Povo indígena Tremembé celebra registro de território em Itapipoca
Após 480 dias da homologação do território indígena, o povo Tremembé da Barra do Mundaú recebeu o documento de registro do território, que tem 3.580 hectaresO território do povo indígena Tremembé da Barra do Mundaú foi oficialmente registrado no último dia 29 de agosto, no cartório Solange Ferreira Gomes Rodrigues, no município de Itapipoca, a 136,5 km de Fortaleza. A homologação ocorreu em 28 de abril de 2023, 480 dias antes.
De acordo com o decreto 1.775, do ano de 1996, o registro deve ser feito em 30 dias após a homologação. Os integrantes da comunidade indígena agora comemoram o registro.
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Segundo Adriana Tremembé, uma das líderes da comunidade indígena, o sentimento é de uma “grande vitória”. “Para que a gente possa repassar esse sentimento de gratidão, a luta, aos nossos filhos, netos e gerações futuras sobre a importância de se lutar unidos. A vitória vem por meio da união.”
A líder também acredita que outras vitórias possam acontecer, como a desintrusão do território (retirada de intrusos). “Estamos juntos na luta, firme e forte. Com nosso Deus todo poderoso e com a força da nossa encantaria, para que a gente possa vencer todos esses obstáculos”, finaliza.
De acordo com Luan de Castro Tremembé, o Ceará é atrasado em relação à regularização fundiária — consiste no conjunto de medidas jurídicas, urbanísticas, ambientais e sociais que visam à regularização de assentamentos irregulares e à titulação de seus ocupantes.
”Para você ter noção, o Ceará só tem uma terra demarcada, com o processo finalizado. A terra indígena dos Tremembés da Barra do Mundaú é a segunda terra homologada do Estado do Ceará.”
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Luan lamenta que o Estado tenha mais de 15 povos indígenas distribuídos em vários municípios e apenas duas terras demarcadas oficialmente. Mas concluí que este é um “avanço muito grande”, pois, de acordo com ele, o processo de demarcação é longo e pode demorar cerca de 40 ou 50 anos.
“Foi um processo que a gente conseguiu chegar até a homologação com 20 anos de luta. Então, é uma conquista muito grande”, finaliza.
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Em uma carta assinada pelo povo Tremembé, eles pedem pela desintrusão o mais rápido possível:
“Defendemos que o primeiro passo para diminuir as violências à vida dos Povos Indígenas e frear a crise climática é demarcação dos territórios. Não basta homologar, é necessário que o direito indígena garantido pelos instrumentos jurídicos brasileiros e dos quais o Brasil é signatário sejam respeitados. A Constituição Brasileira de 1988, o Estatuto do Índio e a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho não devem ser apenas um documento, eles precisam ser efetivados e garantir a vida dos nossos povos.
Pedimos ao Estado Brasileiro, por meios dos órgãos que competem garantir o nosso direito à vida e ao usufruto exclusivo de nosso território ancestral que olhe pelo nosso povo. Nós queremos viver, um direito fundamental de todos os seres humanos e que está sendo tirado de nós justamente por quem devia nos proteger. Somos nós que vivemos no chão do território que ouvimos o clamor da Mãe Terra a cada árvore cortada, a cada pássaro traficado ou morto e a cada veículo que destrói nossas dunas e nossos sítios arqueológicos.
Após a assinatura do decreto que homologou a nossa Terra, foram dezenas de ofícios solicitando informações sobre nosso processo territorial, e, até agora, estamos sem respostas concretas. O Governo Federal, por meio de seus órgãos de proteção dos Povos Indígenas, não visita nosso território e se ausenta da missão de fiscalizar para garantir nossa vida e segurança dentro e fora do território. Nós queremos respostas. Se não por respeito às nossas vidas, que seja pelas dos nossos ancestrais já Encantados que começaram essa luta e pelos nossos curumins e cunhatãs que precisam gozar do direito à infância e adolescência, assegurado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente”, diz um trecho da carta.
O POVO procurou a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) no Ceará sobre a demanda de desintrusão, que orientou a procurar o Ministério dos Povos Indígenas. A matéria será atualizada assim que houver retorno.