Espécie de borboleta recém-descoberta no Brasil já corre risco de extinção
Exemplar da Agojie rupicola foi encontrado em Minas Gerais, mas habitat da espécie sofre com desmatamento; ao todo, Brasil tem 67 borboletas sob risco
06:00 | Set. 25, 2023
Ao ouvir sobre espécies que correm risco de extinção, é comum que se pense em animais ou plantas cuja população já é conhecida há tempos, mas vem diminuindo. Uma borboleta recém-descoberta em Minas Gerais, no entanto, mostra que o perigo existe também para seres que só foram encontrados recentemente.
A Agojie rupicola foi observada por cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA) e da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), durante estudo em uma área no Leste de Minas Gerais. A região, conhecida por "campos rupestres", é parte da Mata Atlântica - ecossistema brasileiro do qual restam apenas 12,4% da vegetação original.
Além de pertencer a uma nova espécie, a A. rupicola também ganhou seu próprio gênero (organização taxonômica que reúne espécies distintas, mas similares entre si), Agojie. O nome foi dado em homenagem a um regimento de guerreiras do antigo reino de Daomé, hoje parte do Benim, na África. Por sua vez, rupicola faz referência à região onde a borboleta foi encontrada.
Para determinar que a borboleta está ameaçada, os cientistas usaram os critérios definidos pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), órgão responsável por catalogar espécies sob risco de desaparecerem. A classificação proposta pelos pesquisadores é "em perigo", segunda mais grave entre os cinco graus antes de um organismo ser considerado extinto.
Este nível pode ser definido por cinco tipos de análise, um dos quais não demanda que se tenha uma estimativa da população total da espécie, sendo usado para organismos recém-descobertos. Para cumprir o critério, é preciso que o risco de desaparecimento seja maior ou igual a 20% em 20 anos ou cinco gerações.
No caso da A. rupicola, o argumento é que o habitat da borboleta está sendo destruído em ritmo acelerado. Segundo os cientistas, as maiores ameaças são desmatamento, queimadas e invasão do ambiente por espécies não-nativas. O risco é maior por se tratar de uma espécie endêmica - que só existe naquela região.
Para ampliar as chances de sobrevivência da espécie, os cientistas propuseram duas medidas. Uma delas é a adoção de um nome popular para a A. rupicola. A ideia é levar o conhecimento sobre a agora chamada "borboleta-guerreira-das-pedras" à população da área, ressaltando a importância de conservá-la.
A segunda ideia é criar uma Unidade de Conservação (UC) nos campos rupestres de Minas Gerais. Os pesquisadores estão elaborando, junto aos órgãos de proteção ambiental, ao poder público e à comunidade da região, uma proposta para tornar a área protegida por lei, evitando que a destruição do habitat da A. rupicola - e de diversas outras espécies - siga avançando.
Brasil tem quase 70 borboletas sob risco de extinção
O caso da A. rupicola, no entanto, não é isolado. O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) reconhece 67 espécies de borboletas sob risco no Brasil. A informação é da Lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção.
Destas, 13 estão no nível "vulnerável". Das cinco categorias da IUCN, esta é a terceira mais grave antes da extinção. A partir deste ponto, passa a existir a necessidade de ações para reduzir as ameaças à espécie, como caça ou destruição de habitat.
Outras 28 são consideradas "em perigo", a mesma da borboleta-guerreira-das-pedras - que se tornará a 29ª da categoria caso o estado de conservação se confirme. Este nível está acima do "vulnerável" e indica que a população de uma espécie tem apresentado redução significativa, que seu habitat conhecido está diminuindo, ou, como no caso da A. rupicola, que uma espécie recém-descoberta foi encontrada em um local que está sendo destruído pela ação humana.
Há, por fim, 26 espécies consideradas "criticamente em perigo". Este é o nível mais grave de ameaça, com os mesmos critérios do "em perigo", mas em maior intensidade. Esta categoria passa a "extinto na natureza" caso os únicos exemplares conhecidos estejam em cativeiro.
Neste último nível, das borboletas brasileiras, três são consideradas "possivelmente extintas". Esta categoria é temporária e usada quando cientistas não encontram mais um organismo considerado "criticamente em perigo" em seu habitat, e os esforços de pesquisa deixam de ser apenas em prol da conservação e passam a visar até mesmo que se achem novos exemplares daquela espécie na natureza.