Jeans do século 19 com frase racista é leiloado por quase meio milhão
Calça da marca americana Levi's foi encontrada em mina abandonada e leiloada quase R$ 500 mil. A frase "O único tipo feito pelo Trabalho Branco" está inscrita no produto
15:40 | Out. 14, 2022
Fundada em 1853 pelo alemão Levi Strauss, a marca americana de jeans Levi's se encontrou no centro de uma polêmica nos últimos dias. Isso porque um dos exemplares da marca foi leiloado nos EUA pela quantia de US$ 87 mil, equivalente a cerca de R$ 457 mil.
A calça jeans foi produzida em 1880 e encontrada em uma mina abandonada. Uma inscrição na parte de dentro dos bolsos diz: "O único tipo feito pelo Trabalho Branco". A frase é em referência à mão de obra envolvida na manufatura da calça, após os trabalhadores chineses serem excluídos das fábricas em decorrência da aprovação da Lei de Exclusão Chinesa, de 1882.
Um representante da Levi's explicou o contexto histórico do slogan racista e reiterou que a marca não utiliza mais a frase em seus produtos desde 1890, assim como também não contribui com políticas de empregamento discriminatórias. O depoimento foi dado ao periódico americano The Wall Street Journal.
O produto, encontrado em uma mina abandonada por um "árqueologo" de jeans desconhecido, foi arrematado por Kyle Hautner e Zip Stevenson, expert no mercado de jeans vintage. A quantia paga foi dividida entre os dois proprietários, de certa forma desbalanceadamente: 90% do dinheiro veio de Hautner, e o resto foi providenciado por Stevenson.
Racismo: jeans com frase preconceituosa é de 1880; lei discriminatória contra chineses estava em vigor
A Lei de Exclusão Chinesa de 1882 foi aprovada pelo congresso estadunidense e ratificada pelo presidente Chester Arthur, como uma forma de barrar chineses de trabalharem em fábricas americanas, dando espaço para a mão de obra branca.
De acordo com a pesquisadora Ana Paulina Lee, da Universidade de Columbia (EUA), "A Lei de Exclusão Chinesa de 1882 (...) foi a primeira lei federal a proibir a imigração com base em raça e classe. A lei restringiu as fronteiras dos EUA da competição econômica com a mão de obra chinesa, que poderia concorrer com a mão de obra branca, usando a retórica da raça para garantir a ideia de uma homogeneidade racial da nação."
Em seu artigo de 2019, "A estética da exclusão: imigrantes chineses em culturas visuais brasileiras na virada do século XX" (em português), Lee explica que o precedente estabelecido pela lei teve consequências em cadeia. "A Lei de Exclusão Chinesa causou um efeito cascata em outros países, demonstrando as dimensões globais do nacionalismo racial."
"As restrições de imigração dos Estados Unidos e as tentativas de assegurar suas fronteiras raciais e nacionais produziram uma mudança nos padrões de imigração dos países da América do Sul, que passaram a vetar as mesmas etnias excluídas pela democracia liberal branca dos Estados Unidos", conclui.
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