Jaguaribe tem área de cinco hectares recuperada após desertificação
Região está entre os três núcleos do Estado com níveis mais críticos em relação ao fenômeno que atinge o solo cearense. Um ciclo de palestras foi realizado pela Funceme em alusão ao Dia Mundial de Combate à Desertificação nesta segunda-feira, 17
18:18 | Jun. 17, 2024
Uma área de cinco hectares na região do Jaguaribe, no Ceará, foi recuperada após ser degradada por causa do fenômeno de desertificação. A localidade está entre as três regiões do Estado com os níveis mais críticos do fenômeno. O cenário é resultado de um projeto da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), que teve início em 2014, para recuperar áreas degradadas em virtude do processo.
As informações foram divulgadas pela Funceme durante o evento “Terras Secas – Um olhar sobre a desertificação no Ceará”, realizado nesta segunda-feira, 17, e que segue até esta terça-feira, 18. As atividades fazem alusão ao Dia Mundial de Combate à Desertificação, celebrado hoje. O encontro teve um ciclo de palestras sobre o tema com pesquisadores da Funceme, da Universidade Federal do Ceará (UFC) e do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento (IRD), da França.
As intervenções em Jaguaribe foram iniciadas há dez anos após a região ser escolhida como objeto de estudo no projeto da instituição. Para a escolha, foi realizado, inicialmente, um mapeamento que identificou as regiões com níveis mais graves pelo fenômeno no Estado. A partir da contribuição de moradores da região, Jaguaribe, na localidade do Brum, a localidade foi escolhida para ser alvo das ações pelos técnicos da Funceme.
Na época, a região não tinha vegetação viva. “O solo estava todo exposto e nós começamos a aplicar práticas de manejo do solo para tentar fazer com que essa vegetação se recuperasse. A gente fez técnicas de barragens de pedras para conter sedimentos que vinha a montante, aplicamos serapilheira no solo junto com matéria orgânica e fizemos terraços para barrar a água”, disse a pesquisadora da Funceme Juliana Vieira.
Ainda segundo a pesquisadora, 11% do território cearense está degradado pela desertificação. A doutora em solo explica que o fenômeno é um processo de degradação das terras em ambientes áridos, semiáridos e subúmidos secos, sendo uma condição natural, mas agravada pelas ações antrópicas.
“Ela [desertificação] ocorre por meio da erosão, como áreas que são desmatadas ficam suscetíveis à erosão, manejo inadequado do solo, queimadas, uso indevido de fertilizantes. O Ceará, por estar inserido em toda uma zona semiárida, possui 97% do seu território suscetível à desertificação”, afirma a doutora em solo e pesquisadora da Funceme.
De acordo com a Funceme, o município, localizado a 293,5 quilômetros de Fortaleza, possui 24% do seu território em processo de desertificação, ou seja, ainda em degradação. A área do estudo, no entanto, foi totalmente recuperada.
A expectativa é que, a partir desse projeto piloto, mais ações sejam realizadas em outras localidades no Estado, principalmente as que possuem níveis mais críticos quanto ao fenômeno. Ainda não há previsão qual a próxima região a receber as ações de recuperação pela Funceme.
No Estado, três regiões registram níveis de ocorrência muito graves quanto à desertificação. São elas Irauçuba, no Centro Norte do Estado, que abriga os municípios de Canindé, Irauçuba, Miraíma e Santa Quitéria; Sertão de Inhamuns, que contempla os municípios de Arneiroz, Independência e Tauá; e Médio Jaguaribe, região dos municípios de Jaguaretama, Jaguaribe, Alto Santo e Morada Nova.
A doutora em Geografia e professora na Universidade Federal do Ceará (UFC), Vládia Pinto, afirma que é necessário um acompanhamento das áreas recuperadas para garantir o resultado. “É preciso uma política de monitoramento para continuar o trabalho que foi feito. Não podemos falar que uma área foi recuperada, ela está sempre em processo de recuperação”, orienta.
Ciclo de palestras debate fenômeno, causas e formas de combate
O ciclo de palestras realizadas na sede da Funceme, em Fortaleza, na manhã desta segunda-feira, 17, debateu o fenômeno da desertificação no Ceará, as causas e as formas de combate. Além de pesquisadores, o encontro reuniu professores e estudantes para compartilhar mais informações sobre o tema.
Segundo o pesquisador da Funceme e especialista em Ciência do Solo, Rafael Cipriano destaca que o objetivo do encontro é juntar informações sobre o tema para entender o fenômeno, as causas que aceleram o processo e, principalmente, quais as formas de combate.
“Todas as palestras foram pensadas nas perspectivas futuras. A participação de diferentes atores é bom para alinhar o conhecimento para que todos tenham as mesmas informações e a troca de experiências”, pontua.
Entre os temas, o desafio das mudanças globais e a desertificação, Salinização de solos, Desertificação no Ceará, O papel do microbioma do solo no combate ao fenômeno, Ações da Funceme no combate à desertificação. Na programação desta terça-feira, 18, o instituto promove a exibição de um documentário sobre a experiência com o fenômeno, que será exibido no Museu da Imagem e do Som (MIS) para convidados.
Atualizada às 15h03min