Projeto Recaatingamento visa recuperar mata nativa do Ceará
Ação da Ematerce tem uma unidade demonstrativa em um sítio localizado no Crato, no Cariri cearenseO projeto Recaatingamento, da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce), busca plantar no Ceará árvores spondias, do tipo umbu gigante. A primeira unidade demonstrativa da iniciativa está instalada na propriedade de um produtor rural familiar no Sítio Malhada, no Crato, região do Cariri.
De acordo com o presidente do órgão, Inácio Mariano da Costa, o projeto tem como objetivo implantar unidades produtivas de Spondias, além da preservação do meio ambiente e proteção do solo com a introdução de espécies nativas da caatinga.
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“Em resumo, a proposta é recaatingar o Ceará. Técnicos da Ematerce já foram capacitados. No mês de julho, já foi implantada uma unidade demonstrativa de umbu gigante no Cariri. Através do Recaatingamento, projeto do Governo do Ceará, as regiões receberão 200 mil mudas, que serão distribuídas gratuitamente aos agricultores”, comenta.
Em entrevista à rádio O POVO CBN Cariri, o responsável técnico pelo projeto, João Adriano Pinheiro,detalhou que esse programa veio para alavancar a recuperação das terras devastadas. As spondias, conforme ele, contribuem positivamente para o reflorestamento no bioma por serem nativas da Caatinga.
“É uma planta sagrada desse sertão de caatinga. Inclusive também afeta a fauna, porque existem animais que se alimentam dessas plantas”, comentou João Adriano. "A meta é que, em quatro anos, um milhão de mudas de umbu sejam plantadas por meio do projeto de reflorestamento”, disse.
O projeto já foi lançado e a licitação para aquisição das mudas para distribuição com os agricultores aguarda a assinatura do contrato pelo Governo do Estado do Ceará. Ele será desenvolvido em todos os municípios do Ceará, com exceção de Fortaleza e Eusébio.
O engenheiro agrônomo e coordenador estadual de Irrigação e Convivência com o Semiárido, Nizomar Falcão, disse que a abordagem sugere parte da visão sistêmica e integrada dos desafios da cultura.
“Essa abordagem abrangente, tanto do lado da compreensão dos desafios como do lado da definição das ações a empreender, caracteriza o esforço correspondente como um empreendimento integrado, definido como sendo um conjunto articulado de atividades visando promover o processo de desenvolvimento econômico e social, construído e apoiado em ambiente de parceria e cooperação entre sociedade e Estado”, pontua.
Uma rede de apoio para manter viva a caatinga
Para que o trabalho seja ainda mais eficaz, um grupo de apoio foi criado com outros estados. Denominado de “Rede Umbu Nordeste”, a ação designou a cada estado da região Nordeste a meta de plantar um milhão de mudas, enquanto os estados de Minas Gerais e Espírito Santo, que também possuem áreas de caatinga, terão a meta de 500 mil mudas.
Nizomar pontua que o esforço parte da urgência da implantação de projetos de resiliência climática nas comunidades rurais do semiárido. “As mudanças climáticas ameaçam a convivência confortável nas zonas rurais e urbanas, no semiárido cearense. Todavia, ainda estamos a tempo de mitigar e nos adaptarmos a elas e atenuar seus efeitos”, disse.
“Existe uma ameaça real que já afeta milhões de pessoas, especialmente com baixa disponibilidade de água por habitante, na medida em que essa região está entre uma das mais vulneráveis do planeta”, complementa o agrônomo.
Entenda melhor o que são spondias e sua importância para a mata nativa
As spondias são árvores frutíferas nativas da região Nordeste do Brasil, que consegue produzir mesmo em épocas secas, estando adaptada ao semiárido. Nizomar explica que elas começam a produzir a partir do quarto ano de vida e permanecem produzindo por aproximadamente 100 anos.
“Serve de alimento para homens, mulheres, crianças e idosos, além de suprir necessidades dos insetos e animais polinizadores e dispersores de sementes e também como forragem para animais domésticos. As Spondias servem como fonte de renda para pequenos produtores e suas respectivas famílias e produz polpas (umbu-cajá) para as populações urbanas”, pontua.
Do gênero das spondias, estão o cajá, a siriguela, o umbu e o umbu cajá. A planta está disseminada em todo o semiárido nordestino, rico em carotenóides, açúcares e vitaminas, os quais são utilizados no preparo de sucos, polpas, picolés e sorvetes, produtos de excelente qualidade e elevado valor comercial.
O agrônomo finaliza dizendo que as spondias são importantes para o bioma que abraça a região nordeste e elas estão se reduzindo drasticamente e a evolução das condições naturais contribuíram para um gradativo aumento da aridez e degradação do solo.
“Ao lado da evolução ambiental proporcionada pelas condições naturais soma-se a aceleração destes processos às ações provocadas pelo homem que, sem diretrizes norteadoras de utilização dos recursos naturais, aplica métodos extrativistas sem a consciência do tempo e do valor necessário para a recuperação daqueles recursos” ressalta.
Os danos ao meio ambiente físico e a resultante falta de condições para o estabelecimento da flora e da fauna são problemas importantes por atingirem fontes primárias da necessidade humana mais básica – o alimento. Além disso, acrescenta-se a perda de recursos biológicos, de valor desconhecido, devido à sua “insularidade” na zona semiárida.