PM preso suspeito de sequestro e homicídio em Maracanaú foi autuado por armas irregulares
Com o soldado Francisco Ronaldo Sales, foram encontrados um revólver e uma espingarda sem registro. Militar já havia sido acusado de integrar grupo de extermínioDurante cumprimento de um dos mandados de prisão referentes ao sequestro e assassinato de Clezio Nascimento de Oliveira, de 32 anos, um soldado da Polícia Militar do Ceará (PMCE) foi preso em flagrante em Caucaia (Região Metropolitana de Fortaleza) por posse irregular de arma de fogo de uso permitido e posse de munição de uso restrito.
Com o soldado Francisco Ronaldo Sales, de 58 anos, foram encontrados seis armas de fogo, incluindo um revólver e uma espingarda calibre .36 sem registro, além de silenciadores, dinheiro falso e munições de variados calibres (fuzil 556, .40, .45 e 9mm). As informações constam no Auto de Prisão em Flagrante (APF), obtido pelo O POVO e que não detalha sobre o caso Clezio.
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O mandado foi cumprido nessa terça-feira, 28, pela Delegacia de Assuntos Internos (DAI), da Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD).
Além de Francisco Ronaldo, foram alvos da chamada operação "Alto Alegre" um outro policial militar, um ex-policial civil e uma quarta pessoa sem ligação com forças de segurança.
Os nomes dos suspeitos não foram divulgados pela CGD, assim como seus possíveis envolvimentos com o crime. O caso tramita em segredo de justiça.
Sobre as armas apreendidas, Francisco Ronaldo justificou-se, em depoimento, afirmando que o revólver era legalizado, mas, “tempos atrás”, perdeu vários documentos, incluindo o registro da arma. Ele disse que até conseguiu encontrar alguns documentos, mas, entre eles, não estava o registro.
Francisco Ronaldo também disse que não buscou regularizar o revólver porque utilizava no dia a dia outra arma. Já sobre a espingarda, ele confessou que a arma não era registrada, mas disse que só a utilizava para caçar no Interior.
Em relação às munições, o soldado disse que elas são do tempo em que ainda estava na ativa. Sobre o silenciador, Francisco Ronaldo disse que o encontrou no meio da rua e que nem sabia se o equipamento ainda funciona — o material estaria em uma pilha de "cacarecos".
Por fim, sobre o dinheiro falso, o militar disse que encontrou o dinheiro dentro de uma sacola, mas não se lembra onde. Ele disse não saber se o dinheiro era falso, mas que nunca chegou a usar as notas. Foram apreendidas quatro notas de R$ 100, nove de R$ 50 e sete de R$ 20.
Os policiais que cumpriram o mandado disseram, porém, que a eles o militar havia dito que o dinheiro teria vindo de uma apreensão que não foi apresentada a uma delegacia porque a "ocorrência não deu em nada".
Francisco Ronaldo estava afastado do policiamento nas ruas há dois anos para tratamento de câncer. No depoimento, ele disse que o 5º Batalhão da PM, para onde foi recolhido, não oferece estrutura para o tratamento da doença.
Militar foi acusado de envolvimento em grupo de extermínio
O soldado Francisco Ronaldo Sales já esteve envolvido em outro caso de violência policial de repercussão. Nos anos 2000, ele foi acusado de integrar um grupo de extermínio que prestava serviços a uma rede de farmácias.
Conforme relatório da Comissão Especial criada para apurar o caso, pelo menos seis pessoas teriam sido mortas pelo grupo, embora relatos colhidos durante a investigação apontem mais de 30 vítimas.
Entre os crimes pelos quais Francisco Ronaldo foi acusado está o assassinato do garçom Antônio Mendes de Araújo, em 2002, assassinado no bairro Presidente Kennedy após ser confundido com um homem que havia acabado de assaltar uma farmácia. Em novembro de 2015, Francisco Ronaldo foi condenado a dois anos de prisão por associação criminosa.
Sequestro e desaparecimento de Clezio
Após colocarem a vítima no carro, os supostos policiais saíram em disparada e conseguiram despistar familiares que tentaram seguir o veículo. Clezio não foi mais visto nem seu corpo, encontrado. A investigação presume que ele foi morto.
A soldado da PM Maria Aline do Nascimento Rodrigues foi presa três dias após o crime. Com ela, a Polícia Civil apreendeu o carro que teria sido utilizado na ação, que pertenceria à mãe da PM. Maria Aline foi denunciada e hoje é ré pelo crime.