A Polícia Civil investiga a intervenção de uma facção criminosa nas eleições do município de Santa Quitéria, a 229 quilômetros de Fortaleza, no Ceará. Os levantamentos começaram após pichações relacionadas a uma organização criminosa e, em seguida, com a prisão de uma candidata a vereadora, na quarta-feira, 11, suspeita de tráfico de drogas. Com a prisão dela e mais três pessoas, a Polícia Civil passou a apurar um esquema para matar o atual prefeito da cidade. 

O auto de prisão em flagrante que envolve a candidata a vereadora Debora Costa Bezerra, conhecida como DJ Débora, Luciano Lúcio da Costa, que veio de Fortaleza e é apontado como o responsável pela execução no caso, Maria Clara Pereira de Araújo, que estava na casa onde havia a droga, e Michel Franklin Gomes Higino, integrante do Comando Vermelho (CV) que recebia ordens do chefe da facção no município e articulava o plano. 

A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informou, por meio de nota, sobre as prisões de quatro pessoas e que houve a apreensão de uma arma de fogo e drogas. A ofensiva foi realizada pelos militares que avistaram uma dupla em uma motocicleta em atitude suspeita.

A dupla, identificada como Luciano Lucio da Costa, 30, que possui antecedentes por violação de domicílio e roubo, e Michel Franklin Gomes Higino, 31, foi abordada e com eles foi apreendida uma pistola municiada, além de uma pequena quantidade de cocaína. Os policiais questionaram os suspeitos sobre onde eles estavam e os mesmos apontaram a residência de uma mulher, identificada como Débora Costa Bezerra, 21, candidata a vereadora.

No local, a Polícia encontrou ainda Maria Clara Pereira de Araújo, 18. Lá foram apreendidos 745 gramas de maconha, 65 gramas de cocaína, 150 gramas de um pó branco usado para desdobramento da droga, dois aparelhos celulares, um notebook, uma quantia em dinheiro, apetrechos para comercialização de entorpecentes, além de uma motocicleta.

Drogas na casa de candidata a vereadora 

No depoimento do Boletim de Ocorrência (B.O) obtido pelo O POVO os policiais responsáveis pela abordagem relatam que o suspeitos abordados durante o começo do patrulhamento afirmaram que estavam recebendo ordens de um indivíduo conhecido como "12", que seria um dos líderes da facção Comando Vermelho, em Santa Quitéria. E o condutor da motocicleta relatou que levava Luciano para casa da Dj Debora, onde foram feitas as diligências e encontradas mais drogas.

Durante os levantamentos, os policiais descobriram que havia a articulação para atentados que aconteceriam durante a noite. Um dos alvos seria um homem chamado Zé Mendonça, além dele, o atual prefeito da cidade e candidato ao segundo mandado pelo município de Santa Quitéria.

Conforme o documento, os suspeitos também apontaram um homem chamado Raul, que seria vigilante de rua na cidade e que seria envolvido com a facção criminosa. Diante da situação, ele é investigado como envolvido em pichações do Comando Vermelho que estão espalhadas pela cidade.

Entre as apreensões da operação estão um celular, maconha, cocaína, uma pistola .40, munição, pó branco, sacos de dindin, material de campanha política (1.000 unidades), uma motocicleta e um notebook.

Preso afirma no depoimento recebeu ordens de facção via WhatsApp

No depoimento do preso Luciano Lúcio da Costa, obtido pelo O POVO, ele afirma que reside em Fortaleza e que recebeu ordens via WhatsApp de um chefe do Comando Vermelho para realizar uma "missão" em Santa Quitéria. Houve uma combinação para que ele se encontrasse com um homem chamado Carlos. Ele relata que ao chegar em Santa Quitéria foi recebido por um homem desconhecido e que a determinação foi da facção, mas que não "conhece" o nome da pessoa que designou.

Ainda conforme o depoimento de Lúcio, a arma que ele utilizava foi comprada em um feira de Fortaleza e que viajou para Santa Quitéria apenas para cumprir a missão determinada pela facção.

Pais de candidata a vereadora foram ameaçados para que ela guardasse droga 

Já no depoimento de Maria Clara, uma das suspeitas presas, ela afirma que é namorada de Débora e que a candidata foi ameaçada por Michel para que guardasse a droga na casa. Além disso, relatou que Michel é do Comando Vermelho e que o material de campanha encontrado na casa é da candidata. Ela ainda afirmou que não sabia que Michel faria um atentado contra o prefeito. E, ainda, que não participa da facção criminosa.

Já no depoimento da candidata a vereadora, Débora Costa Bezerra, ela afirma que é candidata pela coligação do candidato Braguinha. Ela relatou que, em relação as drogas, o entorpecente seria repassado a outras três pessoas que revenderiam e alegou que foi coagida por "12" para que aceitasse as ordens, caso contrário, matariam seus pais. Débora afirma que as ameaças eram feitas por ligações.

A candidata afirmou que ajudava na venda de entorpecentes em uma boate de Santa Quitéria, mas que na situação da prisão em flagrante da quarta-feira, ela cedeu a casa para que Michel efetuasse a venda da droga em quantidades menores.

No fim do depoimento de Débora, ela afirma que Michel disse que iria buscar alguém para "matar gente". 

Preso afirma que facção planejava atentado contra prefeito

No depoimento de Michel, obtido pelo O POVO, ele afirma que é do Comando Vermelho e que recebeu ordens de Carlos, que também é conhecido como "12". Eram R$ 200 para realizar pichações com o símbolo da facção CV nas residências dos adeptos ao candidato Thomaz Figueredo, na semana passada.

No depoimento, Michel afirma que a facção está apoiando o candidato Braguinha, com ordens de Carlos, para aterrorizar os envolvidos na campanha de Thomaz Figueredo.

A droga que havia sido deixada na casa da candidata, conforme o depoimento de Michel, seria para venda e que o dinheiro seria depositado em uma conta bancária indicada por "12". Além disso, ele relatou que a maconha seria de Débora e a cocaína era dele.

Michel era o encarregado por buscar Luciano e deixar na casa de Débora. E que a função do Luciano seria de efetuar disparos na residência de Zé Mendonça, que é braço direito de Thomaz Figueiredo. Disse ainda que Luciano iria efetuar um atentado contra o atual prefeito junto de alguém que eles não identificaram no depoimento.

 

Justiça converte prisão em flagrante na prisão preventiva

O Ministério Público do Ceará, por meio da promotoria de Justiça de Santa Quitéria, pediu pela conversão da prisão em flagrante pela preventiva afirmando que os "flagranteados detêm periculosidade extrema, são integrantes ativos da facção criminosa Comando Vermelho, a qual vem aterrorizando e gerando medo na sociedade, além de serem reincidência na prática de delitos", afirmou.

A 2ª Vara da Comarca de Santa Quitéria decidiu, na quarta-feira, 11, pela conversão da prisão preventiva, pois entendeu que há provas de materialidade e que os indícios são suficientes.

Confira nota do PSB de Santa Quitéria acerca do nome do candidato a prefeito Braguinha (PSB) ter sido citado no inquérito: 

O Partido Socialista Brasileiro – Seção Santa Quitéria vem através desta repudiar toda e qualquer ação de cunho ilícito praticada durante o processo eleitoral e afirma o compromisso de lutar pelos ideais democráticos que regem a filosofia, visão, missão, valores e propósitos deste partido.

Aproveitamos o ensejo para, com todas as nossas forças, alertar a população do município sobre as investidas do atual prefeito, Tomás Antônio Albuquerque de Paula Pessoa, junto a candidatura majoritária e proporcionais do Partido Socialista Brasileiro em Santa Quitéria.

Os projetos de poder político e a necessidade de enriquecimento fácil, rápido e improbo embalados por esse senhor que, diga-se de passagem, é contrário aos interesses do povo tão sofrido deste município, não encontram barreiras ou limites e ultrapassam valores básicos como a moral, a ética e os bons costumes.

O Partido Socialista Brasileiro – Seção Santa Quitéria, na pessoa de seu presidente, o candidato Braguinha, intervém e se indigna com as acusações realizadas solicitando das autoridades policiais de alto escalão providências urgentes para conter a disseminação de Fake News e, principalmente, de ódio no processo democrático que ora se apresenta.

Vale ressaltar que temos um forte compromisso com a verdade e a transparência e não compactuamos e, tampouco, aceitaremos tais práticas adotadas pelo atual gestor.

Por fim, saudamos a população quiteriense e reforçamos o desejo de uma Santa Quitéria livre, próspera e digna de seu povo. Tal sentimento é refletido no olhar de esperança de cada cidadão de bem que nasceu ou escolheu esta terra para fazer sua morada.

A forte ascensão do candidato de oposição, José Braga Barrozo do PSB, só prova que o povo acordou, quer se libertar e ser mais feliz.

Sem mais para o momento,

Subscrevemo-nos.

Antônio Nivaldo Gomes Mororó Júnior
Vice-presidente do PSB Santa Quitéria

PSB estadual também emite uma nota oficial sobre a prisão da candidata a vereadora e sobre a citação de Braguinha no inquérito 

Nós, do Partido Socialista Brasileiro, fomos surpreendidos com a notícia do envolvimento de uma candidata a vereadora pelo PSB de Santa Quitéria, conhecida como DJ Débora, e uma facção criminosa.

De antemão, nosso Partido não compactua com qualquer ação que infrinja a lei. E é por isso que repudiamos veemente o possível vínculo de filiados com organizações e atividades criminosas.

Além disso, o PSB acredita que está diante de uma articulação que quer deslegitimar a campanha do candidato a Prefeito Braguinha, pelo PSB de Santa Quitéria, nome que vem crescendo no cenário político local.

Braguinha é um homem honesto, dedicado e responsável, que sempre trabalhou pelo seu povo, especialmente para aqueles que mais precisam. Seu compromisso é com a verdade e a justiça, diferentemente das mentiras que envolvem seu nome.

O PSB tomará todas as medidas legais para que sejam apurados os relatos envolvendo o nome do PSB e para que os envolvidos também sejam punidos ao rigor da lei.

Partido Socialista Brasileiro