Família denuncia que jovem foi morto em abordagem policial em Granja

Antônio José da Costa teria sido torturado até a morte por PMs, conforme denunciam. PMs negam acusação. CGD investiga o caso.

19:33 | Fev. 03, 2020

Por: Lucas Barbosa
Familiares afirmam que Antônio José foi morto durante sessão de tortura. Ele não teria envolvimento com crimes (foto: Arquivo Pessoal)

As circunstâncias da morte de Antônio José da Costa, de 23 anos, são investigadas pela Polícia Civil. O jovem morreu na quarta-feira, 29, após uma abordagem policial, na localidade de Timonha, em Granja (a 328 km da Capital). Conforme a família dele, Antônio José foi morto durante sessão de tortura, que contou com sufocamento por saco plástico e afogamento induzido em baldes de água. PMs envolvidos no caso negam.

O POVO conversou com familiares de Antônio que contaram a versão com base no relato de testemunhas. Conforme narram, o caso ocorreu por volta do meio-dia, no momento em que Antônio esperava para voltar ao trabalho, em um depósito de construção. Ele estava sentado em um bar, onde almoçou, quando os policiais o abordaram. Primeiramente, os militares perguntaram quem era o dono do bar. Foi após Antônio ir para dentro do estabelecimento chamar o proprietário que houve a imobilização. Conforme narra, cerca de quatro PMs cercaram o bar.

Antônio teria sido conduzido algemado para a própria casa, onde teria ocorrido a tortura. Conforme denunciam, foram ouvidos gritos na casa e barulhos indicando que ele estava sendo afogado. As agressões teriam durado cerca de uma hora, conforme estimam. Em determinado momento, um vizinho teria pedido para as agressões pararem, mas foi ordenado que voltasse para dentro de casa. Após o fim da sessão de tortura, ele foi levado, na viatura, para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), onde foi constatada a morte. Os familiares ainda contam que o corpo de Antônio apresentava inchaço no rosto, compatível com agressões.

Fabrícia Rodrigues, irmã de Antônio, manifesta revolta com o caso e cobra justiça. Ela diz não entender por que o irmão foi morto, já que ele não tinha envolvimento com crimes e só ia de “casa para o trabalho”. “Eu sei que não posso trazer ele de volta, mas eu quero justiça. O que fizeram com ele foi uma injustiça. Já disseram que pegaram ele com droga, só que mesmo que tivesse pegado ele com droga, não podiam ter feito isso. Eles não podem tirar a vida de um ser humano. Eles estão ali para ajudar, para defender o ser humano. Se ele tivesse com droga, que tivessem levado ele preso. Tenho certeza que ele já estaria solto, mas para onde ele foi, não tem mais volta”.

PMs envolvidos negam tortura

Em depoimento, os PMs negam a acusação de tortura. Segundo contaram, denúncias apontavam que Antônio traficava drogas. Quando foi visto no bar, ele foi abordado, momento em que teria sido encontrado uma pequena quantidade de maconha. Após isso, os policiais foram até a casa de Antônio em busca de mais drogas.

Teriam sido encontrados no local balança de precisão e saquinhos com drogas. Enquanto as buscas eram feitas, Antônio foi colocado sentado, algemado. Neste momento, ele teria conseguido deixar o local e corrido em direção ao quintal. Os policiais o encontraram se afogando em uma cisterna de cerca de três metros de profundidade. Os PMs, então, tiraram Antônio da cisterna e tentaram reanimá-lo. Em seguida, o levaram para a UPA, onde foi constatado que ele já estava sem vida. “Uma das possibilidades ventiladas pelos policiais foi que Antônio tentou sobrepor o muro, mas como estava algemado para trás, se desequilibrou e caiu dentro do reservatório. Outra possibilidade seria a tentativa de Antônio se esconder na própria cisterna, vindo a afogar-se."

O comandante da 3ª Companhia do 3º Batalhão de PM, o coronel Eduardo de Sousa, afirmou que inquéritos foram abertos tanto pela Polícia Civil, quando pela Polícia Militar — já que se vislumbra crime militar. Segundo ele, as investigações caminham “normalmente”, já tendo, inclusive, sendo colhidas oitivas de testemunhas. “A PM não compactua com ilegalidade. Temos total interesse que o caso seja esclarecido. Se os PMs envolvidos tiverem responsabilidade, eles serão punidos”.

O POVO procurou a Polícia Militar do Estado do Ceará (PMCE), que, por meio de nota, limitou-se a afirmar que o caso está sendo investigado pela Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD).

Em blogs da região, o comandante do 4º Pelotão da 3ªCompanhia do 3º Batalhão de Policiamento de Rondas e Ações Intensivas e Ostensivas (BPRaio), ao qual pertenciam os PMs, enviou nota de esclarecimento, informando que “todas as medidas necessárias para o esclarecimento da ocorrência policial no distrito de Timonha estão sendo tomadas”.“Algumas pessoas estão se aproveitando do fato para tentar manchar a imagem, construída com muito suor e dedicação, do Raio na cidade de Granja”, diz trecho do texto, que ainda pede que a população “aguarde a apuração dos fatos e não se deixe levar pelo sensacionalismo e mensagens com suposições não comprovadas até o momento”.