Fazenda de 800 hectares em Crateús é ocupada por 200 famílias do MST nesta segunda, 15
A ocupação faz parte de programação em vários Estados do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra. O objetivo no Ceará é denunciar a priorização dos interesses econômicos em detrimento dos direitos das famílias atingidas pela barragem Lago de Fronteiras e a desapropriação da fazenda para construção de assentamentos
10:59 | Abr. 15, 2024
Cerca de 200 famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocuparam a Fazenda Curralinhos, localizada no município de Crateús, a 359,1 km de Fortaleza, na madrugada desta segunda-feira, 15. O espaço tem cerca de 800 hectares e está inserido no perímetro da Barragem Lago de Fronteiras, uma obra em construção pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs).
A manifestação está inserida em uma programação realizada pelo MST em vários Estados nesta segunda-feira. Além do Ceará, houve registros de ocupações em Goiás, São Paulo, Pará, Rio de Janeiro e Distrito Federal. Que se somam a outras duas áreas ocupadas no domingo (14) em Petrolina (PE) e uma área invadida na semana passada em Itabela, no extremo sul da Bahia. No total, há nove áreas invadidas pelo movimento.
A ocupação no Ceará, segundo o MST, tem como objetivo denunciar a priorização dos interesses econômicos em detrimento dos direitos das famílias atingidas pela barragem. O movimento reivindica que a Fazenda Curralinhos e os 5 mil hectares previstos para agricultura irrigada na Barragem do Lago de Fronteiras sejam desapropriados para a construção de assentamentos.
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O MST, além disso, exige orçamento do Governo Federal para que as famílias tenham acesso a seus direitos assegurados e com maior velocidade. O movimento também busca a criação de um plano nacional para o assentamento das mais de 60 mil famílias acampadas em todo o país, a garantia de uma política de crédito para as famílias assentadas, além do investimento em infraestruturas.
O movimento ainda destaca que a ação também faz parte da Jornada Nacional de Luta pela Reforma Agrária, que faz alusão ao Massacre de Eldorado dos Carajás, ocorrido em 17 de abril de 1996. Na ocasião, 21 trabalhadores sem-terra foram mortos - 19 no local e dois no hospital -, a mando de oficiais da Polícia Militar do Pará, durante manifestação em acampamento pela desapropriação de uma fazenda na região.
Jornada Nacional de Luta pela Reforma Agrária
Em 2024, a jornada nacional tem como lema "ocupar para o Brasil alimentar". O evento busca alertar a necessidade da produção de alimentos saudáveis para a população do campo e da cidade, com o objetivo de combater a forma e avançar no desenvolvimento do país.
O MST reivindica as áreas ocupadas para assentamento e reforma agrária. "As ações, sobretudo, enfatizam a importância da reforma agrária como alternativa urgente e necessária para a produção de alimentos saudáveis para a população do campo e da cidade, para combater a fome, e avançar no desenvolvimento do país, no contexto agrário, social, econômico e político. Em uma conjuntura onde o orçamento da pasta dessa política pública é por dois anos consecutivos, o menor dos últimos 20 anos", argumenta o movimento, em nota.
A ação do MST ocorre justamente às vésperas do lançamento pelo governo federal do Programa Terra para Gente para acelerar o assentamento de famílias no País que será anunciado na tarde desta segunda-feira pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, no Palácio do Planalto.
O programa é uma promessa feita no ano passado pelo presidente Lula, que quer uma "prateleira de terras" improdutivas e devolutas para destinar à reforma agrária e à demarcação para quilombolas. A tentativa do governo era frear a onda de invasões do movimento prevista para este mês.
Maior ação ocorre no Pará
Nas ocupações desta segunda-feira pelo País, a maior ação ocorre no Pará, onde cerca de 5 mil famílias invadiram a fazenda Aquidoana, no município de Parauapebas, a qual o movimento reivindica a aquisição do imóvel para estabelecer acampamento. No Distrito Federal, 1 mil famílias do MST ocupam uma área de 8 mil hectares da usina falida CBB, em Vila Boa de Goiás.
Em São Paulo, 200 famílias do movimento invadiram a Fazenda Mariana, em Campinas (SP) - área de 200 hectares, considerada improdutiva pelo movimento. Em Goiás, 400 famílias invadiram a propriedade Sítio Novo, em Itaberaí.
Entre as áreas invadidas pelo MST, estão áreas de pesquisa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), ambas ligadas ao Ministério da Agricultura, e, portanto, do governo federal.
(Com informações da Agência Estado)
Atualizada às 11h23min