É falso que jogador dinamarquês tenha se vacinado antes de sofrer mal súbito

Allan diz que "o médico-chefe e cardiologista da equipe italiana confirmou via rádio italiana que Eriksen havia recebido a vacina Pfizer em 31 de Maio". Apesar disso, a rádio citada negou que tenha veiculado entrevista da equipe responsável pelo jogador

21:35 | Jun. 15, 2021

Por: Projeto Comprova
A alegação foi feita pelo blogueiro Allan dos Santos no Twitter (foto: Reprodução)

É falso que o jogador dinamarquês Christian Eriksen, que teve um mal súbito no jogo contra a Finlândia no último sábado, 12, já tenha sido vacinado contra a covid-19. Essa alegação foi feita pelo blogueiro Allan dos Santos no Twitter. Dizendo que não haveria “nada ainda confirmado”, ele afirma que “é grande o questionamento” se o mal-estar seria um efeito adverso do imunizante.

Allan diz que “o médico-chefe e cardiologista da equipe italiana confirmou via rádio italiana que Eriksen havia recebido a vacina Pfizer em 31 de Maio”. Apesar disso, a rádio citada negou que tenha veiculado entrevista da equipe responsável pelo jogador.

Giuseppe Marotta, diretor da Inter de Milão, clube pelo qual o jogador atua, também desmentiu os boatos. “Ele (Eriksen) não teve covid e também não foi vacinado. Eu posso dizer que a equipe médica da Inter está em contato com a equipe médica da Dinamarca desde o início”, afirmou Marotta em entrevista ao canal de TV Rai Sport.

O Comprova não conseguiu contato com Allan dos Santos.

Como verificamos?

O primeiro passo foi buscar informações sobre o incidente na mídia nacional e internacional, bem como os desdobramentos do caso. Procurando a suposta entrevista na rádio italiana, encontramos o tuíte informando se tratar de desinformação.

O Comprova não conseguiu entrar em contato com Allan dos Santos. Seu posicionamento será acrescentado caso ele procure a reportagem.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 15 de junho de 2021.

Verificação

Eriksen foi vítima de um mal súbito

Durante a partida entre Dinamarca e Finlândia na Eurocopa neste sábado, 12, o jogador dinamarquês Christian Eriksen sofreu um mal súbito e chegou a ficar inconsciente em campo.

Ele recebeu massagem cardíaca até ser reanimado e ser encaminhado a um hospital. A partida chegou a ser suspensa, mas foi retomada quando todos no estádio receberam a notícia de que ele estava em condição estável.

Ainda não se sabe o que ocorreu com o jogador. Na manhã desta segunda, 14, o empresário de Eriksen, Martin Schoots, disse ao jornal italiano Gazzetta dello Sport: “Todos nós queremos saber o que aconteceu, ele também. Os médicos estão fazendo exames detalhados, vai demorar”, afirmou.

Diretor e rádio negam boatos de vacinação

O caso de Eriksen chamou atenção pois o jogador não tinha problemas de saúde, informação confirmada pelo seu diretor na Inter de Milão e por um ex-cardiologista de quando ele jogava no Tottenham, da Inglaterra. Logo surgiram rumores infundados de que o jogador teria tomado a primeira dose da vacina da Pfizer 12 dias antes e que isso poderia estar associado com o mal súbito.

Como mostrou a agência internacional de notícias Reuters, essa alegação falsa circulou inicialmente em um tuíte em inglês que foi posteriormente apagado. Apesar disso, prints do tuíte continuaram circulando no Facebook e no Instagram. Segundo esses posts, a informação teria sido revelada pela equipe médica da Inter de Milão em entrevista para a rádio italiana Radio Sportiva.

Isso foi desmentido pelo rádio em sua conta no Twitter. “As informações relatadas no tuíte mencionado são falsas. Nunca relatamos qualquer opinião da equipe médica da Inter de Milão sobre a condição de Christian Eriksen”, diz o tuíte da rádio.

Le informazioni riportate nel tweet citato sono false. Non abbiamo mai riportato alcun parere dello staff medico dell'Inter riguardo le condizioni di Christian Eriksen. Si prega l'autore del tweet di rimuovere il contenuto, altrimenti saremo costretti a prendere provvedimenti. RS https://t.co/annEH7akQb

— Radio Sportiva (@RadioSportiva) 13 de junho de 2021

Ao comentar o bom quadro clínico de Eriksen, seu ex-cardiologista no Tottenham, Sanjay Sharma, deu uma entrevista ao tabloide inglês Daily Mail na qual levantou a hipótese de que “alguns jogadores podem ter se infectado de forma assintomática com covid-19”, o que poderia “ter deixado sequelas no coração”. No entanto, isso foi apenas uma hipótese aventada, uma vez que ele mesmo estava surpreso com o caso, já que nunca encontrou motivo para alarme quando cuidou da saúde do atleta.

Como mostrado pelo Comprova recentemente, já são bem conhecidos os efeitos do coronavírus sobre o coração. A doença pode causar um grave quadro inflamatório em todo o corpo, o que é propício para o desenvolvimento de problemas cardíacos. Além disso, os pesquisadores já identificaram a presença do coronavírus em células do coração e sua relação com uma inflamação do músculo cardíaco chamada miocardite.

No entanto, não foi este o caso de Eriksen, segundo o diretor da Inter de Milão, Giuseppe Marotta. Ele negou que o jogador já tivesse se infectado com o coronavírus ou mesmo que tenha se vacinado. “Ele não teve covid nem havia se vacinado ainda”, disse Marotta ao canal de TV Rai Sport.

Quem é Allan dos Santos

Allan dos Santos é um blogueiro bolsonarista, criador do site Terça Livre. Ele é investigado no inquérito que apura a organização e o financiamento de atos antidemocráticos ao longo de 2020.

As provas coletadas pela Polícia Federal com a quebra de sigilo do aparelho celular de Allan dos Santos mostram que ele mantinha reuniões com deputados bolsonaristas e servidores do Palácio do Planalto. É dele uma mensagem enviada a um assessor de Bolsonaro no qual defende uma intervenção militar no país. Em julho de 2020, ele afirmou que havia deixado o país.

A Polícia Federal pede a abertura de oito frentes de apuração. Cinco meses depois de ser questionada pelo STF sobre a continuação das investigações, a Procuradoria-Geral da República defendeu o arquivamento do inquérito. Cabe ao ministro Alexandre de Moraes determinar o arquivamento ou a continuidade.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova checa conteúdos suspeitos sobre o governo federal e também a pandemia. Damos prioridade para postagens que atingiram alto grau de viralização e assim podem causar mais dano. O tuíte de Allan dos Santos recebeu 12.372 reações, foi retuitado ao menos 1.499 vezes e permanece no ar mesmo após a informação ter sido desmentida por diversos veículos.

As vacinas atualmente disponíveis passaram por várias etapas de testes que garantem sua segurança e eficácia em proteger contra o coronavírus. Conteúdos como o checado lançam dúvidas na população e atrapalham o principal esforço atualmente conduzido pelas autoridades para combater a pandemia.

O Comprova já mostrou que agências regulatórias negam haver risco à fertilidade dos vacinados. Também mostramos ser falso que a Organização Mundial da Saúde recomende uma 3ª dose para a Coronavac.

O boato envolvendo o caso do jogador dinamarquês também foi desmentido pela Reuters, Full Fact, Forbes, Lupa e Fato ou Fake.

Falso, para o Comprova, é conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Esta apuração foi feita por Estadão. A checagem foi feita posteriormente por Uol, Folha de S.Paulo, Correio de Carajás, Correio 24 Horas e A Gazeta.

O POVO participa da coalizão de veículos de Jornalismo em todo o Brasil que forma o Projeto Comprova.