De lenda à realidade: Igreja do Horto é dedicada; solenidade reuniu mais de 3 mil fiéis

Cardeal espanhol participou da celebração e homenageou o Padre Cícero

Mais de 3 mil pessoas marcaram presença na Missa da Dedicação da Igreja Senhor Bom Jesus do Horto, em Juazeiro do Norte, na região do Cariri, no último sábado, 3. O templo foi sonhado pelo Padre Cícero, barrado pela própria Igreja na época das perseguições do Milagre da Hóstia e retomado na década de 1990 pela Congregação Salesiana.

A celebração foi presidida pelo bispo da Diocese de Crato, dom Magnus Henrique, e concelebrada pelo cardeal dom Ángel Fernández, superior geral dos salesianos e do arcebispo de Fortaleza, dom Gregório Paixão. Diversos bispos e padres do Ceará, Brasil e mundo também participaram.

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A Solenidade de Dedicação é um ritual católico, tradicionalmente, realizado na inauguração de uma Igreja, oficializando as celebrações. Destacam-se os momentos da unção do altar e das paredes com o óleo do Crisma e também a deposição das relíquias de santos dentro do altar.

“Chegamos em Juazeiro por vontade do Padre Cícero e como salesianos herdamos esse sonho dele, estamos levando-o até o fim com muita dificuldade e sacrifício. A igreja não está totalmente concluída, mas a celebração é um marco do zelo pastoral do Padre Cícero ao povo de Deus e aos romeiros”, afirmou o Inspetor dos Salesianos no Nordeste, padre Inácio Vieira.

“O Santuário do Senhor Bom Jesus a partir de agora se torna mais um posto de peregrinação para toda a Igreja. Absolutamente, o nosso sentimento é de gratidão e de justiça ao Padre Cícero”, declarou o cardeal Ángel Fernández Artime, em entrevista a O POVO CBN Cariri. Durante a celebração, o sacerdote também concedeu o título de Salesiano Cooperador Póstumo a Padre Cícero.

A Missa da Dedicação da Igreja do Horto fez parte de uma intensa programação da visita do superior dos salesianos a Juazeiro do Norte. No último dia 2, o cardeal participou do encerramento da romaria das candeias, que reuniu mais de 300 mil romeiros.

Na despedida, com os romeiros, o religioso afirmou estar emocionado: “Já visitei 120 nações nos últimos oito anos e fico muito impressionado e comovido com a fé que senti aqui em Juazeiro, no modo de rezar, no modo de cantar. Eu quero testemunhar depois, quando chegar à Roma, o que vivi com vocês. O papa Francisco ama o povo de Deus, é muito sensível sempre a todos vocês e, sobretudo, a gente mais pobre, mais simples, quer dizer, como todos nós. Então, eu prometo mandar o saudação de todos vocês e contar o que vivemos juntos”.

Em seu discurso no final da celebração da Dedicação da Igreja, o Cardeal também tocou no assunto do processo de beatificação do Padre Cícero e afirmou: “A causa da santidade não depende de movimentos políticos, de acordos, de palavras ou de visitas aos escritórios”. O religioso encerrou pedindo as orações dos presentes pela processo que ainda está na fase diocesana.

A Igreja do Fim do Mundo

Quem cresceu em Juazeiro do Norte, provavelmente, escutou dos avós a lenda de que a Igreja que estava sendo construída no topo da Serra do Catolé era a dita “Igreja do Fim do Mundo” e que ela só seria concluída no dia da volta de Jesus. Essa história faz parte do imaginário popular dos romeiros e remonta a trajetória de entraves da construção desse templo.

Segundo historiadores, no final do século XIX prenunciava-se uma grande seca no Nordeste. Padre Cícero teria feito uma promessa, que se houvesse um bom inverno, ele construiria uma Igreja, no alto do horto, dedicada ao Sagrado Coração de Jesus. “Ele foi bem sucedido, choveu, houve um bom inverno e ele deu início à construção dessa Igreja”, recorda o historiador Roberto Júnior, da Universidade Regional do Cariri (Urca).

A ideia inicial de Padre Cícero, no entanto, era bem diferente da obra que está sendo concluída. “Na planta original que ele trouxe de Roma, a Igreja teria doze torres e deveria ser o maior santuário do Nordeste”, afirma a historiadora Fátima Pinho, também da Urca.

A mudança se deu por conta de uma série de perseguições enfrentadas pelo sacerdote resultantes da repercussão do famoso Milagre da Hóstia - ocorrido em 1889 - quando a comunhão sangrou na boca da Beata Maria de Araújo - mulher negra, descendente de escravizados e devota de Padre Cícero.

Conforme a historiadora, na época, dom Joaquim, bispo da então Diocese do Ceará, embargou a obra da Igreja, “sob acusação de que se tratava de obra dos fanáticos do Padre Cícero”.

Cícero Romão Batista faleceu em 1934 sem ver a obra construída. No horto, restaram apenas as ruínas, que mais tarde também viriam a ser destruídas. A lenda da igreja do fim do mundo nasceu, dessa forma, na narrativa popular dos romeiros que viram o sonho do padrinho não se concretizar.

Em seu testamento, entretanto, o sacerdote deixou para os padres salesianos a incumbência de retomarem a construção da Igreja do Sagrado Coração de Jesus.

Os salesianos chegaram a Juazeiro do Norte cinco anos após sua morte e construíram uma Igreja ao Sagrado Coração de Jesus próxima ao centro da cidade, “mas na mente do romeiro, ali ainda não era a consolidação do sonho do Padre Cícero”, afirma o memorialista Renato Dantas.

Em 1999, após uma série de tratativas com a Diocese de Crato, os padres salesianos conseguiram autorização para construírem uma igreja no Horto, mas, desta vez dedicada ao Senhor Bom Jesus do Horto, de quem o sacerdote também era devoto.

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