Sapinho de chifre: espécie quase em extinção tem registros inéditos

Cientistas confirmam que sapinho de chifre está quase em extinção; confira galeria de fotos e áudios inéditos das novas aparições

Uma pesquisa realizada por pesquisadores brasileiros confirmou que a espécie Proceratophrys paviotii, um tipo de anfíbio com aba saliente acima de cada olho, ou "chifre", exclusivo da Mata Atlântica, é única e distinta de todas as demais do planeta. Contudo, já foi classificada como Quase Ameaçada (NT) de extinção.

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O resultado desse trabalho, realizado por estudantes do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e da Universidade Federal do ABC (UFABC), está no artigo publicado na revista internacional “PeerJ” nesta quarta-feira, dia 23 de outubro.

As gravações de coaxos e fotografias enviadas pelos cidadãos cientistas envolvidos no projeto “Cantoria de Quintal” foi o que permitiu o mapeamento das novas ocorrências do sapinho-de-chifre-paviotii. Ao contrário do que se pensava, a espécie não é tão rara assim, pode ser encontrada em locais comuns da região de Santa Teresa, no Espírito Santo.

Ao todo, 42 registros foram enviados por 10 cidadãos cientistas utilizando a ferramenta de “Localização” do aplicativo WhatsApp, possibilitando um mapeamento preciso da espécie. Com a localização desses indivíduos, os pesquisadores realizaram coletas inéditas de material genético e gravações do repertório vocal dessa ainda pouco conhecida espécie. Confira abaixo.

Sapinho de chifre: confira galera de fotos com registros inéditos da espécie

Ouça áudio dos coaxos do sapinho de chifre

Sapinho de chifre: espécie ameaçada de extinção

Os anfíbios (sapos, rãs, pererecas, cecílias e salamandras) estão entre os animais mais ameaçados de extinção do planeta. Duas em cada cinco espécies correm sério risco de desaparecerem para sempre.

“Iniciativas focadas na ampliação do conhecimento e monitoramento de anfíbios devem ser, cada vez mais, encorajadas. Nesse sentido, projetos de Ciência Cidadã têm contribuído em larga escala na geração de dados sobre anfíbios mundo afora”, destaca Natalia Pirani Ghilardi-Lopes, professora da UFABC e uma das autoras do artigo.

O sapinho-de-chifre-paviotii foi classificado como Quase Ameaçado (NT) de extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), indicando que a probabilidade de a espécie passar a figurar entre as ameaçadas é alta.

No entanto, o estudo apontou que, ao contrário do que se pensava, ele não é tão raro assim, tendo sido reportado por cidadãos cientistas até mesmo em quintais e poças de chuva formadas em ruas calçadas.

“Com isso, acreditamos que, em avaliações futuras, o estado de conservação do sapinho-de-chifre-paviotii passe a ser classificado como Menos Preocupante (LC) e não mais Quase Ameaçado (NT)”, comenta Diego J. Santana, professor da UFMS e um dos autores do artigo.

“Ainda assim, a vigília deve ser constante. Recomendamos a busca por populações desconhecidas dessa espécie e que sejam realizados programas de monitoramento.

Nesse sentido, a descrição e disponibilização do repertório vocal do sapinho-de-chifre-paviotii, bem como da sua identidade genética, certamente facilitam seu reconhecimento específico e, consequentemente, favorecem a realização de novos registros e implementação de estratégias de monitoramento”, explica Sarah Mângia, pesquisadora da UFMS e também uma das autoras do estudo.

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“Cantoria de Quintal”: conheça o projeto pioneiro em fazer parceria com cidadãos cientistas

Em 2020, pesquisadores do INMA, unidade de pesquisa sediada no município de Santa Teresa, no Espírito Santo, criaram o projeto “Cantoria de Quintal”, que conta com a participação do público na realização de registros de ocorrências de espécies de anfíbios no estado.

No Brasil, o projeto “Cantoria de Quintal” é pioneiro ao lidar com gravações sonoras enviadas pelo público. “A partir da publicação desse estudo, esperamos inspirar e estimular o surgimento de iniciativas semelhantes, sobretudo em nosso país, o mais diverso em espécies de anfíbios do planeta!”, enfatiza João Victor, coordenador do projeto.

Utilizando o aplicativo telefônico WhatsApp, pessoas de diferentes idades, realidades e localidades interagem com especialistas enviando arquivos de sons ou imagens desses animais.

Em menos de quatro anos, o projeto recebeu mais de 900 arquivos enviados por 160 cidadãos cientistas, contemplando cerca de 40 espécies, incluindo algumas ameaçadas de extinção, raras ou pouco conhecidas pela ciência.

Entre os registros, chamou a atenção dos pesquisadores os do sapinho-de-chifre-paviotii, por ser considerada uma espécie pouco conhecida e classificada como Quase Ameaçada (NT) de extinção.

Direcionados por algumas dessas ocorrências, os especialistas realizaram pesquisa de campo para gravação do repertório vocal utilizando gravadores apropriados e coleta de material genético.

Em laboratório, as gravações foram analisadas utilizando softwares específicos e o DNA foi extraído das amostras, sequenciado e comparado aos demais sapinhos-de-chifre, o que confirmou realmente tratar-se de uma espécie única, distinta de todas as demais do planeta e evolutivamente mais relacionada a três outras espécies que ocorrem no nordeste e sudeste do Brasil.

Cidadão cientista: o que é? Quem pode executar a tarefa?

A participação do público no estudo se restringiu à coleta e envio de dados de ocorrência. No entanto, o envolvimento da sociedade em projetos de Ciência Cidadã pode ocorrer em diferentes níveis e intensidades.

Assim, cidadãos cientistas podem participar da proposição das perguntas de pesquisa, delineamento dos métodos a serem colocados em prática, geração e análise de dados, ou divulgação dos resultados atingidos. Eles podem, inclusive, participar de todas essas etapas.

O projeto “Cantoria de Quintal” tem buscado estimular um maior engajamento do público também em diferentes etapas da pesquisa, como redação de guias fotográficos e textos científicos. Para isso, os pesquisadores têm estreitado laços com estudantes e professores do Ensino Básico, bem como gestores, funcionários, guias turísticos e demais visitantes de Unidades de Conservação.

“Apesar de bastante desafiador, tem sido recompensador observar um maior envolvimento de diferentes setores da sociedade sobre a ciência e conservação, sobretudo se tratando de anfíbios, seres muitas vezes repudiados pela população.

Assim, além de gerar dados valiosos, como os publicados neste estudo, o projeto “Cantoria de Quintal” tem a pretensa meta de aproximar o público, de forma cada vez mais intensa, do método científico, alterando, com isso, a maneira como as pessoas compreendem a ciência, interagem com a ciência e credibilizar a ciência”, finaliza João Victor.

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