Hino Nacional: Vinicius menciona trecho oculto da canção no BBB 22; entenda

Letra do Hino Nacional mudou duas vezes. Antes, canção bajulava Dom Pedro II e parte que hoje é oculta deixou de ser cantada em 1909. Vinicius falou sobre assunto no BBB 22

00:38 | Fev. 03, 2022

Por: Carolina Parente
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O participante cearense Vinicius, do Big Brother Brasil (BBB 22), mencionou sobre a parte oculta do Hino Nacional Brasileiro, cuja letra passou por duas modificações até chegar à versão que é celebrada hoje. Os versos cantados atualmente são componentes da terceira versão da letra que acompanha os acordes de Manoel da Silva, compositor da marcante melodia. A menção foi feita pelo caririense nessa segunda, 31.

A Letra do Hino, no entanto, passou por modificações até chegar à versão atual, elaborada em 1909. Mas foi somente em 1922 que o Hino Nacional como hoje é conhecido foi oficializado. A melodia, por sua vez, manteve-se intacta desde a sua composição entre 1823 e 1841 (não se sabe a data exata), quando foi realizada em alusão à Proclamação da Independência do Brasil.

A canção, como hoje é conhecida, costuma ser enaltecida em torneios internacionais, antes de jogos de futebol ou quando um brasileiro sobe ao pódio de primeiro lugar, de modo que a cadência marcante das notas extasia a plateia que canta em coro o seu patriotismo.

 

A melodia do Hino Nacional Brasileiro é do maestro Francisco Manuel da Silva e foi escrita em 1831 para comemorar a abdicação de Dom Pedro I, que aconteceu em 7 de abril daquele ano. O fato foi decisivo para a consolidação da Independência do País. O hino foi letrado pelo poeta Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva e ficou conhecido como o “hino do 7 de abril”. 

No seguinte trecho do referido hino, o caráter nacionalista e antilusitano pode ser notado:

Homens bárbaros, gerados
De sangue judaico, e mouro
Desenganai-nos: a Pátria
Já não é vosso tesouro.

Em 1843, por ocasião da coroação de Pedro II, o hino sofreu adaptações em sua letra para se tornar o hino do Império Brasileiro. As modificações foram feitas por autor desconhecido e, conforme está escrito no site do Senado Brasileiro, “exageravam na bajulação ao soberano”, como pode ser visto nos versos abaixo:

Negar a Pedro as virtudes,
Seu talento escurecer
É negar como é sublime
Da bela aurora o romper.

Já em 1889, após a proclamação da República, as autoridades do regime que se estabelecia queriam criar um novo hino a fim de apagar as marcas da era imperial. Assim, em janeiro de 1890, Marechal Deodoro, primeiro Presidente da República Brasileira, realizou um concurso para a escolha da letra da canção. 29 pessoas concorreram.

Professor explica trecho oculto do Hino Nacional

Segundo o professor Clodomir Freire, licenciado em história pela Universidade Estadual do Ceará (Uece), a substituição do velho Hino Nacional encontrava resistência dos intelectuais adeptos do positivismo, que exerciam forte influência sobre o Exército e o governo da época. Eles argumentavam que “a tradição era importante para definir o presente e o futuro e (o hino) não poderia ser apagado na marra”. No fim, o concurso foi apenas para a melodia.

No ano de 1909, no governo de Nilo Peçanha, foi lançado um novo concurso público. “Vencedora, a poesia de Joaquim Osório Duque Estrada só seria declarada oficialmente a letra do Hino Nacional Brasileiro pelo Decreto n°15.671, de 06.09.1922, portanto, às vésperas do centenário da Independência do Brasil”, afirmou o professor.

A primeira exibição oficial do Hino Nacional Brasileiro, com a letra já adaptada ao republicanismo, aconteceu pouco tempo após a sua elaboração. Em 1936, passou a ser obrigatório o canto do hino nas escolas do país e em ocasiões de festejos públicos, como feriados da independência e proclamação da República.

Hino Nacional: leis a respeito da canção

O Hino Nacional do Brasil, como uma ode ao republicanismo, é um dos quatro símbolos oficiais da República Federativa do Brasil, com base no art. 13, § 1.º da Constituição de 1988. Os demais emblemas da República são a Bandeira Nacional, o Selo Nacional e o Brasão de Armas do Brasil (aquele estampado na capa dos passaportes).

Já em 2009, o Congresso Nacional ao sancionar a lei 12.031, incluiu o parágrafo único no artigo 39 da Lei dos Símbolos Nacionais, vigorando a obrigatoriedade da execução do Hino Nacional uma vez por semana em instituições de ensino fundamental públicas e privadas.

Hino Nacional atual

O Hino Nacional Brasileiro, símbolo de exaltação à pátria, é uma rebuscada poesia de cujo texto é repleto de palavras pouco usuais, metáforas e inversões sintáticas. Com a priorização da forma e de sua função artística parnasiana (arte pela arte) em detrimento da clareza, a compreensão do texto foi dificultada.

Isto é, se não houvesse inversão da ordem direta do discurso na língua portuguesa (sujeito>verbo>objeto), as estrofes do hino seriam mais facilmente compreendidas. Observe o seguinte comparativo:

Hino Nacional: trecho original

Com inversão sintática:

Ouviram do Ipiranga às margens plácidas (calmas)
De um povo heroico o brado retumbante (brado: grito; retumbante: que ressoa)
E o sol da liberdade, em raios fúlgidos, (liberdade: independência; fúlgido: brilhante)
Brilhou no céu da Pátria nesse instante. (pátria: Brasil)

Hino Nacional: trecho modificado

Como seria a estrofe sem as inversões sintáticas:

Às margens plácidas do riacho Ipiranga, ouviram
Um grito retumbante de um povo heroico
E, em raios fúlgidos,
O sol da liberdade brilhou no céu da Pátria nesse instante.

Hino Nacional: romantismo ufanista

O poema possui 50 versos distribuídos em duas partes rigorosamente simétricas, tanto na métrica quanto no ritmo (basta olhar a letra e cantar para perceber) e, apesar de a forma do poema ser estritamente parnasiana, o conteúdo do texto é romântico e intrinsecamente ufanista.

Na segunda parte do hino, por exemplo, os termos entre aspas tratam-se da menção do poema “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias, um nacionalista ufanista da Primeira Geração do Romantismo Brasileiro. Veja:

Do que a terra, mais garrida (vistosa),
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores,
"Nossos bosques têm mais vida",
"Nossa vida" no teu seio "mais amores.