Moradora de Caucaia relata situação difícil após enchente: "Precisamos de ajuda"
Moradores perderam móveis e roupas e estão em meio a lama procurando o pouco que sobrou. Há relatos de pessoas que estão dormindo em redes do lado de fora das casas. Crianças e animais estão em meio a presença de cobras e aranhas."Está lotado de água dentro das casas. Não tem como passar. É muita humilhação. Só Deus mesmo para proteger a gente". O relato é de Francisca Maria de Sousa Alves, conhecida como Rebeca, moradora da rua Pedro Alves de Menezes, no bairro Picuí, em Caucaia, Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Ela é uma das moradoras que permaneceu na própria residência após a enchente que houve na noite dessa quinta-feira, 27. Nesta manhã ela foi obrigada a ficar em meio a lama para procurar o pouco do que sobrou. Outros vizinhos dormiam em redes do lado de fora das casas.
Rebeca relata que as famílias perderam roupas, documentos, eletrodomésticos. Há crianças, animais e idosos no local, que não foram para o abrigo improvisado na Escola Municipal Antônio Miranda de Melo. Todos no meio da lama dentro de suas próprias residências. Cerca de 40 pessoas foram realocadas para abrigos, mas os moradores relatam que muitas pessoas foram para a casa de parentes e que o número de residências atingidas seja maior.
É + que streaming. É arte, cultura e história.
"A gente está precisando de muita ajuda. Aqui está cheio de água, tem crianças, muitas cobras aparecendo, caranguejeiras (aranhas). A gente precisa de apoio. É lama demais, não passa um trator para tirar os matos. As crianças todas doentes. Aparece cobra. Eu tirei muita água, enganchei as roupas nas telhas. É muito sofrimento para a gente. Isso não é para acontecer com a gente. A gente é ser humano. A gente não tem condições de comprar uma casa, um terreno. É muita humilhação aqui. As vezes eu olho e dá vontade de chorar nessa condição. É de uma ponta a outra lama demais", lamenta.
Dos 37 anos de idade, há 30 ela mora no Picuí. Rebeca relata que reside com os filhos, os dois netos e o esposo. Na quinta-feira, 27, saiu de casa, na rua Pedro Alves de Menezes, quando percebeu que a rua estava alagada. Ela resolveu ficar dentro de casa e, por volta das 17 horas, foi surpreendida pelo aumento repentino do nível da água, que chegou até a cintura.
"Eu estava em casa e meu primo estava no trabalho e quando fui lá fora lá estava cheio de água. Umas 17 horas começou a alagar tudo. Meu primo perdeu colchão, roupas, geladeira", destaca Rebeca.
O primo dela mora em outra casa, na mesma rua, e foi uma das pessoas que perdeu tudo. O rapaz, que mora com a esposa e duas crianças, nesta sexta-feira, 28, devido a enchente, não conseguiu ir trabalhar, e foi dispensado do serviço de pedreiro. "Ele trabalha de bico, não foi trabalhar e o homem não quer mais ele", descreveu.
As famílias se locomovem na rua utilizando colchões no lugar de botes. A preocupação agora também é com as doenças que essa situação pode trazer e com a tomada do lugar por cobras.
Dona Camila é proprietária de uma loja nas proximidades do local atingido. Ela guardou documentos de pessoas e tem ido até o local da enchente para deixar alimentos. A mulher afirma que é o máximo que consegue fazer por essas pessoas, que perderam tudo. A solidariedade se estende também aos animais que ela tem acolhido.
Camila relata que dezenas de moradores foram até a casa dela pedir para dormir, mas ela não teria como realocar todos. Ela afirma que há quatro anos uma criança morreu vítima de choque elétrico devido essa situação de alagamento no bairro. E diz ainda que há uma idosa, acamada, com a casa cheia de água. "Até o colchão dela está molhado e ela lá deitada, não pode andar", descreve.
Problema se arrasta por décadas
A prefeitura de Caucaia acolheu 40 pessoas na Escola Municipal Antônio Miranda de Melo. Os desabrigados receberam os primeiros socorros, colchonetes, roupas, alimentação e produtos de higiene pessoal.
O prefeito de Caucaia, Vitor Valim, esteve no local da enchente e na unidade de ensino. O gestor pontuou que esse problema se repete há mais de 20 anos e que o Picuí foi uma ocupação que cresceu de forma desordenada sem o devido trabalho de requalificação da área. Dessa forma, no período das chuvas, os níveis dos açudes aumentam e o resultado são as enchentes e os alagamentos nas casas do Picuí.
Por meio das redes sociais, Valim pediu ajuda ao governador Elmano de Freitas e ao presidente Lula para resolver a situação. Durante a visita dele, na noite dessa quinta-feira, 27, muitos moradores descreveram a situação que vivem há mais de 20 anos. A prefeitura de Caucaia informou que a Defesa Civil permanece na escola auxiliando nos trabalhos.