Ataque em escola de Sobral: como prevenir o bullying em sala de aula

Psicóloga e doutora em Educação, Ticiana Santiago explica como prevenir e combater essas práticas de intimidação sistemática no ambiente escolar

18:58 | Out. 05, 2022

Por: Bia Freitas
Instituições de ensino têm de estar atentas aos sinais de bullying e oferecer escuta especializada (foto: Freepik)

Três adolescentes foram baleados na manhã desta quarta-feira, 5, em ataque a escola de Sobral, a 234,8 km de Fortaleza. As vítimas foram levadas ao hospital, uma delas em estado grave. Em depoimento, o suspeito de ato infracional análogo à tentativa de homicídio, um jovem de 15 anos, afirmou que premeditou a ação porque era vítima de bullying.

O bullying é caracterizado por ações verbais, morais, virtuais, sexuais, sociais, psicológicas, físicas e materiais com objetivo de depreciar ou constranger alguém.

Frequentemente o bullying se apresenta no ambiente escolar, ao qual cabe promover diferentes atividades voltadas para a disponibilização de apoio aos alunos e prevenção dessas formas de violência.

De acordo com a psicóloga e doutora em Educação, Ticiana Santiago, esse trabalho deve ser feito de forma sistêmica e envolver todos que compõem a realidade da comunidade escolar.

“Para esse público têm que ser pensadas metodologias participativas, debates, ações psicoeducativas, jogos gincanas, filmes, músicas, não só em torno de conteúdo, de uma instrução sobre isso, de informações, mas de vivências, experiências, dinâmicas e saberes interdisciplinares diante desse contexto”, indica a profissional.

Para isso, é necessário que esta estratégia aconteça de forma orgânica e esteja contida no projeto político-pedagógico da escola. Isso não deve acontecer somente em momentos pontuais, ou por iniciativa de um professor, mas ser parte da realidade cotidiana da escola.

Ticiana explica também que, durante o período da adolescência, os alunos precisam de leis, limites, interdições e regras das convivência social.

No entanto, para a profissional, por mais que a lei brasileira descreva a escola como um lugar referenciado de desenvolvimento humano e proteção social, esse assunto ainda não é abordado de maneira ideal nas escolas.

Ela pontua que há poucos profissionais de psicologia, psicopedagogia e serviço social nas escolas. Além disso, os professores, mesmo que bem intencionados, em geral têm pouca preparação para identificar casos de comprometimento da saúde mental e fazer o encaminhamento necessário em tempo hábil.

No ambiente escolar, é necessário identificar esses marcadores e oferecer recursos para que essa dor, violência, revolta e conflito possam ser trabalhados. “Quando isso não é ouvido, não é trabalhado, é como se você reverberasse e ampliasse essa dor”, coloca ela.

Assim, a orientação é buscar entender por que esses jovens estão apresentando esses comportamentos e evitar a personificação dos atos nos indivíduos que os cometem.

Para combater a violência no ambiente escolar, é preciso entender que essas ações fazem parte de um contexto social. “A nossa sociedade está tendo dificuldade de lidar com seu repertório socioemocional”, relata Ticiana.

Para Ticiana, jovens que têm redes de apoio e de escuta têm mais facilidade em ressignificar a experiência do bullying e pensar em formas de não internalizar essa dor.

No entanto, o jovem que não encontra esses mecanismos de apoio pode “se transformar potencialmente de vítima a abusador". "Não é em todos os casos, mas tem uma propensão maior de reverberar esse ciclo de violência perversa”, descreve ela.

Diante de casos em que essa violência se concretiza, ela ressalta a importância de a instituição estar atenta a esses marcadores e oferecer escuta especializada, inclusive para os adolescentes que acompanharam e que presenciaram esses acontecimentos, para que eles não desenvolvam síndrome do pânico e outros transtornos de ansiedade.

“É importantíssimo que sejam oferecidos trabalhos tanto para quem cometeu o bullying como para quem sofreu o bullying e para a comunidade escolar como um todo de forma preventiva, para que isso não inspire outros adolescentes”, argumenta a psicóloga. (Colaborou Davi Lima)

Ataque em escola de Sobral: ação foi premeditada


Um adolescente de 15 anos atirou em três alunos dentro da sala de aula na manhã desta quarta-feira, 5, em Sobral. A arma utilizada é registrada no nome de um familiar do jovem e consta como CAC (Colecionador, Atirador, Caçador).

Conforme depoimento do adolescente, o ataque teria sido premeditado após ele ser vítima de bullying. Ele é suspeito de ato infracional análogo à tentativa de homicídio.