Janaína Dutra e Thina Rodrigues: equipamentos públicos atendem a população LGBT+ no Ceará

Equipamentos públicos homenageiam travestis que são exemplos na luta pelos direitos LGBTQIAPN+; saiba mais sobre as suas trajetórias e o funcionamento dos locais

No Ceará, dois equipamentos públicos se voltam para o acolhimento e atendimento de pessoas LGBTQIAPN+. Ambos, um municipal e outro estadual, estão em Fortaleza: o Centro de Referência LGBT Janaína Dutra e o Centro Estadual de Referência LGBT+ Thina Rodrigues.

Janaína Dutra e Thina Rodrigues são grandes nomes para a luta LGBTQIAPN+ no Ceará e no Brasil. Suas ações possuem impactos até os dias atuais e são de extrema importância. Conheça o funcionamento dos locais e também sobre as histórias de Janaína e Thina:

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Centro de Referência LGBT Janaína Dutra

Em referência a primeira travesti do país a exercer a advocacia como membro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o serviço funciona como um espaço de escuta, de orientação técnica e de articulação da Rede de Proteção de Direitos e de Promoção da Cidadania LGBT. O Centro de Referência Janaína Dutra é um serviço municipal e atende a todos os territórios de Fortaleza.

Além do suporte às vítimas, o Centro de Referência oferece ainda suporte a pesquisas e o assessoramento técnico em direitos de LGBTQIAPN+ para profissionais das políticas públicas municipais.

Ano passado, o serviço contabilizou 462 atendimentos psicossociais e jurídicos gratuitos. De acordo com o Relatório Anual do Centro de Referência, o perfil socioeconômico das pessoas assistidas é predominantemente composto por jovens, negros, com pouco acesso à renda e em situação de vulnerabilidade social.

Em média, a idade dos atendidos é de 30 anos, 57% se declararam de raça parda e/ou negra; 25% não dispunham de nenhuma fonte renda individual e 15% das pessoas assistidas informaram que benefícios socioassistenciais e programas de transferência de renda eram o seu único meio de subsistência.

Pessoas trans (travestis, homens transexuais, mulheres transexuais e pessoas não binárias) seguem como as principais demandantes dos serviços do Centro, perfazendo 72% do total de atendimentos de 2022.

SERVIÇO

Centro de Referência LGBT Janaína Dutra

Contato: (85) 98970-4621

Horário: segunda à sexta-feira, das 8h às 17h

Endereço: R. Guilherme Rocha, 1469 - Centro, Fortaleza - CE, 60030-141

Quem foi Janaína Dutra

Considerada a primeira advogada travesti do Brasil, Janaina Dutra fez história com a sua luta e com a sua representatividade, deixando um legado exemplar para toda a sociedade. Foi uma das pioneiras na causa LGBTQIAPN+ no Ceará.

Nascida no ano de 1960 no município de Canindé, a cerca de 120 km de Fortaleza, Janaína começou a se dedicar para a causa LGBTQIAPN+ desde a adolescência. Ela se graduou em Direito na Universidade de Fortaleza (Unifor) em 1986 e, em seguida, passou no exame de Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), se tornando a primeira travesti a exercer a advocacia no País.

Segundo Renata Sampaio, filha de Janaína Dutra, na década de 1990 o movimento social pensava em políticas públicas com foco na população gay e Janaína veio reivindicando representatividade e reconhecimento de demandas específicas para os corpos travestis e transexuais.

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Dutra também foi a primeira presidente da Associação de Travestis do Ceará (Atrac), organização sem fins lucrativos, e participou da fundação do Grupo de Resistência Asa Branca (Grab).

Após os seus trabalhos como ativista, a população começou a discutir sobre temas que antes eram considerados tabus, mas de extrema importância para a evolução social. A advogada passou a ser referência em políticas públicas voltadas para a comunidade LGBTQIAPN+. 

“Nossas pautas passaram a ser ouvidas e, após sua liderança, passamos a ser vistas enquanto pessoas. Antes éramos lidas apenas como prostitutas e disseminadoras de doenças sexualmente transmissíveis (DST)”, afirma Renata Sampaio.

Janaína Dutra morreu em 2004, por causa de um câncer no pulmão.

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Centro Estadual de Referência LGBT+ Thina Rodrigues

O Centro Thina Rodrigues oferece acolhimento e atendimento humanizado à população LGBTI+, em situação de vulnerabilidade social ou em situação de violência decorrente de LGBTfobia. Oferta serviços especializados nas áreas jurídica, psicológica, assistencial, além de orientação e acompanhamento às vítimas e familiares, com suporte de uma equipe multidisciplinar.

O equipamento, da Secretaria da Diversidade, foi fundado em dezembro de 2021. Durante o ano de 2022, 345 pessoas trans foram atendidas pelo Centro; dessas, 308 solicitaram retificação de nome e gênero no registro civil. Do total, quase 48% são mulheres trans e travestis. Com relação à faixa etária, 40,7% das pessoas trans que buscaram o Centro são jovens, de 18 a 24 anos de idade. Considerando raça, 61,1% são pessoas negras.

SERVIÇO

Centro de Referência Estadual LGBT+ Thina Rodrigues

Contato: (85) 98993 3884

Horário: de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h

Endereço: rua Valdetário Mota, 970, no bairro Papicu 

Quem foi Thina Rodrigues

Thina Rodrigues é considerada, juntamente com Janaína Dutra, pioneira na causa LGBTQIAPN+ no Ceará. Nascida no município de Brejo Santo, a cerca de 500 km de Fortaleza, Thina desde de cedo já evidenciava e lutava para ser quem ela era. Aos 17 anos foi expulsa pela sua família de casa e aos 20 anos foi presa por expressar sua identidade de gênero.

Thina virou uma ativista na causa LGBTQIAPN+ e participava do movimento do Grupo de Resistência Asa Branca (Grab). Ela conheceu Janaína Dutra e Paula Costa, e juntas fundaram a Associação de Travestis do Ceará (Atrac), em 2001.

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“Foi muito importante sua participação no movimento LGBTQIAPN+, principalmente para a população de Travestis e Transexuais, já que era uma travesti preta e pobre. Ela lutava por uma melhor qualidade de vida e Direitos Humanos para o movimento de Travestis e Transexuais em situação de vulnerabilidade”, afirma Paula Costa, atual presidente da Atrac.

As suas ações têm impactos e são relembradas até hoje. Segundo Costa, Thina Rodrigues é lembrada por sua luta incansável, garra e determinação. Ela estava à disposição para ajudar a comunidade, como encaminhamento de Travestis para postos de saúde, retirada de documentos, entrega de sopão, material educativo e informativo e insumos de prevenção preservativos.

Thina Rodrigues faleceu vítima de Covid em 2020, aos 57 anos de idade.

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