PMs acusados de sequestro em Maracanaú planejavam crimes no WhatsApp, diz MP
Acusados aparecem em conversas combinando crimes, como o que vitimou Clézio Nascimento de Oliveira em 7 de novembro último, afirma denúnciaAs cinco pessoas acusadas pelo sequestro e homicídio de Clézio Nascimento de Oliveira — crime ocorrido em 7 de novembro de 2022, no bairro Alto Alegre, em Maracanaú, na Região Metropolitana de Fortaleza — tinham um grupo no aplicativo WhatsApp onde combinavam ações criminosas. É o que consta na denúncia do Ministério Público Estadual (MPCE) contra o grupo, recebida pela Justiça no dia 20 de abril.
Conforme a acusação, o sequestro de Clézio também foi planejado pelo WhatsApp. Em uma conversa extraída do celular de Maria Aline do Nascimento Rodrigues, presa três dias após o sequestro de Clézio, ela aparece, no dia 22 de outubro, conversando com outro PM preso, Francisco Ronaldo Sales, conhecido como Sales, sobre o “alvo”.
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Na conversa, Sales encaminha print da consulta de um veículo em um sistema policial. Na sequência, ele diz que "próxima semana promete". Aline responde: "Se deus quiser". Depois, Sales diz que os dados do carro são do "pilantra do alto alegre". "Agora sabemos qual é carro dele”; “Vai ser sal pra ele semana que vem kkk”.
Confira trecho da conversa conforme descrito em relatório técnico pela Polícia Civil:
Maria Aline e Sales são descritos pelo MPCE como líderes do grupo criminoso. Em uma das conversas, Aline chega a dizer que está em "abstinência" e que fica dirigindo e "pensando em sequestrar alguém". Em seguida, ela começa a descrever possíveis vítimas “Tem o cara dos transformadores”; “Tem o do bj lá”; “O da Lulu”; “Tem o do aras; Só pra fazer o mal mesmo”; “Do negócio do sofá”.
“Compulsando os autos do r. Relatório Técnico é possível chegar até as demais autorias do crime narrado em tela, bem como desvendar a atuação de grupo criminoso que se utilizava dos aparatos públicos, como sistemas virtuais, equipamentos e treinamentos, inerentes à função que exerciam, para prática de condutas bárbaras e cruéis, como sequestro, tortura e cárcere privado, com intuito de obter vantagem financeira”, escreve na denúncia o promotor Igor Pereira Pinheiro.
Em um dos áudios captados, Sales diz para Aline que “no caso aí é eu, tu, o Combate, o Ricardo e o Neves”. Além dos dois, foram denunciados pelo crime: o soldado Gabriel Neves Cabral, o Neves; o ex-PM Francisco Danis de Oliveira Nascimento, o “Combate”; e o motorista José Ricardo de Oliveira, conhecido também como Jota.
Conforme o MPCE, Danis é quem captava os “alvos” e os enviava para Sales. Em maio de 2022, "Combate" saiu da prisão, o que foi comemorado pelo grupo. "Agora vai gerar", diz Sales. Apesar dele não ter sido flagrado trocando mensagens com Aline, o MPCE entende que o soldado Neves foi citado pelos acusados como partícipe das ações.
José Ricardo, por sua vez, seria o responsável por receber valores de vítimas e repassar aos demais integrantes. O MPCE diz haver essa possibilidade, pois, "poucos dias" após o sequestro de Clézio, ele teria recebido uma quantia via pix. Além disso, "Jota" teria participado do arrebatamento da vítima.
PMs receberam prisão domiciliar
Quase seis meses após o crime, Clézio ainda não foi encontrado. A investigação presumiu que ele foi morto. No carro que teria sido utilizado no crime, pertencente à mãe de Maria Aline, foi encontrado sangue humano.
Os cinco acusados foram denunciados por homicídio doloso, com as qualificadoras de torpeza e uso de recurso que impediu a defesa da vítima, recaindo ainda o aumento de um terço da pena por ser crime praticado por milícia privada ou grupo de extermínio; e ocultação de cadáver.
O POVO entrou em contato com a defesa de Maria Aline, que informou que não poderia conceder entrevista na tarde desta terça-feira, 2. O advogado que representa Gabriel afirmou que a família não autorizava que ele se manifestasse sobre o assunto. O advogado de Francisco Danis disse que falaria sobre o caso após apresentar contestação à denúncia. Já as demais defesas não foram localizadas pelo O POVO.
Sales e Aline tiveram a prisão preventiva convertida em domiciliar. Sales trata de um câncer e sua defesa sustentou que, no Presídio Militar, ele não teria condições de receber cuidados adequados. Já Aline citou ter filho menor de 12 anos que requeria seus cuidados, além do fato de ter residência e trabalho fixo e ser ré primária. O MPCE recorreu da decisão.
Veja vídeo que registrou o momento em que Clézio foi sequestrado: