Ataque em escola de Sobral: psicólogos da rede municipal atenderão alunos que presenciaram tiros
Especialista defende retorno com atividades de acolhimento, sem ignorar os sentimentos provocados pelo ataque que podem surgir em alunos e professores
18:33 | Out. 06, 2022
Psicólogos concursados da rede municipal de ensino de Sobral, no interior do Ceará, começaram na manhã desta quinta-feira, 6, a agendar visitas nas casas de alunos da Escola de Ensino Médio Professora Carmosina Ferreira Gomes, onde um aluno levou uma arma para a escola e disparou contra três colegas de classe nessa quarta-feira, 5. Junto dos pais dos adolescentes, os psicólogos devem ouvir e acolher aqueles que estavam na escola no momento do ataque.
De acordo com o secretário da Educação de Sobral, Herbert Lima, os funcionários da escola também terão um momento com os psicólogos da rede. Além disso, esses 50 profissionais que atendiam apenas alunos da rede municipal passarão a prestar serviços para as escolas de ensino médio da cidade, que são geridas pela Secretaria de Educação do Estado (Seduc).
Eles devem se juntar aos profissionais que já atendem as unidades de ensino médio da Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação (Crede) 6 — qutro psicólogos e um assistente social, que trabalham com cronogramas de atendimento às 51 escolas estaduais na região.
Ataque em escola de Sobral: reabertura do colégio
As aulas na escola estão suspensas nesta quinta e na sexta-feira, 7. Herbert afirma que o planejamento é voltar às aulas na segunda-feira, 10.
Em entrevista à rádio O POVO CBN, a secretária de Educação do Estado, Eliana Estrela, disse que “a preocupação não é o retorno imediato” das atividades escolares. “O momento mesmo é de acolhimento. Ontem foi um dia muito difícil, de muita dor. Hoje a gente começa a retomar com essa escuta.”
No primeiro dia de retorno dos alunos, a escola deve contar com a presença de psicólogos e os gestores planejam atividades lúdicas para tratar da situação. A readaptação, segundo Herbert, deve ser o foco do momento.
Cuidados após o trauma do ataque em escola de Sobral
Depois de presenciar um ato de violência armada dentro do ambiente escolar, é esperado que alguns alunos, professores e funcionários sintam medo ou angústia ao voltarem para a rotina no colégio.
Os sentimentos provocados pelo ataque em escola de Sobral, no interior do Ceará, precisam ser ouvidos. Para isso, Edgar Nogueira, doutor em Saúde Emocional na Escola, defende que uma estratégia de acolhimento na reabertura da escola é um passo essencial no caminho de reconstrução da cultura de paz.
Parao pedagogo, a escola não pode reabrir “como se nada tivesse acontecido”. “É muito importante validar o que aconteceu. A escola tem que se preparar para acolher alunos e professores que estarão amedrontados, receosos, e que estarão marcados pela memória do acontecido”, diz o especialista.
É importante também entender que, dependendo da história de vida, experiências, redes de apoio, entre outros fatores, a manifestação do trauma vivido pode ser diferente.
"Não podemos generalizar que todos estarão incapacitados pelo trauma”, alerta Edgar. Ao mesmo tempo, pode acontecer de algum aluno não querer voltar para a escola em tão pouco tempo depois do acontecido. O especialista afirma que, nesses casos, é necessário respeitar a vontade do adolescente.
“Uma coisa que nunca aconselhamos é forçar. [É] Dar espaço pra ele falar por que não quer”, explica. O aluno pode expressar vontade de não frequentar mais as aulas neste ano letivo ou de mudar de escola. Para Edgar, é preciso que isso seja respeitado, caso seja possível fazer acordos e mudanças necessários para acomodar o aluno.
Rodas de conversa mediadas por psicólogos e professores, espaços para fala livre sobre os sentimentos dos alunos e identificar a raiz da violência e outros tipos de agressões que possam ocorrer, como bullying e discriminação, são fundamentais para fortalecer a comunidade escolar.
O acolhimento também é uma forma de lidar com o medo, o trauma e o estresse causados pela violência armada. Somadas a isso, melhorias estruturais na segurança da escola também devem ser planejadas, segundo o especialista.