Vídeos em celular de PM preso mostram advogada sendo monitorada dias antes de ser morta
O soldado Daniel Medeiros de Siqueira e o sargento Francisco Amaury da Silva Araújo são suspeitos de participação nas mortes de Rafaela Vasconcelos de Maria e de sua mãe Maria Socorro Vasconcelos de Maria. Eles negamVídeos encontrados no celular de um dos policiais militares presos suspeitos de envolvimento nos assassinatos da advogada Rafaela Vasconcelos de Maria, de 34 anos, e da mãe dela, Maria Socorro Vasconcelos de Maria, de 78 anos, reforçam os indícios de participação dos agentes de segurança no crime. As imagens mostram o que seriam diligências de reconhecimento da rotina da advogada, conforme o Auto de Prisão em Flagrante (APF), ao qual O POVO teve acesso.
Os PMs autuados pelo crime são o soldado Daniel Medeiros de Siqueira e o sargento Francisco Amaury da Silva Araújo. Eles foram presos no sábado, 25, no mesmo local onde a moto utilizada no duplo assassinato foi encontrada — a apreensão havia se dado ainda na sexta-feira, 24.
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Foi no celular de Amaury que os investigadores encontraram os vídeos. Conforme o APF, em uma das gravações, o veículo e a residência de Rafaela são filmados. Um outro vídeo também mostra a residência da vítima sendo filmada de dentro de um carro. As imagens ainda permitem visualizar o painel de um veículo modelo Cobalt, o mesmo encontrado com os PMs no momento de suas prisões.
Conforme depoimento de um dos delegados envolvidos na investigação, em um dos vídeos é possível ouvir três homens conversando dentro do carro e, em um determinado momento, um deles diz “algo sobre ‘para atrás do carro dela’”. As filmagens são do começo deste mês de março, apurou a investigação. Além dos vídeos, na galeria de imagens do celular de Amaury havia foto de uma moto semelhante à utilizada no crime.
Outra imagem que chamou a atenção dos investigadores é a foto de um homem que passou a circular nas redes sociais como um possível suspeito do crime. O arquivo, segundo o Auto de Prisão ao qual O POVO teve acesso, tinha data de um dia antes do crime. Um militar ouvido em depoimento disse que o fato lhe causou "estranheza", pois “até então não tinha surgido em grupos de Whatsapp nada sobre ele”. A testemunha ainda destacou que a foto encontrada no aparelho é a mesma que viralizou após o duplo homicídio.
De acordo com o Auto de Prisão, o mesmo militar ainda afirmou ter tomado conhecimento de que, no último dia 3 de março, Rafaela havia recebido ligações "suspeitas", em que uma pessoa dizia que queria encontrar-se com ela para um atendimento. A advogada declinou pois "achou suspeita a forma que a pessoa falava”.
PMs presos negam envolvimento com o crime
Em seus depoimentos, os suspeitos dos crimes negaram a acusação. Ambos disseram que estavam em Morrinhos porque se dirigiam a Acaraú, no Litoral Norte do Estado. Eles só pararam na casa onde a moto utilizada no crime foi encontrada, afirmaram em depoimento, para fazer necessidades fisiológicas.
A versão dos PMs foi considerada inconsistente pelos investigadores. O primeiro ponto levantado foi o fato de Morrinhos não ficar no caminho de quem vai a Acaraú partindo de Fortaleza, conforme os suspeitos haviam dito. Outro desconfiança é a existência, a cerca de cinco minutos de distância de onde foram presos, de um posto de combustível onde eles poderiam ter ido ao banheiro.
Outra incoerência foi apontada no depoimento de um PM que afirma ter abordado Amaury em uma blitz de rotina em Morrinhos na quarta-feira, 22, sendo que ele havia dito que saiu de Fortaleza em direção a Acaraú apenas no sábado, 25. Os militares que efetuaram a prisão também notaram que os suspeitos estavam bastante nervosos no momento da abordagem.
Em depoimento, Amaury disse que teve o celular tomado à força por um policial e que, em nenhum momento, deu permissão para acesso ao aparelho. Daniel ainda disse que não sabia dizer se seu veículo havia estado nos últimos dias na região de Morrinhos, pois aluga informalmente o veículo para transporte por aplicativo. Tanto Daniel, quanto Amaury estão afastados da PM por problemas de saúde.
O crime
Rafaela e Maria Socorro foram mortas por volta do meio-dia. A moto utilizada no crime viria a ser encontrada horas depois do crime, em uma casa abandonada distante cerca de três quilômetros do local do crime.
Câmeras de vigilância mostraram que o executor utilizava um capacete, blusas de manga longa e luvas cirúrgicas azuis. Uma camisa preta e luvas cirúrgicas, similares às utilizadas pelo criminoso, também foram localizadas nas proximidades da casa onde a moto foi encontrada.
Rafaela era esposa de um tenente-coronel da Polícia Militar.