Vereador de Monsenhor Tabosa é acusado de envolvimento com chefe de facção

Ivanildo da Topic, como é conhecido, apareceu em investigação da Polícia Civil negociando com homem apontado como chefe do Comando Vermelho na Região Norte do Estado

07:18 | Out. 29, 2024

Por: Lucas Barbosa
Investigação foi realizada pela Delegacia Regional de Crateús. Imagem meramente ilustrativa (foto: Ascom/PC-CE)

O vereador de Monsenhor Tabosa, município do Sertão dos Crateús, preso na última quinta-feira, 24, é acusado de envolvimento com o chefe de uma facção criminosa que age na região. Raimundo Soares de Lima, conhecido como Ivanildo da Topic (PSB), de 48 anos, nega ter praticado crimes.

Ele foi um dos alvos da segunda fase da operação Concórdia, deflagrada no último dia 26 de setembro pela Delegacia Regional de Crateús, município distante 107 quilômetros de Monsenhor Tabosa.

O caso tramita em segredo de Justiça, mas O POVO teve acesso a um acórdão do Tribunal de Justiça do Estado (TJCE), referente a um habeas corpus pedido por um outro alvo da operação, em que há um resumo da acusação contra o vereador.

Conforme a peça judicial, a partir de interceptações telefônicas, a investigação apontou que Raimundo “agiu, juntamente com 'Doze', tratando dos transportes das drogas, inclusive mandando o seu próprio CPF como chave pix para que Anastácio enviasse um pix sobre o valor dos transportes".

Anastácio Pereira Paiva, de 35 anos, é responsável por fornecer drogas e armas para integrantes da facção criminosa Comando Vermelho (CV) em grande parte das cidades da região Norte do Estado, afirma a Polícia Civil do Ceará.

Anastácio consta na lista de de Mais Procurados da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), onde ele é descrito como “homicida e traficante, faz parte de organização criminosa” e “considerado perigoso”.

Conforme o acórdão, a Polícia Civil tem informações de que Anastácio está escondido no Rio de Janeiro. Contra ele, constam três mandados de prisão em aberto no Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP).

"A participação de um agente público com tal cargo reforçando ainda mais seu poder (da organização criminosa) e suas operações", afirmou o colegiado da Vara de Delitos de Organizações Criminosas ao decretar a prisão preventiva do vereador.

“A facção se destaca por ser extremamente bem alinhada com seus objetivos, com estrutura sólida, composta por uma hierarquia definida e funções bem distribuídas entre seus membros”, também consta na decisão.

“Essa combinação de alinhamento, estrutura e organização faz com que a facção se mantenha coesa e eficaz, mesmo em cenários adversos”.

Raimundo foi eleito em 2020 com 508 votos. Nas eleições municipais deste ano, ele não conseguiu eleger-se, ficando como suplente após receber 152 votos.

Ao todo, dez mandados de prisão preventiva e 13 mandados de busca e apreensão foram cumpridos durante a operação Concórdia. As investigações tiveram início em 2022, divulgou em setembro a SSPDS.

Posicionamento da defesa

A defesa do vereador — realizada pelos advogados Anderson Rabelo e Isleno Alves — negou que ele tenha envolvimento com Anastácio ou outros integrantes da facção. Rabelo afirmou a O POVO que há cerca de 13 anos Raimundo trabalha com o transporte de pessoas e passageiros, fazendo o percurso entre Monsenhor Tabosa e Fortaleza.

Em meados de 2022, prossegue o advogado, Ivanildo recebeu o contato de uma pessoa, que ele não conhecia, contratando os seus serviços de transporte. Assim, ele conduziu quatro pessoas da Capital até Monsenhor Tabosa. Posteriormente, a mesma pessoa entrou em contato com ele novamente pedindo para que ele levasse uma encomenda até Fortaleza.

Rabelo destaca que, “assim como qualquer outra pessoa que trabalha com transporte”, Ivanildo não tem como ter controle ou fazer uma vistoria aprofundada de cada encomenda. “Ele recebeu a encomenda sem saber do que se tratava e, de fato, não tem certeza ainda do que se tratava. Nem mesmo a investigação faz menção”, afirma o defensor.

O advogado ainda acrescentou que Raimundo sequer foi indiciado até o momento e que um habeas corpus foi impetrado no TJCE pedindo a soltura dele. “Vale destacar também que Ivanildo é uma pessoa primária, bem-vista na sociedade”, diz.

“A defesa acredita com veemência que, assim como ele falou para o delegado no seu interrogatório, todas as questões vão ser esclarecidas no momento oportuno”.