Coveiro de Sergipe faz sucesso nas redes mostrando rotina no cemitério: "Tinha medo de defunto"
Em entrevista ao O POVO, Gleibson falou mais sobre curiosidades da sua profissão e falou até da exumação do próprio pai, que ele gravou
16:52 | Mar. 25, 2022
O cemitério pode ser um lugar triste para muitos, mas, para Gleibson Santos, de 36 anos, se tornou um lar. Coveiro há quase 10 anos, ele produz conteúdos em seu local de trabalho para o TikTok, Kwai e Youtube.
Nas redes sociais, o sergipano mostra sua rotina e curiosidades sobre o cemitério, chegando até a publicar o vídeo da exumação do seu próprio pai. Em entrevista ao O POVO, Gleibson falou mais sobre sua profissão e a viralização dos seus conteúdos.
Leia mais
Com mais de 91 mil visualizações, o vídeo da exumação do pai foi publicado no canal de Gleibson no Youtube. O coveiro conta que também realizou o sepultamento do pai há cinco anos e que o processo de retirada dos restos mortais do túmulo foi uma decisão da família.
Na gravação, ele explica mais sobre o procedimento e exibe os ossos do falecido pai. Segundo a lei, a exumação de adultos só é permitida após um período mínimo de três anos da morte.
O coveiro confessa que não foi um procedimento fácil, ainda mais por se tratar de um parente tão próximo. “A gente tenta ser forte, mas nós temos um sentimento para cada pessoa. Com o tempo, vai se tornando um sentimento passageiro. Mas quando se fala do nosso pai, é um sentimento eterno”, pontua.
Ele apontou que não ia realizar a exumação, mas teve que colocar o profissionalismo em primeiro lugar. “Quem realiza o serviço sou eu, não tinha como passar para outra pessoa”, afirma.
A trajetória até o cemitério
Gleibson mora em Santo Amaro das Brotas, uma pequena cidade no interior de Sergipe. Antes de trabalhar no cemitério, Gleibson também se aventurou na política e foi candidato a vereador em sua cidade.
O coveiro chegou bem perto de ser eleito, mas perdeu por sete votos. No município, ele é bem conhecido pela população, seja por sua candidatura, seja por sua atual profissão. “Sou praticamente uma pessoa pública”, brinca.
Ele sempre teve o desejo de ser servidor público e viu no concurso para coveiro uma oportunidade.
“Escolhi o de coveiro porque imaginei que ninguém ia querer”, explicou. O concurso havia aberto duas vagas, mas Gleibson ficou em terceiro lugar. Após alguns anos, ele conseguiu ser empossado para atuar no cargo.
A escolha da profissão não foi fácil, já que tinha medo de locais ligados à morte. “Eu tinha muito medo de defunto. Se eu passasse em frente uma funerária, eu não conseguia dormir”, revela.
Ao assumir a vaga no cemitério, Gleibson passou algumas semanas para se adaptar. “Hoje, eu reconheço que morto não faz mal a ninguém. Mas, sim os vivos”, reflete.
Durante sua trajetória, o coveiro enfrentou alguns momentos difíceis na profissão, como encontrar seu parceiro de trabalho morto. Gleibson lembra que o colega morava dentro do cemitério, e que encontrou seu corpo quando chegou no trabalho de manhã.
“Foi o momento que mais gerou impacto na minha profissão, porque nós éramos como uma família”, conta.
Outro período que Gleibson considerou crítico foi no auge da pandemia do coronavírus. No Brasil, a doença matou quase 658 mil pessoas. Em Sergipe, a Covid-19 levou cerca de 6.300 vidas. “A gente ficava de plantão 24 horas, sem saber se estávamos sendo contaminados. Era um dos meus maiores medos”, relata.
Mas, ele também destaca que viveu bons momentos na profissão. Quando questionado sobre situações inusitadas que já viveu, o coveiro relembra de uma pegadinha que aconteceu no cemitério no Dia de Finados. O responsável pelo momento foi o Palhaço Soneca, que é vereador em Aracaju.
No dia da pegadinha, a funerária chegou para realizar um sepultamento com uma família. Gleibson e seu colega de trabalho colocaram o caixão na capela para as despedidas. Na hora de enterrar o corpo, o falecido “ressuscitou”.
“Quando estávamos levando até o túmulo, ele pulou do caixão. Eu nunca tinha visto uma cena daquela, todo mundo correu, inclusive eu”, recorda.
"Coveiro em Ação"
Hoje, o “Coveiro em Ação", como se intitula nas redes sociais, já conquistou seguidores fiéis. Gleibson acumula mais de 55 mil seguidores no Kwai e quase 20 mil no TikTok. No Youtube, ele ainda está buscando audiência, mas já soma quase 2 mil inscritos.
O coveiro afirma que não esperava toda essa repercussão, mas fica feliz por as pessoas gostarem do seu conteúdo. Gleibson destaca que ama ser coveiro e aprendeu muito sua função. “Essa profissão é tudo para mim. Ali, eu percebo que todos são iguais”, pontua.