Disparos contra Cid Gomes: dois anos após motim, investigação tem pouco esclarecimento

Inquérito segue em andamento e, conforme trecho ao qual O POVO teve acesso, ainda não identificou quem efetuou os disparos

Em um 1º de março como este, mas em 2020, chegava ao fim a paralisação da Polícia Militar (PM) no Ceará. Dois anos após o término do motim, as investigações sobre o episódio mais marcantes daqueles dias ainda não foram concluídas: os disparos efetuados contra o senador Cid Gomes (PDT) enquanto ele manobrava uma retroescavadeira em Sobral.

O inquérito aberto para apurar o caso tem tido sucessivas prorrogações do prazo para conclusão. Em 10 de janeiro último, a Justiça enviou ofício à Delegacia de Assuntos Internos (DAI), que investiga o caso, concedendo mais 90 dias para conclusão das diligências restantes.

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O POVO teve acesso ao inquérito, que tem mais de 500 páginas. Entre as diligências já realizadas estão pedidos de informações sobre as armas acauteladas aos PMs que participaram do motim, com o objetivo de realização de comparação balística com os projéteis encontrados no local do fato. Trecho do documento ao qual O POVO teve acesso foi remetido à Justiça ainda em julho e não há indicativo se a comparação já foi realizada.

Além disso, um policial militar que participou do motim foi convocado para prestar depoimento, mas optou por permanecer calado. Estava marcado para o período entre agosto e outubro do ano passado, o depoimento de mais 32 PMs que participaram do episódio, mas não há nos autos obtidos por O POVO as oitivas.

Questionada se as diligências já haviam sido realizadas, a Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública (CGD) não respondeu. Em nota, a CGD limitou-se a informar que o caso seguia em andamento e destacou que o inquérito tem “alta complexidade por conta do grande número de envolvidos, além do vasto material pericial para identificar a origem dos disparos”.

Não havia ainda no inquérito indícios de quem efetuou os disparos. Os oficiais da PM ouvidos disseram não ter conseguido identificar quem atirou. Um chegou a dizer que os praças não comentavam quem teria atirado por serem “bastante protecionistas entre eles”.

Também o senador Cid Gomes disse não poder reconhecer quem atirou contra ele. Conforme o depoimento dele, após tomar conhecimento do movimento paredista — que incluía, citou, comboios de militares fazendo sinais para comerciantes fecharem as portas — Cid, que estava em Fortaleza, se dirigiu a Sobral.

O ex-governador chegou a gravar vídeo conclamando as “pessoas de bem" a manifestação contra o motim. Assim, ao lado de autoridades de Sobral — berço político da família Ferreira Gomes —, ele iniciou carreata pelas ruas da cidade. Cid disse, porém, que não tinha como objetivo inicial ir até o batalhão onde se reuniam os amotinados, mas, por conta de uma mudança no trânsito, o itinerário da manifestação acabou por ir ao local.

Foi ao observar a barricada no 3º Batalhão que Cid se aproximou e declarou que “daria cinco minutos” para os policiais deixarem o local. Em seguida, Cid disse que conversava com o vereador sobralense Sargento Ailton, que dava apoio ao motim, quando alguém lhe deu um soco no rosto. Passados os cinco minutos, Cid disse ter resolvido subir na retroescavadeira e ir em direção ao portão do batalhão. Ele afirmou que não tinha como objetivo ferir os policiais, apenas desobstruir a passagem.

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O senador ainda disse que, quando os tiros foram efetuados, pensou que pedras haviam sido jogadas contra o vidro do veículo. Ele só percebeu que havia sido atingido por um tiro quando uma pessoa subiu na retroescavadeira e o informou. Cid levou dois tiros no lado esquerdo do peito. Também o então secretário de segurança de Sobral, Erlânio Matoso, foi ferido, no punho e na mão.

Ao inquérito também foi anexado o boletim de ocorrência registrado pelo deputado federal Capitão Wagner (Pros) imputando a Cid Gomes os crimes de dano ao patrimônio público e tentativa de homicídio.

 

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