Aquiraz: operação da PF investiga fraude de falso cadastramento para seguro defeso

Dirigente de colônia de pescadores é investigado por estelionato e falsificação de documentos. Segundo a PF, ele estaria filiando não-pescadores para recebimento de seguro defeso em troca do recebimento de parte do benefício

O dirigente de uma colônia de pescadores no município de Aquiraz, Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), está sendo investigado por filiar pessoas, que não seriam pescadores profissionais, para recebimento indevido do seguro defeso. O benefício, pago em cinco parcelas de um salário mínimo, é pago pelo Governo Federal. Dois mandados de busca e apreensão foram cumpridos durante a manhã desta quarta-feira, 23, contra o homem que estaria descontando parte do valor em troca do cadastro irregular.

As investigações foram iniciadas após denúncia da Federação das Colônias de Pescadores do Estado do Ceará (Fepesce), que apontou a existência de possíveis falsos cadastros de pessoas que não seriam, de fato, pescadoras. Não foram indicados os valores totalizados que teriam sido arrecadados com a fraude.

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O seguro defeso é pago a pescadores artesanais, que ficam proibidos de exercer a atividade pesqueira durante o período de defeso de determinadas espécies, época em que a caça por esses animais é proibida ou controlada. O valor do benefício é fixado em um salário mínimo, hoje em R$ 1.412, e pode ser pago por cinco meses.

Segundo informações da Polícia Federal (PF), o número de filiados da colônia investigada subiu de 299, em 2018, para 545 em 2021. O número de requerimentos de seguro defeso também teria aumentado no período.

Conforme apurado pela PF, os falsos pescadores cadastrados na colônia estão enquadrados nos seguintes situações:

  1. Não exerceram a atividade pesqueira artesanal;
  2. Não têm a pesca como única atividade econômica;
  3. A atividade pesqueira artesanal, quando exercida, é irrelevante para o desenvolvimento socioeconômico do núcleo familiar, o que descaracteriza o segurado especial em regime de economia familiar.

Caso confirmadas, as irregularidades cometidas pelo dirigente podem ser enquadradas em crimes como estelionato previdenciário e falsificação de documentos, entre outros. A soma das penas para os delitos chega a 15 anos de prisão.

Batizada de "Fair fishing", a operação contra a falsificação de cadastros em Aquiraz é resultado de ação conjunta entre a PF e a Secretaria Executiva do Ministério da Previdência Social - MPS. As investigações terão prosseguimento com a análise do material apreendido nesta quarta, visando a identificação de novos envolvidos no esquema criminoso.

Defesa de dirigente alega equívoco no alvo da operação

Em entrevista ao O POVO, a defesa do dirigente alvo da operação desta quarta, 23, alegou equívoco na identificação pela Fair Fishing. Segundo Caio Benevides, advogado do atual dirigente, os crimes realmente teriam sido praticados, entretanto, por um antigo membro da instituição. O POVO opta por não citar o nome, por este não ter sido mencionado pela PF como alvo da operação.

De acordo com Benevides, o homem teria cometido os crimes na Colônia investigada pela Fair Fishing, entre os anos de 2018 e 2019. Em 2020, uma nova diretoria da organização teria assumido gestão, descoberto as práticas criminosas e afastado o responsável pelas supostas falsificações.

Este homem teria então criado uma nova colônia de pescadores em Aquiraz, a qual ele até hoje estaria usando para supostamente continuar falsificando as inscrições no seguro, conforme acusa o advogado. A defesa também pontua que ele já seria investigado pelo Ministério Público Federal (MPF) pelos crimes apontados na operação da PF.

De acordo com o MPF, que confirmou o processo contra o homem por suposta fraude em benefícios para pescadores, "a investigação na qual a ação se baseia apurou o uso de assinatura falsa de servidor do Ministério da Agricultura em dois documentos denominados Protocolo de Recebimento do Formulário de Solicitação da Licença de Pescador Profissional, em 16 e 17 de setembro de 2020".

Questionada sobre a ciência de uma segunda colônia de pescadores em Aquiraz e o possível erro de identificação do alvo, a PF afirmou não comentar casos em investigação.

Sobre o cadastro de pescadores, Benevides alega que cada filiado assina uma autodeclaração de pertencimento à categoria. O documento é emitido por cada membro e apresentado ao Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), ato sem qualquer vinculação com a colônia.

"Quando uma pessoa chega na colônia, ela faz uma autodeclaração, que é exigência do INSS e dos próprios órgãos responsáveis, afirmando que é pescador. Não tem como o presidente da colônia ou qualquer outro sindicato fazer esse controle porque os órgãos reguladores pedem essa autodeclaração", comenta o advogado, que também descarta a responsabilidade da colônia sob a fiscalização da veracidade dos documentos.

"Quando é solicitado o seguro defeso, é via INSS, via administrativa, e o próprio INSS faz a análise se a pessoa é pescadora ou não. Quem emite os documentos dos pescadores não é a colônia. Existe um documento para pescadores que é o Registro Geral de Pesca. Esse documento pode ser emitido por qualquer pessoa", conclui Benevides.

Atualizada às 19h30min

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