Sargento da PM vira réu por homicídio qualificado pela morte do adolescente Mizael
Denúncia do Ministério Público aceita pela Justiça também implica outros dois policiais militares, investigados por fraude processual
19:47 | Jun. 09, 2022
A Justiça do Ceará tornou réu o sargento da Polícia Militar Enemias Barros da Silva pelo crime de homicídio qualificado no caso do adolescente Mizael Fernandes Silva Lima, morto em julho de 2020, aos 13 anos, durante uma operação policial em Chorozinho, a 68 quilômetros de Fortaleza. O policial foi denunciado pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) na última sexta-feira, 3. Ele também é investigado, junto com outros dois soldados da PM, pelo crime de fraude processual.
Segundo a denúncia encaminhada à Vara Única de Chorozinho, os três militares teriam interferido na cena do crime com o objetivo de dificultar as investigações. O adolescente foi morto dentro da casa de uma tia, na madrugada do dia 1º de junho, durante uma caçada que os policiais realizavam a um homem suspeito de cometer crimes no município. Os PMs teriam recebido a informação de que o criminoso estaria escondido em uma casa no residencial onde a família de Mizael morava.
Os agentes, então, cercaram a casa da tia do garoto e ordenaram que todos saíssem do imóvel. O único a permanecer na residência foi o adolescente, que estava dormindo em um dos quartos. Segundo o MPCE, ao entrar na casa, o sargento efetuou um disparo à queima roupa contra Mizael. Em seguida, ele teria impedido que a família do adolescente voltasse à residência para testemunhar o ocorrido.
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A denúncia cita que os três policiais colocaram Mizael na viatura já sem vida e o levaram para o hospital da cidade. Na sequência, eles foram à Delegacia de Polícia Civil e apresentaram uma arma de fogo que diziam estar em posse da vítima. Os militares sustentaram que o adolescente estava armado quando a Polícia entrou na casa e não teria atendido a ordem de se render, argumento utilizado como justificativa para o disparo feito pelo sargento.
A versão apresentada pelos agentes, no entanto, foi contestada por testemunhas e provas periciais. Segundo investigação da Polícia Civil, a arma que estaria com Mizael não apresentava nenhum perfil genético do garoto. A apuração também concluiu que os policiais modificaram a cena do crime —limpando e recolhendo objetos — e encaixaram a arma nas mãos de Mizael, numa possível tentativa de sustentar a versão dada na Delegacia.
Após a aceitação da denúncia, os réus terão prazo para se defenderem judicialmente. O processo seguirá tramitando na Vara Única de Chorozinho.
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