1ª Copa Quilombola de Futebol do Ceará abre programação em Caucaia

Dezenas de jogadores e torcedores se reuniram neste sábado, 28, para a 1ª edição da Copa Quilombola de Futebol do Ceará, no estádio Raimundo de Oliveira (ou Raimundão), em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza.

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Com o tema “Esporte Aquilombando o Futuro”, o torneio terá quatro chaves em quatro municípios cearenses (veja a programação mais abaixo). Participam da competição 17 times masculinos e 2 femininos, de diferentes quilombos.

Os dois vencedores de cada segmento disputarão a etapa nacional da copa, a ser realizada em dezembro em local ainda não definido.

Um dos jogadores é Antônio Eduardo, de anos 26, que atuou como lateral do quilombo Água Preta. Ele afirmou gostar de “sair do interior para vir conhecer outro local. Fica falado, você é visto. É muito especial”.

Ao lado dele, o colega de time e goleiro Joelson Francisco, 31, comenta que, antes da copa, jogava amistosos aos domingos. Por isso, está “muito orgulhoso” de participar de um evento mais estruturado. “Estar aqui é bom demais. É uma mistura de lazer e esporte”, comentou o jogador.

“É um conhecimento novo”, acrescentou Nilson Ferreira, 25, do Quilombo do Cumbe, adversário do Água Preta na primeira parte do dia. “A gente sai de casa. É minha primeira vez em Caucaia, é bom conhecer pessoas novas”.

“E é um prazer [representar o Cumbe]. Porque a gente só joga no campo que a gente tem lá. E agora, estar aqui, é muito legal. Só tenho a agradecer”.

O sentimento é compartilhado por quilombolas que participavam fora do gramado, na arquibancada. Jonathan Melo, 17, é liderança da juventude quilombola e faz parte do quilombo da Base, em Pacajus, na Grande Fortaleza.

Na visão dele, as comunidades “se sentem acolhidas e representadas” por meio da realização de uma copa. “Elas veem que estão sendo fortalecidas. A gente conhece pessoas, dialoga entre si, compartilha vivências e cuida das nossas comunidades. É muito importante para o fortalecimento cultural”, afirmou.

Jonathan contou ter “se surpreendido” com a dimensão do evento. “Pensava que ia ser algo bem mais simples, mas acolhedor. Pelo contrário, foi algo grande, surpreendente, e também acolhedor”.

Ele exemplificou isso com o fato de que os jogadores “ganharam bola, chuteira, uniforme… Foi tudo muito organizado”.

“Eu sentei ali para conversar e ouvi gente dizer ‘ah, bem que poderia ter mais’. A gente entende que as comunidades precisam dessa troca”.

“Às vezes, o movimento cultural de uma certa comunidade é tão diferente que pode acabar sendo esquecido. Quando as outras comunidades vão conhecer? A copa também é para isso”, concluiu Jonathan.

A copa é realizada pela Secretaria do Esporte do Ceará (Sesporte) com apoio da Secretaria da Igualdade Racial (Seir) e da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq).

1ª Copa Quilombola de Futebol do Ceará: como surgiu?

Zelma Madeira, secretária da Igualdade Racial do Ceará, explicou que, no dia a dia dos povos e das comunidades tradicionais, já existem organizações para momentos de lazer.

“Quilombolas, indígenas, o movimento sem terra, não vivem só de vulnerabilidade e problemas. Eles têm resistido, reinventado. E o lazer, o esporte, é algo presente na vida deles”, pontuou.

O futebol, ela acrescentou, é algo que “eles já fazem em suas comunidades. Agora, os quilombolas chegam à organização de ter um torneio, ter algo que tem apoio [governamental]. A diferença é a visibilidade”.

“As comunidades já se juntam por uma dimensão política, que é a titularidade de terras. Mas, nessa andança toda de luta para acessar políticas públicas, eles também têm que acessar esporte, lazer, essa interação entre comunidades”.

A produtora cultural Ada Caetano, 36, que ajudou na organização do evento, complementou que a expectativa é de que a copa “vire política pública”.

Ela explicou que, após o fim do campeonato, a organização fará um “mapeamento de todos os territórios, para avaliar e entender se os atletas quilombolas já receberam algum tipo de investimento”.

Os detalhes da 1ª Copa Estadual serão enviados para os municípios cearenses como sugestão, contou Ada. “Queremos que os municípios com quilombos tenham interesse em fazer parceria, criar Projeto de Lei. Para termos copas a nível territorial, em municípios”.

A produtora cultural relembrou que os quilombolas vinham na “expectativa” de ter uma copa estadual “há mais de dez anos”. “E organizamos esse evento de hoje em 25 dias. 15 dias sem dormir. A gente não queria só a copa, queria a identidade dos times, teve criação de brasão pensando em representatividade”.

Por conta do tempo, alguns elementos inicialmente previstos precisaram ser removidos da programação, disse Ada. “Teria uma abertura, uma programação artística, mas mudou conforme as necessidades”.

Para o futuro, “a gente vai se esforçar para ter mais que dois times femininos. Pela carência de oportunidades e incentivos, sentimos dificuldade em encontrar times femininos”.

1ª Copa Quilombola de Futebol do Ceará: veja times participantes

Times masculinos

• Água Preta (Tururu)
  
• Arruda (Araripe)
  
• Bom Futuro (Quixeramobim)
  
• Botoque (Pacujá)
  
• Caetanos em Capuan (Caucaia)
  
• Carnaúba (São Benedito)
  
• Conceição dos Caetanos (Tururu)
  
• Cumbe (Aracati)
  
• Evaristo (Baturité)
  
• Junco Manso (Morrinhos)
  
• Lagoa dos Crioulos (Salitre)
  
• Lagoa dos Ramos e Goiabeiras (Aquiraz)
  
• Pindoba (Aratuba)
  
• Quilombo Base (Pacajus)
  
• Quilombo Cercadão dos Dicetas (Caucaia)
  
• Quilombo dos Mulatos (Jardim)
  
• Quilombo Mearim (Quixeramobim)
  
• Quilombo Timbaúba (Coreaú e Moraújo)
  
• Sítio Antas (Aurora)

Times femininos

• Botoque (Pacujá)
  
• Conceição dos Caetanos (Tururu)

1ª Copa Quilombola de Futebol do Ceará: veja chaveamento e programação

Grupo A: sede Caucaia

A chave realizada neste sábado teve os seguintes confrontos:

• Água Preta x Cumbe
  
• Cercadão dos Dicetas x Conceição dos Caetanos
  
• Caetanos em Capuan x Base

Grupo D: sede Juazeiro do Norte

A próxima chave acontecerá no dia 11 de outubro, às 18 horas, no estádio Romeirão (Av. Pres. Castelo Branco, 4464 - Pirajá), em Juazeiro do Norte, no Cariri. Os embates iniciais serão:

• Mulatos x Sítio Antas
  
• Sítio Arruda x Lagoas dos Crioulos

Grupo C: sede Quixeramobim

Na sequência, vem a chave realizada em 12 de outubro, às 16 horas, no estádio Carneirão, no Centro de Quixeramobim, a 212,24 km da capital cearense:

• Bom Futuro x Mearim
  
• Pindoba x Serra do Evaristo

Grupo B: sede Moraújo

Por fim, a quarta e última chave ocorre em 13 de outubro, às 9 horas, no estádio O Benição (Rua Vinte e Nove de Dezembro, 418–496), em Moraújo, a 292,74 quilômetros (km) de Fortaleza.

O primeiro confronto do grupo B será Junco Manso x Batoque. O time vitorioso irá, na sequência, enfrentar Timbaúba.