Juiz vai a convento em Caucaia fazer audiência com freiras com dificuldades de locomoção

Caso aconteceu em Caucaia, onde o juiz Neuter Dantas realizou audiência com religiosas, que têm entre 80 anos e 94 anos

21:00 | Ago. 16, 2019

Caso aconteceu em Caucaia, onde o juiz Neuter Dantas realizou audiência com religiosas, que têm entre 80 anos e 94 anos (foto: Arquivo pessoal )

A humanidade do juiz Neuter Dantas beneficiou seis freiras com dificuldades de locomoção, do Convento Casa Matriz, que fica localizado em Caucaia, Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Titular da 2ª Vara de Família e Sucessões de Caucaia, ele realizou audiência que decidiu que as religiosas não precisam continuar a exercer atividades da vida civil, como idas a bancos. O magistrado contou ao O POVO Online que ficou “emocionado” com a situação das irmãs e resolveu ir até elas.

“Dentre outras matérias, cuidamos da interdição de pessoas que apresentam dificuldades para se locomover a determinados locais”, explicou Neuter. Segundo o juiz, nos últimos dias, chegou para ele o pedido de interdição das irmãs, cujas idades variam entre 80 anos e 94 anos.

A interdição é a transferência de responsabilidades de uma pessoa para uma outra gerenciar seus bens e práticas de atos da vida civil. Desta forma, portanto, a pessoa interditada fica proibida de assumir deveres em nome próprio, como movimentar conta bancária ou assinar contratos.

Como as freiras, que não tiveram seus nomes revelados, sofrem para ter se locomover, o magistrado contou que se sentiu “tocado” com o caso. “Fiquei comovido com a situação porque elas não têm filhos, já que entraram cedo no convento, e hoje também não têm pais, nem família próxima. Para elas seria muito custoso sair do convento para participar da audiência”, afirmou.

Neuter, então, disse que analisou a possibilidade de ir até o convento em que as religiosas residem para, no próprio local, realizar a audição. “Levei meu computador e fomos verificar in loco o estado delas”. Na instituição, seis audiências foram feitas, todas com resultados favoráveis à interdição das freiras. A responsabilidade legal sobre elas passou a ser da superiora do Convento Casa Matriz, Irmã Regina.

“Como temos irmãs de idade muito avançada, a gente chega nos estabelecimentos e muitas vezes eles não têm acessibilidade muito boa. Então, para evitar o deslocamento delas, entramos com o pedido”, explicou Irmã Regina. Ela destacou que, ao iniciar o processo, não esperava que o juiz Neuter fosse até o convento, “mas que compreendesse a situação”. “Ele foi muito sensível, muito humano e teve um gesto de misericórdia”, elogiou.

Superiora-geral da Congregação das Filhas do Coração Imaculado de Maria, da qual a Casa Matriz faz parte, a Irmã Maria do Disterro Rocha também engrandeceu a atitude do juiz. “Fiquei impressionada com a atitude humana do juiz, por ele ter se deslocado até a gente. Aquela ideia de que o juiz é uma pessoa fechada caiu por terra. O juiz Neuter foi formidável e demonstrou um coração muito humano”, celebrou.

O magistrado disse ter ficado “muito sensibilizado” com a história das freiras, por elas terem entrado muito cedo na carreira missionária e dedicado a própria vida à religião. “Eu realmente fiquei muito emocionado e com vontade para ir lá. Foi muito gratificante para todos nós, mas principalmente para mim”, relatou: “Foi uma experiência excelente e muito enriquecedora que pretendemos continuar a fazer.”