O esquecido hábito medieval de dormir duas vezes na mesma noite
O hábito, também chamado de sono bifásico, era bastante comum durante a Idade Média e até o século 17
16:48 | Jul. 01, 2022
Em algum momento da vida você já deve ter ouvido que o ideal para qualquer pessoa é dormir oito horas por dia. Para muitos, acordar no meio da noite e "perder" o sono é um pesadelo. Voltar a deitar-se e descansar pode não ocorrer com facilidade, mas para nossos antepassados, acordar durante a noite e voltar a dormir horas depois, era um hábito comum.
O hábito, também chamado de sono bifásico, era bastante comum durante a Idade Média e até o século 17. Foi o que revelou os estudos de Roger Ekircho, historiador da Universidade Virginia Tech, em 2001.
Em suas pesquisas de textos da era medieval, o historiador encontrou várias menções sobre primeiro e segundo sono. Isso indica que as pessoas acordavam durante a noite para fazer atividades da casa, rezar e visitar amigos.
As informações são da BBC.
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Mas como funcionava?
Segundo o historiador, em vez das pessoas dormirem oito horas por dia, elas dividiam o sono em duas fases: o primeiro período começava entre 21 às 23 horas, era o momento em que as pessoas deitavam por duas horas.
Após o tempo do primeiro sono acabar, as pessoas da casa levantavam e ficavam acordadas até cerca de uma hora da manhã, de acordo com o horário que haviam ido para a cama. Em seguida, todos voltavam às suas camas e finalmente podiam dormir até o amanhecer ou mais.
Como boa parte das pessoas não tinham condições financeiras, muitas dormiam juntas, acompanhadas de familiares, amigos e até servos.
Entre eles, havia uma espécie de etiqueta social na hora de dormir, como, por exemplo, evitar muitos movimentos para não acordar ninguém ou algum tipo de contato físico.
Mas engana-se quem acha que as pessoas acordavam com o auxílio de um despertador ou algum ruído que perturbasse o sono. O "despertar" era natural, da mesma forma que hoje nós acordamos de manhã.
E o que as pessoas faziam nesse período?
"(Os registros) descrevem que as pessoas faziam quase de tudo depois que acordavam do primeiro sono", descreve Ekirch em seu estudo. Esse período era chamado de "vigília".
O historiador relata em seus estudos que algumas pessoas aproveitavam para realizar tarefas domésticas, como varrer a casa ou colocar mais lenha no fogo.
Os camponeses utilizavam desse tempo para verificar os animais. Já os religiosos aproveitavam o tempo para orações - e até criminosos usavam o tempo para suas atividades.
Já para os casais que conseguiam um pouco mais de privacidade, Ekirch conta no seu livro "At day's close: A history of nighttime", que a vigília era útil e conveniente para fazer sexo.
Costume difundido pelo mundo
Ao estudar as culturas pelo mundo, o historiador descobriu que esse não era um fenômeno que só existia na Inglaterra, mas era difundido em vários lugares do mundo.
Ekircho encontrou escritos de cidades da Europa e América do Norte, África e Oriente Médio.
No Brasil também há escritos falando sobre essa prática. Um registro do período colonial do Rio de Janeiro, de 1555, conta que o povo tupinambá tinha o costume de comer após o seu primeiro sono.
Por que esse hábito acabou?
Mas por que esse hábito foi deixado de lado ao longo do tempo, e o modelo de dormir oito horas por dia foi adotado?
O historiador explica que diversos fatores contribuíram para a mudança, entretanto, a eletricidade foi o ponto decisivo para o fim do descanso fracionado.
Com a criação das luzes artificiais, as atividades que antes não eram possíveis serem realizadas passaram a ser, e, com isso, as pessoas iam dormir cada vez mais tarde.
Por causa disso, esse espaço entre o primeiro e o segundo sono foi ficando cada vez mais curto e o padrão, aos poucos, foi desaparecendo.