Trânsito na Praia do Preá leva risco a banhistas e praticantes de kitesurf

Carros, motos e até veículos de carga transitam livremente pela orla de uma das praias mais frequentadas por turistas no Litoral Oeste do Ceará

A Praia do Preá, localizada no município de Cruz, a 200 km de Fortaleza, é um dos principais cartões postais do Litoral Oeste cearense. Com longa extensão de mar calmo, piscinas naturais e cenário paradisíaco, o local atrai turistas de várias partes do Brasil e do mundo. Mas a natureza que tanto encanta também desperta a cobiça da especulação imobiliária, que avança desenfreadamente sobre as áreas de preservação no entorno das águas. A faixa de areia, que antes era utilizada apenas por banhistas e praticantes de kitesurf, esporte aquático que mais cresce no Ceará, se transforma em pista de corrida à medida que construções possivelmente ilegais são erguidas em plena orla.

Imagens e vídeos enviados ao O POVO por um kitesurfista e frequentador da praia mostram carros, motos e até veículos de carga transitando livremente pela faixa de areia. A prática, além de ilegal, por se tratar de ambiente marinho e de preservação ambiental, leva risco de acidentes aos banhistas e adeptos do kitesurf e de outras modalidades de esportes náuticos. “A praia é usada como avenida. Todos os carros, motos, veículos de carga… todo o trânsito passa pela faixa de areia. Tudo isso sem fiscalização nenhuma e com grande risco de atropelamentos”, relata o kitesurfista, que aceitou conceder a entrevista sob condição de anonimato.

Segundo ele, o movimento de veículos na orla cresceu principalmente nos últimos dias devido à construção de uma casa de alto padrão em área próxima ao mar e ao lado de dunas na Vila Preá, trecho abrangido pela praia de mesmo nome. “Todos os dias é um vai e vem de caminhões e mais caminhões de areia - que a gente não sabe de onde vem - mas que são levados para essa construção. Recentemente eu passei lá em frente e vi que com a maré alta a água chega na porta da casa. Então eles estão usando essa areia para proteger o imóvel da chegada do mar”, descreve.



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Uma placa afixada em tapumes no entorno do imóvel mostra que a Prefeitura Municipal de Cruz expediu autorização para a construção da residência em agosto passado. O Secretário de Meio Ambiente do Município, Marcelo Brandão, foi procurado pelo O POVO na noite da última quinta-feira, 4, para comentar as suspeitas de que a obra estaria ocorrendo em área de proteção ambiental, mas se limitou a dizer que “[a casa] está regularizada”. O gestor pediu que a reportagem entrasse em contato com ele novamente nesta sexta-feira, 5, mas as tentativas não foram atendidas ou retornadas.

O kitesurfista que questiona a construção ainda afirma que recentemente descobriu uma coincidência “intrigante”: “Eu vi máquinas retirando grande quantidade de areia de dunas que ficam próximas da casa. Um absurdo, dunas sendo destruídas à luz do dia, de forma flagrante. Não sei para onde essa areia está indo, mas fica o apelo para as autoridades impedirem que esse crime prossiga”, pede. Segundo ele, no passado, as mesmas dunas já haviam sido exploradas ilegalmente por empresários da construção civil.



Frequentador da Praia do Preá há mais de 15 anos, o desportista lamenta que os interesses econômicos de empresários estrangeiros atraídos pelo potencial turístico da localidade estejam sendo colocados acima das regras ambientais.

“Se a coisa for levada a sério, sabemos que é possível sim fazer turismo e gerar riqueza de forma sustentável, mas o que a gente está vendo aqui não é isso. A cada dia vemos o desmatamento avançando, casas sendo construídas em áreas de preservação com anuência dos órgãos de meio ambiente, aumento do trânsito na areia, enfim, uma sucessão de coisas danosas. O pior é que os que deviam aplicar a lei fecham os olhos propositalmente e levam tudo na base do deixa rolar. É uma terra sem lei”, reclama o kitesurfista.

Fiscalização e denúncias

O POVO procurou a Secretaria de Meio Ambiente do Ceará (Semace) para saber se a pasta acompanha o cumprimento da legislação ambiental na Praia do Preá, mas foi informado que “o licenciamento e fiscalização dos recursos naturais são de competência exclusiva do município, com base na Lei Complementar Nº 140”. A Secretaria pontua que caso a população queira denunciar que o município está agindo em desacordo com a Lei, o mais indicado é procurar o Ministério Público do Ceará (MPCE).

Em nota, o MPCE, por intermédio da Promotoria de Justiça de Cruz, informou que até a manhã desta sexta-feira não havia recebido formalmente nenhuma solicitação específica sobre a Praia do Preá. O órgão sugere que os interessados enviem denúncias para o e-mail [email protected].

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) também foi procurado para comentar o caso, já que a região abrange área marinha, e prometeu que daria uma resposta assim que a situação fosse verificada. O posicionamento, no entanto, não foi enviado até a publicação desta matéria.

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