O curioso caso da ilha que muda de país a cada seis meses
Neste domingo, 31 de julho, a França deve assumir o pedaço de terra e ficar até o final de janeiro, quando a ilha vai ser repassada para a Espanha
14:10 | Jul. 29, 2022
A cada seis meses uma pequena ilha no continente europeu troca de nacionalidade e fica sob nova administração.
A ilha dos Faisões está localizada no meio do rio que separa a Espanha da França, e foi palco de um acontecimento histórico que selou a paz entre as duas nações.
Há mais de 360 anos elas administram em conjunto o local. Neste domingo, 31 de julho, a França deve assumir o pedaço de terra e ficar até o final de janeiro. Vamos entender:
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A história por trás da disputa
O ano era 1648. Após um cessar-fogo entre os países europeus que travavam guerras entre si, momento conhecido na história como Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), a ilha dos Faisões ganhou notoriedade após ser escolhida como um lugar neutro para que as reuniões de demarcação das novas fronteiras pudessem acontecer.
O motivo para o local ter sido escolhido é que ele está posicionado entre as duas nações. De um lado, fica a cidade de Hendaye, na França. E do outro, Irun, na Espanha. O pedaço de terra fica no meio do Rio Bidasoa, a 10 metros da parte espanhola e 20 metros da francesa.
Mas somente em 1659 o acordo de paz, conhecido como Tratado dos Pireneus, foi assinado. Nesses onze anos de espera, entre 1648 e 1659, foram realizadas 24 reuniões na ilhota, com militares de prontidão caso o acordo não fosse alcançado.
Para assinalar o acordo, um casamento entre as Coroas dos dois países foi marcado no ano de 1660. A princesa Maria Teresa da Espanha, filha do rei espanhol Felipe IV, deveria casar com o rei Luís XIV, da França. E foi na ilha dos Faisões que Maria Teresa foi entregue à Corte francesa para o casamento.
Por causa do símbolo que a ilha representou, os países decidiram governar o território de forma conjunta. Sendo a Espanha responsável pelo local entre 1 fevereiro e 31 de julho e a França entre 1 de agosto e 31 de janeiro.
Como é a ilha?
Com um monumento erguido no centro para simbolizar a reunião que trouxe a paz, a ilha tem 3 mil m² e é o menor território administrado por mais de um Estado soberano do mundo.
Em seus 215 metros de comprimento e 38 metros de largura, não é possível morar, e raramente a ilha é aberta para visitas.
Apenas os membros dos Comandos Navais das cidades costeiras dos dois países têm direito de acessá-la, pois ficam responsáveis pela jurisdição.
Apesar de se chamar "Ilha dos Faisões", não existe nenhum faisão no local. Ao longo dos anos, ela recebeu diversas nomenclaturas. Atualmente, ele se chama "Isla de los Faisanes" em espanhol, "Faisai Uhartea" em basco, ou "Île des Faisans", em francês.
No período romano, ela se chamava "Pauosa", palavra basca que quer dizer "passagem" ou "passo". Entretanto, foi traduzida pelos franceses como "Paysans", camponeses, e depois virou "Faisans", faisões. E a denominação "Ilhas dos Faisões" perdurou até hoje.
Os condomínios
A peculiaridade de dois países dominarem o mesmo pedaço de terra não acontece apenas na Ilha de Faisões. No direito internacional, esse arranjo é chamado de condomínio, ou seja, território onde duas ou mais nações concordaram formalmente em dividir a soberania do local.
Atualmente, oito locais no globo terrestre estão sob domínio mútuo:
- A Área de Regime Comum, uma região marítima partilhada entre Colômbia e pela Jamaica;
- O distrito de Brko, condomínio entre Bósnia-Herzegovina e República Sérvia;
- A região de Abyei, compartilhada pelo Sudão e Sudão do Sul;
- O rio Moselle e seus afluentes, Sauer e Our, condomínios administrados por Luxemburgo e Alemanha;
- Lago de Constança, onde Áustria, Alemanha e Suíça exercem um "tri condominium";
- Golfo de Fonseca, dividido entre Honduras, El Salvador e Nicarágua
- Antártida, governada por 29 países signatários do Tratado da Antártida
Com informações de BBC e El Pais