Mãe de Mizael Fernandes relata adoecimento e pede júri para acusados

Leidiane Rodrigues Fernandes criticou parecer do Ministério Público, que pediu a impronúncia dos PMs envolvidos, ao entender que a morte do adolescente ocorreu em legítima defesa

Desde que Leidiane Rodrigues Fernandes descobriu que o Ministério Público Estadual (MPCE) representou pela impronúncia do policial militar acusado de matar o seu filho, Mizael Fernandes Silva Lima, de 13 anos, o seu já delicado quadro de saúde piorou.

“Eu não tenho paz para dormir não. Tudo que eu vou comer, não segura. Fico me lembrando do meu filho me chamando. É muito difícil”. Foi com voz trêmula e que constantemente dava lugar às lágrimas que Leidiane concedeu entrevista a O POVO na tarde dessa segunda-feira, 20, na sede da Rede Acolhe, da Defensoria Pública, no bairro Dionísio Torres, em Fortaleza.

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Lediane conta que era uma mulher saudável até 1º de julho de 2020. Naquele dia, por volta de 1 hora da manhã, policiais militares adentraram a casa da irmã dela, Lizangela Rodrigues da Silva Nascimento, após pedirem para fazer uma vistoria no local em busca de um foragido.

A família conta que Mizael estava dormindo em um quarto quando foi baleado e morto pelo sargento Neemias Barros da Silva. A versão do PM é de que Mizael estava armado e não obedeceu a voz de comando.

Algo que é veementemente rebatido por Leidiane, que diz que não havia arma com o seu filho. Ela ainda questiona onde foram parar o celular dele e adereços de cama que teriam sido levado pelos PMs para descaracterizar a cena do crime.

 

Leidine contou diversas passagens, tanto em casa, quanto na escola, que denotam como Mizael era querido, sereno e, até mesmo, tímido. Como a “única vez” em que ela foi chamada na escola — Mizael tinha que ir para frente da sala para enxergar a lousa, mas se recusava a usar óculos por não gostar.

Ou, então, de quando a mãe brincou que ele devia ter mais amigos adultos, por exemplo, indo a uma vaquejada. “A vaquejada mais longe que ele ia dava para ver daqui”, disse ela em um raro momento de riso durante a entrevista.

“Hoje, eu tomo remédio para a depressão, para ansiedade, para dormir e, agora, insulina”, desabafa Leidiane. “Dessa semana para cá, os remédios não estão fazendo efeito. Eu não consigo dormir. Eu escuto um carro parando, eu escuto gente chamando, eu fico naquela… Quando dá 1 hora, que foi a hora que eu soube do negócio do Mizael, já me bate um desespero, sabe? Uma agonia. Parece que eu vou acordar e vão dizer que foi só uma brincadeira”, conta.

Além da dor de perder o filho, ela ainda tem que lidar com o sentimento de injustiça: “Se fosse um filho de rico, de um barão, já tinha resolvido, mas como é um filho de um negro pobre…”. Para ela, o júri popular é uma forma de fazer Justiça não só para o filho, mas também de impedir que um outro inocente venha a ser morto em circunstâncias semelhantes.

A dor de Leidiane é ainda maior porque ela perdeu também a mãe, em 2023, e a irmã Lizangela está desaparecida desde janeiro de 2023. Inquérito policial ainda não conseguiu definir o que aconteceu com a tia de Mizael. Para além de uma irmã, Leidiane perdeu uma testemunha ocular da morte do filho, assim como uma lutadora por justiça para o adolescente.

“Ela sempre batia de frente com ele, né?”, diz Lediane, referindo-se ao sargento acusado. “Eu nunca bati de frente com ele. Eu nunca tive uma audiência com ele. Só tive uma, que foi depois que ela desapareceu, né? E é muito ruim porque você perde um filho, perde uma irmã e, com poucos dias, você perde uma mãe”.

A Defensoria, que atua como assistente de acusação, já apresentou, no último sábado, 18, seus memoriais. Dessa forma, faltam apenas as alegações finais da defesa dos PMs acusados para que a Justiça profira a sentença de pronúncia ou de impronúncia.

Além de Neemias, os soldados Luiz Antônio de Oliveira Jucá e João Paulo de Assis Silva também são réus por fraude processual. O MPCE também pediu a impronúncia deles.

Justiça está sendo restabelecida, diz advogado de PMs

Leonardo Feitosa Arrais, o advogado dos três PMs acusados no caso Mizael, disse, por meio de nota, ter recebido o pedido de impronúncia do MPCE com “naturalidade” e “senso de dever cumprido”.

Para ele, “a justiça está sendo restabelecida”. O advogado reforçou que o disparo efetuado pelo sargento Neemias ocorreu em situação de legítima defesa, já que o adolescente estaria armado e não teria obedecido ordem para largar a arma.

“Durante todo esse tempo de tramitação processual restou prejudicado policiais militares exemplares que carregam a pecha de militares acusados de homicídio e fraude processual, dificultando suas vidas no seio da sociedade por aproximadamente cinco anos. A defesa confia que a justiça será efetivada com a sentença de absolvição sumária e de impronúncia”, traz a nota.


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