Onça capturada e morta no Ceará era de espécie rara no Nordeste

Segundo especialistas, além da punição penal para o crime de caça a animais silvestres, sociedade deve passar por uma transformação cultural e conscientização por meio da educação ambiental

A onça parda morta por caçadores na zona rural do município de Tarrafas, no Ceará, era de espécie rara no Nordeste e que corre risco de extinçãoImagens do animal morto foram divulgadas nas redes sociais nessa quarta-feira, 3. Por meio de nota, a Polícia Civil do Ceará informou que investiga o crime ambiental. Quatro suspeitos já foram identificados. 

Além de responder pelo crime de caça à fauna, os suspeitos serão punidos com uma multa que pode chegar até R$ 4 mil. A pena pode variar de três meses a um ano. De acordo com a vice-presidente da comissão de defesa dos Direitos dos Animais da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Ceará, Cíntia Belino, os suspeitos vão responder por dois artigos do crime ambiental: a caça de animais silvestres e o requinte de crueldade.

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Além da multa pelo crime, a advogada afirmou que vai ingressar ação por danos morais com multa de R$ 30 mil para cada suspeito. “Eles viram o animal e resolveram se divertir fazendo a captura desse animal com um certo requinte de crueldade e tortura. Isso dá um aumento de pena. Eles foram pegos por dois artigos, pelos maus-tratos, por causa dos recursos de crueldade, e pela caça de animais, que é proibida”, explicou ao repórter Guilherme Carvalho, da rádio CBN Cariri.

Para o biólogo Leonides Azevedo, a situação da caça de animais silvestres é um problema que requer uma mudança cultural. “Nós podemos avaliar que apenas a aplicação da multa não é suficiente. Isso porque o problema é bem mais profundo, envolve uma questão cultural, e muitas vezes não se discute sobre isso”, afirma.

Segundo Azevedo, é necessário, além da lei penal, discutir políticas públicas que sejam eficientes e garantam, de fato, a conservação da nossa biodiversidade, especialmente com a conscientização da sociedade por meio da educação ambiental.

A caça da onça pode ser motivada tanto pelo prazer de expor um troféu, como pela perda real e potencial de animais de criação predados pelo felino, conforme o biólogo e professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Hugo Fernandes. Ele ressalta que o conflito entre seres humanos e carnívoros silvestres é um problema milenar e concorda que a solução passa pelo rigor da lei, mas que não pode parar por aí.

Fernandes afirma que além da transformação cultural, que envolve investimentos massivos em educação, devem ser desenvolvidas alternativas de renda que possam compensar potenciais perdas, definir boas estratégias de manejo dos animais de criação e tornar a fauna silvestre algo valorável para o Ecoturismo.

Espécie em extinção

A onça, capturada e morta, era um macho Puma concolor, espécie popularmente conhecida como onça parda, bodeira, suçuarana ou onça vermelha e que consta na Lista Nacional de Fauna Ameaçada de Extinção. “É a segunda maior entre os felinos do Brasil, podendo chegar a mais de 70 kg. No entanto, na Caatinga elas costumam ser bem menores, com cerca de 30 a 50 kg, no máximo. É o caso do animal caçado, um macho adulto bastante magro”, explica o biólogo Hugo Fernandes.

Segundo ele, a onça parda alimenta-se sobretudo de mamíferos, como tatus, cotias, tamanduás e mocós, além de répteis de médio porte e aves. São indivíduos solitários e que ocorrem em baixa densidade populacional. No Nordeste, a presença é bastante rara.

O docente afirma que perder uma onça no bioma da Caatinga significa perder um predador de topo bastante raro. “São dois anos até o animal atingir a maturidade sexual (estar apto a se reproduzir), 100 dias de gestação, outros 100 dias de cuidados intensos da mãe para pouquíssimos filhotes, geralmente um ou dois aqui no Nordeste. Todo esse investimento se esvai com um tiro”, diz.

“Cada indivíduo perdido representa anos de uma recuperação populacional cada vez mais lenta e impossibilitada pelas ameaças cada vez mais constantes. As ações de conservação sobre a onça parda precisam ser urgentes para que não ocorra o mesmo que ocorreu com a onça pintada, que foi extinta no Ceará”, alerta.

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