Construtora é investigada por suposto golpe da casa própria em condomínio de luxo
Clientes acusam empresa de se apropriar de valores antecipados e não entregar os imóveis conforme os prazos contatuais. Construtora atribuiu os atrasos aos impactos da pandemia no setor da construção civilO sonho da casa própria virou pesadelo para um grupo de clientes de uma construtora especializada em imóveis de alto padrão localizada em Eusébio, na Região Metropolitana de Fortaleza. A empresa é investigada pela Polícia Civil por suspeita de aplicar um golpe milionário ao se apropriar de quantias antecipadas sem entregar as obras contratadas. Construtora atribuiu os atrasos aos impactos da pandemia e da guerra da Ucrânia no setor da construção civil.
Pelo menos 20 famílias dizem ter sido lesadas pelos sócios da Premex Engenharia. Elas acusam a construtora de descumprir prazos contratuais para a construção de casas no condomínio de luxo Alphaville Ceará. Os clientes afirmam que anteciparam 20% do valor total das obras, mas não receberam os imóveis. Além disso, a empresa estaria se negando a devolver os valores auferidos.
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O analista de sistemas Marcos Andrade, 42, e sua esposa assinaram contrato com a construtora em outubro de 2021. Pelo acordo, a casa seria entregue em no máximo dez meses. Para o andamento rápido da construção, a empresa pediu adiantamento de R$ 100 mil. O casal precisou vender o único apartamento que tinha, em Fortaleza, para fazer a transferência aos sócios da empresa.
A obra, no entanto, sequer foi iniciada, segundo contou Marcos em conversa com O POVO. “Não construíram 1%. Alegavam que estavam passando por uma crise por causa da Guerra na Ucrânia e iam só postergando”. Após uma nova negociação, a construtora prometeu superar o impasse caso Marcos fizesse mais um adiantamento no valor de R$ 50 mil. Novamente, o dinheiro foi repassado e a obra “não saiu do canto”, conforme o cliente relatou
Casado há seis anos, Marcos engatou o sonho da casa própria ao de ser pai. O planejamento era que o primeiro filho do casal nascesse quando a casa já estivesse pronta. “Minha esposa está grávida, meu filho vai nascer em outubro, mas estamos morando de aluguel”, lamentou. Diante das expectativas frustradas, o cliente acionou a Justiça e espera uma solução definitiva para o caso.
A mesma providência foi adotada pelo médico Noberto de Lima, 38, que pagou R$ 330 mil à construtora e igualmente não recebeu o imóvel contratado. A obra até chegou a começar, mas não andou. “Eles diziam que não podiam continuar por causa da crise e sempre pediam para esperar mais ou transferir mais valores”, afirmou o cliente.
Após esperar meses sem resposta, Noberto propôs um acordo de distrato extrajudicial à empresa, sob a condição de devolução das quantias antecipadas. A proposta foi recusada e, então, ele ingressou com uma representação judicial contra a construtora na esfera cível.
Enquanto aguarda uma solução para o caso, o médico conheceu outros clientes que dizem ter sofrido o mesmo golpe. Eles formaram um grupo no Whatsapp para trocar mensagens sobre o andamento das ações que protocolaram na Justiça. Nas conversas, o grupo descobriu que o modus operandi da empresa era o mesmo para todos os contratos.
“Eles conquistavam a gente pela confiança. Nos levavam para conhecer obras em andamento e outras já prontas. Você via uma equipe grande, trabalhando, ouvia explicações técnicas. Não dava para imaginar que se tratava de uma empresa com histórico de estelionato”, comentou Noberto, que procurou a construtora após indicação do corretor com o qual tinha negociado a compra do terreno no mesmo condomínio.
O advogado Iury Chaves, que representa um dos clientes supostamente enganados, descobriu que a construtora é alvo de 116 protestos por dívidas no Serasa, além de pedidos de falência e bloqueio de bens. “Os sócios estão tão enrolados que chegaram a abrir uma nova empresa, em agosto de 2021, e continuam ludibriando mais clientes”, detalhou.
Acompanhando de perto o drama das famílias que dizem ter sofrido o golpe, Chaves diz que o prejuízo vai além da questão financeira. “Teve gente que entrou em depressão, famílias que perderam o casamento”, sublinhou.
A Premex é alvo de inquérito na Delegacia Metropolitana de Eusébio desde março deste ano. O POVO teve acesso à portaria que determinou a abertura da investigação. No documento, assinado pelo delegado Tharsio Nogueira Facó de Paula Pessoa, a autoridade policial autoriza a apuração de possível crime de estelionato por parte da construtora.
O inquérito foi aberto após solicitação do Ministério Público do Ceará (MPCE), por meio da promotora Gabrielle Correia Lima, que se manifestou favorável à investigação ainda em novembro de 2022. Procurado pelo O POVO, o órgão informou que aguarda a conclusão dos trabalhos policiais para analisar o procedimento e "dar seguimento aos encaminhamentos necessários".
A Polícia Civil do Ceará (PC-CE) confirmou que o inquérito está em andamento, mas disse que não pode repassar mais informações sobre o caso para não comprometer o andamento das investigações.
Procurada pelo O POVO, a Premex Engenharia atribuiu os atrasos para a entrega das obras aos impactos da pandemia e da guerra na Ucrânia ao setor da construção civil. A construtora diz, por meio de nota, que as duas variáveis "causaram grande tumulto no mercado, repercutindo na falta de materiais, onerando preços e prazos de entrega".
Sobre as denúncias que tramitam na Justiça, a empresa afirma que a intenção dos clientes é "obter vantagens em distratos" e diz que o grupo de compradores deflagrou "de forma implacável, uma propaganda agressiva, severamente caluniosa e difamatória" contra a construtora e seu quadro de sócios.
"É importante ressaltar que a Premex Engenharia não se enquadra no perfil das empresas que não cumprem com suas obrigações contratuais. A transparência e a integridade estão no cerne dos nossos valores", encerra a nota.
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