Menino de 11 anos escreve para juíza pedindo que padrasto seja seu pai

Ângelo Ravel teve o nome dos dois pais reconhecidos juridicamente, o biológico e o afetivo. Decisão aconteceu por iniciativa do garoto e ajuda de uma carta

17:37 | Mar. 16, 2024

Por: Pedro Dias
Na foto, o pai afetivo José Adilton e seu filho Ângelo Ravel (foto: Divulgação/Deborah Duarte)

Na cidade de Quixeramobim, no Sertão Central do Ceará, um caso envolvendo o parentesco de uma criança de 11 anos ganhou repercussão nacional. A história é do garoto Ângelo Ravel, que entregou uma carta para a juíza do município pedindo para registrar seu padrasto, o agricultor José Adilton, como pai.

Nesta quarta-feira, 14, a Defensoria Pública do Estado do Ceará divulgou em seu portal informativo que a Justiça reconheceu o vínculo afetivo da criança com seu padrasto. Dessa forma, Ravel passa a assumir o duplo parentesco jurídico, incluindo o sobrenome “Moraes” em seu nome e passando a ter os direitos de herdeiro legítimo.

Além disso, na certidão de nascimento de Ravel, constará o nome dos dois pais, o biológico, com quem não possui contato, e o afetivo, que convive há 7 anos.

Ravel insistiu para escrever carta, ganhou pai e carinho da cidade

Teresa Cristina Nunes, mãe da criança, explica que, no começo, a família não esperava que fosse possível incluir o sobrenome do pai afetivo. “A gente não sabia que existia essa possibilidade (de incluir o duplo parentesco), a gente achava que só quando ele tivesse 18 anos, provavelmente, ele pudesse mudar”, informa a mãe.

Teresa explica que Ravel, teve conhecimento de que uma juíza estaria “distribuindo cestas básicas no interior” e logo perguntou se poderia escrever uma carta, pedindo para ser filho de José Adilton, e entregar à juíza. A mãe, de início, não acreditou que a estratégia pudesse funcionar, mas o menino insistiu e a carta foi escrita e entregue.

"Quando ele escreveu a carta eu pensei que não deveria entregar, porque ele ia se decepcionar, porque não ia dar certo... e foi totalmente diferente, né?", reflete Teresa.

Atualmente, caso se tornou popular entre as pessoas da cidade e os colegas da escola de Ravel. “Ele diz que quando chega na escola os colegas falam, ‘olha o menino que passou no Fantástico’, ‘o menino da carta da juíza’”, conta.

“Quando eu fui matricular o Ravel aqui na escola nova, a moça chamou o nome dele, disse que era muito bonito e a já conhecia a história”, lembra de uma ocasião. E o carinho da cidade prossegue: “Hoje mesmo, eu fui para a cidade e uma mulher na loja me perguntou sobre ele (Ravel), perguntou como é que tava a situação da audiência e eu disse que tinha dado certo”, conta Teresa.

Parentesco afetivo: o parecer jurídico do caso

Sobre as formas que poderiam ter sido adotadas para incluir José Adilton como pai da criança, o defensor público Jefferson Leite explica: “O processo de inserção do sobrenome do padrasto na certidão da criança poderia se dar tanto por meio da adoção quanto por meio do reconhecimento de paternidade socioafetiva, que ainda é um instituto novo no direito brasileiro.”

Ele destaca a representatividade do parecer jurídico para que Adilton tenha a representatividade paterna junto à Ravel. “Agora não vai ter mais problemas para se matricular, em representá-lo em entidades públicas, hospitais, instituições de ensino…”, informa o defensor. “Ravel para a ter os direitos sucessórios, direitos patrimoniais, direito a afeto.”

Jefferson também explica que qualquer pessoa pode fazer a solicitação de inclusão do parentesco, “desde que fiquem bem caracterizadas as provas de que essa relação é uma relação duradoura e permanente, de que se tratam como pai e filho, de que esses requisitos já são realizados na prática”.