Após tentativas de motim, 149 presos são encaminhados a delegacia em Itaitinga
Detentos protestam contra o retorno de diretor afastado após denúncias de torturaNesta quarta-feira, 27, 149 presos da Unidade Prisional Elias Alves da Silva (UP-Itaitinga 4), na Região Metropolitana de Fortaleza, foram encaminhados à delegacia suspeitos de participação em atos de desordem em protesto pela retorno do diretor do presídio, que havia sido afastado por 90 dias após denúncias de tortura.
Conforme a Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização (SAP), houve confronto entre presos e policiais penais e nove detentos precisaram de assistência médica devido a ferimentos leves.
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O clima é tenso na unidade desde a manhã de terça-feira, quando o diretor voltou ao cargo. Desde então, os presos têm batido nas grades e tentado rebelar-se em todas as alas da unidade.
Dezenas de armas artesanais foram apreendidas pelos policiais penais. Uma corda feita com lençóis (“teresa”) também foi encontrada, além de um celular. Os presos ainda confeccionaram faixas que exigiam a saída da direção da UP-Itaitinga4, antes conhecida como Casa de Privação Provisória de Liberdade (CPPL) 4.
“Xega de tortura” (SIC), diz uma delas, conforme foto a que O POVO teve acesso. Outra contém o slogan (PJL), Paz, Justiça e Liberdade, adotado por facções criminosas.
Nesta quarta, os juízes corregedores e de execução penal de Fortaleza foram até a penitenciária realizar vistoria após receberem relatos da tentativa de amotinamento.
Conforme Luciana Teixeira, juíza titular da 2ª Vara de Execução Penal da Comarca de Fortaleza, foi constatado que alguns presos estavam com lesões provocadas por balas de borracha, mas ainda não se sabe se os disparos foram efetuados com ou sem justa causa.
Ela disse que os elementos colhidos durante a vistoria ainda vão ser analisados pelos juízes. As imagens das câmeras dos policiais penais também foram pedidas.
Em nota, a SAP afirmou que “internos pertencentes a facções criminosas se amotinaram e agrediram policiais penais” e, por isso, foi preciso utilizar o “uso medido da força”. Como O POVO noticiou nesta quarta, presos jogaram água sanitária contra os rostos de policiais penais.
Teixeira também explicou que, após o encerramento do afastamento cautelar do diretor da unidade, não houve representação contra o policial penal por parte do Ministério Público Estadual (MPCE), Delegacia de Assuntos Internos (DAI) ou Defensoria Pública.
“Decorrido o prazo e o processo arquivado, o judiciário, de ofício, não pode reabrir sem fato novo e sem provocação”, disse a juíza.
Familiares de presos realizam protesto em frente à CPPL IV
Dezenas de familiares de presos recolhidos à UP-Itaitinga 4 realizaram um protesto em frente à unidade enquanto a vistoria era realizada pelos juízes. Composta em sua maioria por mulheres, a manifestação chegou a bloquear o tráfego na BR-116.
Os cartazes das manifestantes diziam, entre outros, “chega de maquiagem”, referência a uma suposta dissimulação de maus tratos a presos. O POVO conversou com uma das manifestantes, que pediu para ter a identidade preservada. Ela afirmou que estão sem ter notícias de seus familiares presos desde o início da tentativa de motim, até porque até mesmo visitas de advogados foram suspensas.
A mulher ainda questionou o porquê de um policial afastado por denúncias de torturas voltou a dirigir a unidade. Ela diz que, no período em que ele esteve afastado, foi possível perceber uma melhoria no tratamento aos presos.
Todas as manifestantes presentes disseram que seus parentes tiveram os dedos quebrados pelos policiais penais — conforme a SAP, os golpes nos dedos são usados durante situações de confronto para evitar que os presos segurem objetos que possam ser usados contra os agentes.
“Se rolou um princípio de motim, algo deve ter acontecido dentro da unidade e os presos devem ter se revoltado, entendeu”, afirmou a manifestante. O protesto gerou um longo engarrafamento na BR-116.