Pesquisadores encontram novas explicações para monogamia
O que leva um macho a se relacionar somente com uma única fêmea, e vice-versa, por um longe período? Pesquisadores de Cambridge, no Reino Unido, lançaram nesta semana dois novos estudos sobre os motivos de determinadas espécies de mamíferos e primatas formarem um par ‘fiel’. Os motivos encontrados, no entanto, nada parecem ter a ver com amor ou paixão.
De acordo com os especialistas, a monogomia surgiu como uma estratégia de reprodução, ainda que pareça contraproducente. Eles afirmam que a monogamia evoluiu justamente em espécies em que as fêmeas mudaram a dieta e com isso passaram a defender um território exclusivo e evitar outras na área em que viviam, até que se tornaram solitárias.
[SAIBAMAIS 2]Foi assim, que segundo Tim Clutton-Brock, da Universidade de Cambridge e autor do estudo publicado no periódico científico Science , os machos mudaram de estratégia e passaram a formar par com uma única fêmea. Em parceria com Dieter Lukas, Tim estudou comportamento, genética e evolução de 2500 espécies de mamíferos. Segundo informações do site Ig, eles descobriram que apenas 9% das espécies de mamíferos era monogâmica, incluindo poucos roedores, alguns primatas e principalmente carnívoros, como chacais, lobos e suricatos.
Clutton-Brock explicou que onde as fêmeas se dispersam, a melhor estratégia para o macho é acasalar com uma fêmea só, defendê-la e certificar-se que é o progenitor de toda a cria. “Em suma, a melhor estratégia é ser monogâmico", conclui. Ainda que as explicações não sejam nada românticas, há esperança para os corações apaixonados, pois a dupla analisou várias espécies de mamíferos, mas humanos ficaram fora deste estudo.
“Tivemos dificuldade em classificar os humanos. Humanos são diferentes. Os casais interagem de forma diferente de qualquer outro mamífero”, disse Lukas em coletiva de imprensa.
Sobrevivência dos filhotes
Outro estudo sobre monogamia divulgado na última segunda-feira, 29, analisou apenas os primatas, grupo ao qual o ser humano pertence. Os pesquisadores da Universidade de Manchester, Oxford e Aukland, descobriram que o acasalamento exclusivo entre um macho e uma fêmea existe como uma forma deles se assegurarem que seus filhotes não serão mortos por rivais dentro do seu grupo.
O estudo foi publicado no periódico científico PNAS e afirma que filhotes e animais jovens são vulneráveis porque as fêmeas tendem a postergar uma segunda prole enquanto estão cuidando de seu filhote. Os machos desprezados podem, então, matar os filhotes de seus rivais para que as fêmeas emprenhem novamente, desta vez com eles.
Susanne Shultz, da Universidade de Manchester, disse por meio de um comunicado que o que torna este estudo tão emocionante é que ele permite olhar pra trás no nosso passado evolutivo para entender os fatores que nos tornam humanos.
Foram analisadas 230 espécies de primatas e suas relações evolutivas para se chegar a conclusão de que a monogamia evoluiu para o pai garantir que seu filho não vai sofrer nenhum mal.
Curioso
A razão do surgimento de espécies monogâmicas sociais desperta o interesse dos cientistas há anos, pois os machos teriam possibilidade de deixar muito mais descendentes com diversas fêmeas (enquanto que uma fêmea só passa pelo período da gestação uma vez). A monogamia é mais comum entre os pássaros, cerca de 90% das espécies são monogâmicas. Já entre os mamíferos estima-se que ocorra em menos de 3% das espécies.
Antes desses dois novos estudos, uma das explicações mais aceitas para a monogamia eram de que a seleção natural favoreceu a formação de casais monogâmicos que protegem e alimentam os filhotes, aumentando a mais probabilidade da prole de se desenvolver.
A segunda hipótese, reforçada pelo estudo dos pesquisadores de Cambridge, sugere que machos formam pares para proteger as companheiras mais facilmente. "É importante ressaltar que são os estudos de longo prazo que respondem as grandes questões", lembra Clutton-Brock, que estuda a monogamia há mais de três décadas.
"Não sabíamos do estudo [publicado na PNAS] e não tivemos ainda a oportunidade de confrontar os dados das duas pesquisas. É o tipo de coincidência que acontece de tempos em tempos na ciência", completou Clutton-Brock.
Redação O POVO Online