Estudantes do sertão cearense usam realidade aumentada para auxiliar pessoas com baixa visão
O projeto, ainda em fase de testes, faz parte de grupo de tecnologia assistiva e já participa de concursos nacionaisAplicativo voltado para pessoas com miopia, baixa visão e outras dificuldades visuais está sendo desenvolvido por universitários cearenses. O funcionamento depende apenas de um smartphone e de um óculos de realidade aumentada para encaixar o aparelho. Comandado por voz, ele é capaz de ampliar e movimentar imagens, facilitando atividades educacionais. Em fase de testes, o VREye pode ser disponibilizado gratuitamente em breve.
O projeto é desenvolvido por Marcelo Martins e Jeimison Moreno, estudantes de Engenharia de Computação na Universidade Federal do Ceará (UFC) em Quixadá, sob orientação do professor Wagner Al-Alam e da administradora do campus, Roberta Dutra. Roberta conta que o VREye se inspirou em um sistema já disponível no mercado, porém compatível somente com uma marca de smartphones. “É uma ideia nova que estamos implementando e surgiu de uma necessidade do campus: temos um aluno e um professor com dificuldade permanente de enxergar”, completa Martins.
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AssinePaulo Ricardo Lopes é o estudante de Engenharia de Computação que perdeu cerca de 90% da visão do olho direito e toda visão do olho esquerdo decorrente de uma virose contraída em 2016. “Um grande problema que eu tenho durante as aulas é depender somente da audição e algumas coisas são mais fáceis de compreender por imagens”, explica o estudante que precisa “tirar fotos do quadro e dar zoom” para enxergar os diagramas. A expectativa é que o aplicativo auxilie não só o dia a dia de Ricardo, mas que possa ajudar outras pessoas. “Estamos realizando testes e procurando implementar mais funcionalidades”, conta Martins.
Mesmo em fase de nova prototipagem, o VREye já participa de competições nacionais, entre elas o V Concurso Apps.Edu. Se selecionada, a equipe apresentará o projeto nos dias 12 e 13 de novembro para uma banca de avaliadores no Congresso Brasileiro de Informática da Educação, em Brasília. Caso o prêmio venha, a contrapartida será disponibilizar o app para download gratuito para alunos de baixa renda e matriculados em escolas públicas. Para divulgar o produto, eles produziram um vídeo explicando o funcionamento.
Tecnologias assistivas
A partir do caso de Ricardo, os núcleos do campus da UFC se formaram para desenvolver tecnologias assistivas, inicialmente focadas nas deficiências visuais. Como explica a professora Roberta Dutra, tais tecnologias promovem inclusão e auxiliam pessoas com algum tipo de deficiência. Atualmente, os estudantes de Quixadá têm quatro projetos voltados a deficientes visuais: o aplicativo de realidade aumentada, uma bengala inteligente, um aplicativo capaz de detectar obstáculos acima da linha da cintura (o já premiado Smart Glasses) e uma surpresa que deve ser apresentada no Salão do Inventor Cearense em outubro próximo.
Segundo Roberta, a missão da célula de tecnologias assistivas é “produzir tecnologia de baixo custo e acessíveis para quem não pode pagar”. Até o próximo ano, devem ser desenvolvidos produtos voltados para deficientes auditivos e para autistas. Entretanto, diante da ausência de bolsas remuneradas e do corte de verbas para a educação, estudantes e professores enfrentam dificuldades e mantém as iniciativas com recursos próprios ou advindos de rifas.
Para driblar esse cenário, o campus da área de tecnologias conta com Núcleo de Inovação e Empreendedorismo (Inove), que busca impulsionar as ideias dos alunos e captar apoios de empresas e da comunidade. “O desenvolvimento dessas tecnologias não requer só conhecimento tecnológico, requer conhecimento humano. É saber se colocar no lugar do próximo e promover acessibilidade”, opina Marcelo. Para o engenheiro, o incentivo para desenvolver tais tecnologias causa impactos sociais e vai além do estudado nas disciplinas curriculares obrigatórias.
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