Carnaval em Paracuru tem menos público, mas devolve sorriso aos foliões
Após três anos sem ter festas carnavalescas oficiais, município voltou a ser motivo do sorriso estampado no rosto de foliões.O primeiro dia do Carnaval em Paracuru, comemorado no sábado, 18, contou com um público menor ao observado no festejo em anos anteriores— de acordo com relatos de alguns antigos frequentadores e de moradores da cidade. No entanto, o município ainda assim registrou lotação e, após três anos sem ter festas carnavalescas oficiais, voltou a ser motivo do sorriso estampado no rosto de foliões.
Há pelo menos quatro décadas a cidade do Litoral Oeste cearense se transformou em um dos polos mais tradicionais do Carnaval no Estado. Em 2020, a alegria de quem gosta de curtir a festa no município foi ameaçada pelo cancelamento do festejo oficial, em razão dos motins de policiais militares. Já nos dois anos seguintes ela foi completamente anulada por conta das restrições decorrentes da pandemia.
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Foram cerca de 39 meses sem a presença de bandas, marchinhas e do sentimento de festividade que toma conta das ruas nessa época do ano. Não à toa, o retorno da festa teve a alegria como cartão de visita. Já no tradicional mela-mela, realizado nas praças da cidade, era possível ver crianças, jovens e idosos com sorrisos largos nos rostos, seja por fazer parte da brincadeira ou por apenas observá-la.
Guilherme Albuquerque, 25, foi um dos foliões que teve a alegria carnavalesca "resgatada". O jovem sempre frequentava a festa em Paracuru ao lado da esposa e não via a hora de poder voltar ao festejo. "É uma alegria imensa (o retorno da festa). Passar dois anos sem carnaval...Deus é mais", diz.
Neste ano, ele finalmente conseguiu matar a saudade de curtir o Carnaval com a companheira e encontrou um movimento "menor", segundo relata, ao que observava geralmente, mas se mostrou satisfeito com a festa. Dessa vez, aliais, ele e a esposa têm um motivo a mais para sorrir, pois estão à espera do primeiro filho do casal.
Além de brincar no rosto dos apaixonados, o sorriso também passeava nas feições das crianças e nas das mães que observavam os filhos se divertirem. Camila Fernanda, 28, veio de Natal (RN) com a família pela primeira vez para aproveitar o Carnaval em Paracuru e achou ótima a experiência.
Sentada no banco da Praça da Matriz, ela monitorava os filhos que corriam esbaforidos pelo espaço, jogando goma e spray entre eles. As três crianças, que têm entre cinco e 11 anos, vez ou outra eram repreendidas pela genitora— mas nem assim deixavam de gargalhar, em êxtase, com a brincadeira.
Sorriso de quem venceu dificuldades
O retorno da festividade trouxe de volta também o sorriso de moradores que costumavam aumentar a renda com o festejo nessa época do ano. Locais aproveitam para ganhar dinheiro com a venda de diversos produtos durante o período de folia, devido ao aumento do número de pessoas na Cidade.
Oneide Silva, 34, levou o seu carrinho de pipoca para a festa na esperança de conseguir ganhar uma grana extra, já que passou dois anos sem conseguir vender por conta da pandemia. Ao lado do filho, a mulher de riso tímido e olhos desconfiados deixa transparecer o quanto o período sem vendas foi ruim.
Logo no início da noite de sábado, a moradora parecia frustrada com a movimentação, afirmando que em anos anteriores "ninguém conseguia nem se mexer ali (na Praça do Farol)". Ainda assim, depois de vencer a timidez, ela deixa escapar uma gargalhada que parecia há muito tempo presa.
Já Teresinha Mendes, 75, sorri de forma diferente: com os olhos. Moradora de Paracuru, ela trabalha no Carnaval da cidade desde 1996 e já viu muita coisa na festa, mas talvez nada tenha lhe afetado tanto quanto ficar sem ela e, principalmente, sem a oportunidade de trabalhar durante a pandemia.
Para se manter financeiramente, a senhora de rugas expressivas e fala eloquente diz que contou com a ajuda de terceiros. "Essa pandemia trouxe muita coisa ruim, a gente ficou sem trabalhar (...) O Carnaval traz muita alegria e renda pra gente, principalmente pra gente da cidade. O município precisa", desabafa.
Teresinha montou sua barraca de comida na Praça da Matriz e se mostrou esperançosa de que iria fazer boas vendas. Apesar de alguns moradores e comerciantes acharem o movimento nas praças menor ao que era observado nos anos anteriores, os polos carnavalescos da cidade lotaram de gente e, depois de anos tão difíceis— tiveram como folião principal a alegria.
Nota dez para a empolgação da criançada
Passar pelo mela-mela sem querer se sujar parece uma afronta a tradicional brincadeira. Tentei burlar "a regra", mas não contava que dezenas de crianças me fariam falhar tão terrivelmente nessa missão. Fantasiadas de personagens diversos, elas incorporavam a fantasia que vestiam e preparavam verdadeiras emboscadas para jogar goma e spray em quem passasse distraído por elas.
Depois de acertarem o alvo saiam gargalhando, aquela gargalhada infantil, gostosa, que faz a gente querer rir junto. Foi a criançada quem, de longe, mais se divertiu com o mela-mela. Os rostos melados de goma e os risos inocentes e extravasados deram vida a cada pedaço de chão daquelas praças.
E como ficar com raiva depois de perceber que foi atingida por um mini Homem-Aranha ou por uma mini Rapunzel? Impossível. No fim, aqueles olhinhos serelepes ajudaram a resgatar a alegria boba, quentinha, que dá sentido a brincadeira e que faz tudo ao redor ganhar as cores do Carnaval.