Você sabia? Quixeramobim já declarou a independência do Brasil
Entenda período histórico de Quixeramobim, no interior do Ceará, que precedeu Confederação do Equador, com destituição do imperador Pedro IAntes do manifesto assinado por Manoel de Carvalho Paes de Andrade, presidente da província de Pernambuco, anunciar a Confederação do Equador, em 2 de julho de 1824, outra cidade tomou a frente do rompimento com o imperador Dom Pedro I: Campo Maior.
Caso o nome não pareça familiar, vale destacar uma carta régia de 13 de julho de 1789, inaugurando a vila com a seguinte denominação: Villa Nova do Campo Maior de Quixeramobim. Foi sob o último título - Quixeramobim - que a cidade veio a ser conhecida.
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Seis meses antes do documento feito por Paes de Andrade, a Câmara da vila de Campo Maior declarou, em 9 de janeiro de 1824, o fim da dinastia de Bragança, representada no Brasil por Pedro I, e o estabelecimento de “uma República estável e liberal”.
Conheça o processo de independência de Quixeramobim no interior do Ceará.
Quixeramobim: como a vila declarou independência?
O estopim do descontentamento foi representado pela decisão do imperador Dom Pedro I de fechar a Assembleia Constituinte em 1823, que seria responsável por redigir a primeira Constituição no Brasil independente. O motivo é citado no termo de sessão da Câmara de Campo Maior:
“Acordaram que em vista à horrorosa perfídia de D. Pedro I, imperador do Brasil, banindo a força armada nas cortes convocadas no Rio de Janeiro contra mil protestos firmados pela sua própria mão, ele deixava, e a sua dinastia, de ser o supremo chefe da nação”.
Como soberano, Pedro I não aceitava as proposições para um sistema de governo monárquico representativo, o que acarretaria na redução de seu poder. A resposta foi outorgada em março de 1824: uma Constituição que manteria a concentração de autoridade nas suas mãos.
Entre as autoridades envolvidas no processo de independência de Campo Maior (Quixeramobim), encontrava-se militares, comerciantes e o clero, em especial o padre Gonçalo Ignácio de Loiola Albuquerque e Melo (Padre Mororó). O nome de Mororó consta, inclusive, no documento referente à proclamação da vila.
“Entre janeiro e fevereiro de 1824, representantes envolvidos na República de Quixeramobim tentaram influenciar outras vilas na época a proclamarem a república, como Icó e Aracati, por exemplo”, relata o historiador Weber Porfirio, membro do Grupo Sociedade de Estudos do Brasil Oitocentista (Sebo-UFC) e pesquisador do movimento político Confederação do Equador.
Porfirio acrescenta que a notícia da República de Quixeramobim repercutiu e foi noticiada no jornal Typhis Pernambucano por Frei Caneca, em maio de 1824.
A sublevação na vila ainda citava a figura de José Pereira Filgueiras, instando a tomada “do comando das tropas da província” e o estabelecimento de “um novo governo salvador”. O militar seria futuramente um dos insurgentes na Confederação do Equador.
Quixeramobim: movimento precedeu a Confederação do Equador
O anúncio que instava a independência de Quixeramobim, em janeiro de 1824, precedeu por alguns meses a Confederação do Equador, que reuniria insurgentes em províncias como Ceará, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Paraíba.
“Uma discussão muito pertinente ainda hoje é sobre as reais intenções da Confederação do Equador”, inicia Johny Santana, professor do Departamento de História da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e sócio-correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB).
De acordo com Santana, o movimento se insurgiu contra os ditames do Imperador, mas há uma compreensão de que o gesto também poderia ser uma inspiração para que as demais províncias se revoltassem sob uma bandeira de maior autonomia e descentralização.
“Por outro lado, também há uma visão historiográfica que aponta para a compreensão de que, uma vez existindo os desmandos do Imperador, a ideia de separação dessas províncias talvez fosse uma opção, levando a uma ruptura institucional e ao surgimento de uma República confederada”, explica.
Outras discussões ainda consideram se as lideranças de fato tinham uma ideia do que seria uma confederação de estados, como avalia o historiador. “Nesse caso, a busca não seria por maior autonomia (federalização), seria por separação mesmo, a implantação de um Republicanismo”, diz.