Ação na Justiça pede paralisação imediata de reforma em Igreja de Ubajara

Pároco e bispo da Diocese de Tianguá, citados no pedido de tutela de urgência cautelar, têm cinco dias para contestar ação

12:05 | Mai. 10, 2024

Por: Marília Braga
Pintura "A oração de Jesus Cristo do Horto", desenhada em 1959 na cúpula da Igreja Matriz de Ubajara, foi coberta durante reforma (foto: Arquivo Pessoal)

Após a repercussão negativa sobre a remoção de uma pintura histórica dentro da Igreja Matriz de Ubajara, uma tutela cautelar de urgência foi expedida nessa quinta-feira, 8, pelo Poder Judiciário do Estado do Ceará. A ação pede a paralisação imediata da reforma das pinturas sacras que compõem o acervo histórico da Paróquia de São José. 

Segundo o documento assinado pela juíza Fernanda Rocha Martins, o objetivo da ação é preservar o patrimônio histórico e cultural do Município. São qualificados na ação tanto o padre Carlos Alberto Pereira quanto o bispo da Diocese de Tianguá, Francisco Edmilson Neves Ferreira. 

O POVO procurou, na manhã desta sexta-feira, 10, o padre Carlos Alberto Pereira Magalhães e a Diocese de Tianguá, que responderam que se manifestarão somente perante o Judiciário.

A obra “A oração de Jesus Cristo do Horto”, pintada na semicúpula sobre o altar principal da Paróquia de São José, foi removida nesta semana após consulta técnica que apontou sinais de desgaste.

O padre da Igreja Matriz afirmou que a remoção da pintura foi autorizada pela Diocese de Tianguá para substituição por uma outra obra, no estilo barroco. 

A pintura removida havia sido desenhada e doada há mais de 65 anos pelo artista plástico Antônio Ribeiro Neto. Tratava-se de uma representação da cena bíblica de Jesus no Monte das Oliveiras.

Conforme o documento, o pároco e o bispo da Diocese de Tianguá têm cinco dias para contestar o pedido de tutela cautelar de urgência. 

Patrimônio cultural

A ação na Justiça cita a definição do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para patrimônio cultural: "é composto por monumentos e construções de fundamental importância para a memória, a identidade e a criatividade dos povos e a riqueza das culturas".

Considerada um patrimônio afetivo, histórico e cultural para os fiéis de Ubajara, a remoção gerou repercussão negativa não somente entre os moradores da região, mas também nas redes sociais. 

A juíza Fernanda Rocha Martins aponta que os bens protegidos na ação fazem parte do patrimônio cultural da cidade de Ubajara, mesmo sem o processo de tombamento, e integram a memória da população. 

"Há evidências de danos ou ameaça de danos devido à omissão na conservação da Igreja", disse ela, em trecho da ação.

Opinião

Arte caiada em Ubajara

Nascido em Crateús, o senhor Antônio Ribeiro Neto, emigrou para Ubajara, cidade serrana da Ibiapaba, tão logo casou com dona Lenita. Desse enlace constituíram uma família de dez filhos.


Integrou-se facilmente no convívio social e fortes vínculos de amizade foram construídos, entre eles, com o vigário da paróquia, à época, Pe. Moacir, a quem prometeu pintar, na cúpula sobre o altar mor da igreja de São José a cena bíblica de Jesus no Monte das Oliveiras, no entanto, a promessa só foi honrada, anos depois, quando Pe. Moacir foi transferido para atuar numa paróquia em Natal, Rio Grande do Norte.

A arte do acordo ganhou a mesma beleza e o respeito das pinturas dos artistas europeus que encantam os olhos dos turistas que visitam os museus nos países do velho continente.

Nossa cidade tinha apenas uma pintura pública, essa, presenteada por seu Ribeiro, uma relíquia, orgulho dos ubajarenses e que, agora, não existe mais. O atual pároco contratou um pintor e mandou caiar a obra
citada. Procurado para os devidos esclarecimentos argumentou ter levado o assunto para ser discutido em reunião e que o bispo da arquidiocese de Tianguá havia autorizado, mediante o argumento de problemas estruturais.


Atitude inconcebível! Arte não se destrói, se restaura.


Há poucos anos os brasileiros acompanharam o incêndio ocorrido no museu do Ipiranga em São Paulo. Desastres acontecem. A perda foi quase total, porém, o empenho de todos promoveu uma recuperação rápida e o Ipiranga já está de portas abertas para receber os visitantes.

Nossa intenção é divulgar o ocorrido, deixar nosso protesto, buscar apoio para que Jesus no Monte das Oliveiras volte a ocupar o seu lugar no templo de São José, como também, alertar os conterrâneos para que
fiquem atentos com a casa paroquial. Há notícia de que o mosaico que revestia o piso já foi substituído por porcelanato e que todos os cômodos da casa, inclusive a cozinha, estão em reforma.

A população ubajarense precisa de parcerias que preservem e enriqueçam o patrimônio histórico da cidade, quando isso não acontece o povo perde a confiança. A ocorrência demonstra uma total inversão de valores, quem deveria cuidar, zelar pela tradição cultural, simplesmente a descartou.

Autora: Clara Lêda (Acadêmica da ALMECE, AFELCE, ALA FEMININA, ALJUG, AJEB e Postulante da AULA)
e-mail: claraleda@gmail.com