Calor e frio: como a mudança climática causou 142 mil mortes no Brasil

Calor e frio: como a mudança climática causou 142 mil mortes no Brasil

Calor e frio extremos causaram 142,7 mil mortes no Brasil entre 1997 e 2018; saiba como o clima tem afetado a saúde e quem é mais vulnerável as mudanças

As variações extremas de temperatura causaram a morte de 142,7 mil pessoas em cidades brasileiras entre os anos de 1997 e 2018, segundo estudo publicado na revista Environmental Epidemiology.

O levantamento analisou os impactos das temperaturas extremas em 18 cidades do país, incluindo 12 capitais. Durante esse período, as perdas econômicas associadas ao frio e ao calor chegaram a US$ 443 milhões por ano. 

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Os dados indicam que o frio foi responsável por 113.528 mortes, enquanto o calor causou 29.170 óbitos. Além disso, as perdas financeiras relacionadas às baixas temperaturas somaram US$ 352,5 milhões anuais, enquanto as altas temperaturas resultaram em um prejuízo de US$ 90,6 milhões por ano.

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Como o calor e o frio afetam a saúde? 

O corpo humano opera em uma faixa estreita de temperatura interna, em torno de 36,5°C. Quando exposto ao calor extremo, o organismo sofre com a dilatação dos vasos sanguíneos, queda da pressão arterial e aumento do esforço cardíaco.

Isso pode levar à exaustão térmica e até à morte, especialmente entre trabalhadores braçais, idosos e crianças pequenas.

Populações mais afetadas

A médica e meteorologista, pesquisadora do laboratório de patologia ambiental e experimental da faculdade de medicina da Universidade de São Paulo (USP) Micheline Coelho, que tem mais de 20 anos de experiência na área, destacou, em entrevista para a rádio O POVO CBN, que as populações mais afetadas são as crianças e os idosos.

As crianças são vulneráveis porque o organismo delas ainda não está bem desenvolvido. Já os idosos também enfrentam riscos pois a capacidade de resposta do cérebro pode ter sofrido desgaste.

"O hipotálamo, responsável por regular a temperatura do corpo, não funciona da mesma forma nessas idades, e isso pode levar a desequilíbrios quando expostas ao calor extremo”.

Micheline, que também é pesquisadora do Climate Equality Research da Universidade de Monash, na Australia, acrescenta que pessoas com doenças crônicas, como problemas cardíacos ou respiratórios, também são mais suscetíveis.

Por outro lado, o frio extremo provoca reações opostas, como a contração dos vasos sanguíneos e o aumento da pressão arterial, sobrecarregando o coração. Se o corpo não se aquece a tempo, pode ocorrer um colapso cardiovascular.

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Calor e frio extremo: políticas públicas

A pesquisa identificou que a temperatura média considerada ideal para a população varia entre as cidades brasileiras. Em Curitiba (PR), por exemplo, a temperatura de mortalidade mínima (TMM) ficou em 21°C, enquanto em Palmas (TO) e São Luís (MA) foi de 28°C.

A mortalidade aumenta à medida que a temperatura se afasta desse ponto ideal, formando um gráfico em formato de “U”, com risco maior de óbitos tanto no frio intenso quanto no calor extremo.

Especialistas apontam que o Brasil ainda carece de infraestrutura adequada para enfrentar temperaturas extremas, com edifícios pouco preparados para lidar com frio intenso ou calor excessivo.

Portanto, se torna importante que a consciência e os esforços dos cidadãos estejam voltados as respectivas temperaturas médias de cada região.

Dessa forma, a população terá mais atenção quando houver necessidade de mudanças e criações de políticas públicas de segurança.

"Não estamos preparados para enfrentar esses extremos. A mudança climática já ocorreu, e agora a questão é como mitigar os impactos", disse Micheline Coelho.

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Calor e frio extremo: a vulnerabilidade de crianças e idosos

Segundo a médica, o Brasil carece de infraestrutura adequada, como edifícios que suportem tanto o frio quanto o calor intenso. Em algumas cidades, como São Paulo, as construções já não são mais feitas para lidar com grandes variações de temperatura, o que agrava os efeitos do calor excessivo.

"Não precisa de grandes fortunas de dinheiro, só precisa de boa vontade. Por exemplo, em São Paulo, há muita variação de temperatura. Antigamente os prédios eram construídos para suportar condições de frio. Mas agora não existe mais isso, então quando vem a onda de calor, fica insuportável", explicou.

Pesquisas indicam ainda que as mudanças climáticas podem tornar os episódios de calor extremo mais frequentes e intensos no Brasil. Projeções indicam que, até 2054, o número de ondas de calor pode dobrar na América Latina, aumentando significativamente os riscos à saúde.

Como é feito o diagnóstico de morte por calor extremo?

Embora difícil de identificar, a morte causada por calor extremo pode ser diagnosticada. Segundo Micheline Coelho, “existe uma falha no sistema do corpo, e quando o termômetro interno falha, pode ocorrer o golpe de calor, como visto em Paris, onde muitas pessoas morreram devido a ondas de calor intensas”.

Esse tipo de morte é classificado no Código Internacional de Doenças (CID) como uma causa externa. Com a projeção do aumento das ondas de calor devido às mudanças climáticas, é fundamental que o país se prepare para mitigar os impactos dessas variações extremas e proteger a saúde da população.

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