ExxonMobil previu com precisão aquecimento global, diz estudo

Segundo pesquisadores, petrolífera tinha detalhes, desde os anos 1970, de danos ambientais causados pela queima de combustíveis fósseis, mas escondeu dados

08:22 | Jan. 13, 2023

Por: Bemfica de Oliva
Sede da Exxon Mobil em Houston, Texas; petrolífera sabia desde 1977 dos danos ambientais causados por combustíveis fósseis, conforme pesquisa (foto: Divulgação/ExxonMovil/David Sundberg)

A petrolífera ExxonMobil, uma das maiores do ramo, sabia há mais de 40 anos sobre os impactos ambientais causados pela queima de combustíveis fósseis. A descoberta foi feita por cientistas que analisaram documentos internos da empresa e publicada nesta sexta-feira, 13, no periódico científico Science.

Segundo os pesquisadores, desde 1977 cientistas a serviço da empresa elaboraram modelos que previam, com precisão, as alterações climáticas. Os resultados das análises, quando considerado o aumento mundial no uso de derivado de petróleo, chegaram a números similares aos vistos atualmente.

A investigação descobriu que, entre 1977 e 2003, entre 63% e 83% das pesquisas financiadas pela ExxonMobil encontraram resultados extremamente próximos ao problema atual das mudanças climáticas.

Dentre as previsões, estão o aumento da temperatura média da Terra em 0,2°C por década e que o aquecimento global só seria detectado com precisão por volta do ano 2000.

NEW: In @ScienceMagazine today, our latest peer-reviewed research shows Exxon scientists predicted global warming with shocking skill & accuracy between 1977 & 2003, contradicting the company's decades of climate denial. THREAD.

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— Geoffrey Supran (@GeoffreySupran) January 12, 2023

Ainda assim, no entanto, a ExxonMobil decidiu não divulgar as descobertas. Para além disso, a empresa continuou financiando grupos que negavam as mudanças climáticas.

Segundo Geoffrey Supran, um dos cientistas responsáveis pelo artigo, as descobertas "confirmam cumplicidade" da ExxonMobil com o negacionismo científico. Para ele, há "evidência estatisticamente rigorosa" de que a empresa sabia sobre os riscos ambientais da queima de combustíveis fósseis, mas preferiu desacreditar ambientalistas e cientistas que alertavam sobre mudanças climáticas.

A ExxonMobil negou as acusações. Em nota enviada à Folha de S. Paulo, disse que "esta questão surgiu diversas vezes nos últimos anos", mas já foi avaliada na Justiça.

"Em 2019, o juiz Barry Ostrager, da Suprema Corte do Estado de Nova York, ouviu todos os fatos em um caso relacionado e escreveu: 'O que a evidência em julgamento revelou é que os executivos e funcionários da ExxonMobil estiveram comprometidos de maneira uniforme em desempenhar rigorosamente seus deveres da maneira mais abrangente e meticulosa possível. Os depoimentos destas testemunhas demonstraram que a ExxonMobil tem uma cultura de análise, planejamento, contabilidade e reportes disciplinados.'", citou a companhia.