque a física quântica e a expressão da física quântica por meio de armas nucleares são realmente sobre a incrível disparidade de escalas", continua o diretor.
O cineasta britânico acrescentou que o aspecto delicado de Oppenheimer era "tentar abraçar os dois extremos da escala", e parece que usar efeitos práticos , em vez de CGI, acabou sendo o caminho para alcançar o visual e a sensação que ele pretendia.
Oppenheimer: O primeiro teste da bomba atômica deixou vítimas?
Na vida real, após a explosão do protótipo da bomba atômica, em julho de 1945, em um deserto no Novo México, alguns tanques Sherman entraram no local da explosão para coletar amostras. Os cientistas acreditavam que era um local favorável pois não havia cidades ou pessoas por perto.
Porém, isso não era verdade. Há apenas 20 quilômetros do local viviam alguns fazendeiros e seu gado. E ainda, num raio de cerca de 80 km, milhares de pessoas viviam em pequenas cidades, como na Bacia de Tularosa.
Essa população foi alertada sobre a explosão que ocorreria às 5h30min do dia 16 de julho de 1945. O impacto foi tão forte que pessoas na cidade de Albuquerque, a quase 200 km, viram as luzes da explosão. Entretanto, eles não foram alertados sobre a radiação gerada no local.
Nos meses e anos seguintes, as pessoas coletavam água da chuva e perfuravam cisternas onde tinha poeira radioativa, e consequentemente, começaram a adoecer. O local não foi fechado e as pessoas faziam até piqueniques no deserto.
Os bebês começaram a apresentar problemas que eles pensaram na época ser disenteria, mas depois ficou claro que não era uma condição bacteriana. Outras milhares de pessoas que viviam na região morreram de câncer.
As pessoas até hoje sofrem com a radiação liberada no local, pois a maior parte do elemento químico plutônio no dispositivo não foi consumida na reação em cadeia e, portanto, foi liberada no meio ambiente.